São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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BASQUETE

Coração partido

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Uma revolução murchou em 4 de março de 1990, quando Hank Gathers dobrou o tronco, apoiou-se nos joelhos e tombou para trás, inconsciente.
O time da Loyola Marymount encantava a torcida de Los Angeles e intrigava os basqueteiros do mundo todo naquela temporada.
Em 90% das partidas, seu ataque ultrapassava a casa centenária, marca espantosa em se tratando de um jogo de 40 minutos.
Frenético, nem cogitava trabalhar a bola. A ordem era marcar pressão e chutar na primeira chance, de três pontos se possível. Usava em média só 15 segundos de posse de bola para arriscar à cesta, metade do permitido.
(Dizem que o técnico Paul Westhead, fascinado pelo surpreendente desenrolar do Pan de Indianápolis-87, chupou o estilo camicase e ao mesmo tempo lógico de Oscar, Marcel e Ary Vidal.)
Uma "heresia" que, legitimada pelos sucessivos títulos regionais e pelo melhor resultado da universidade no torneio nacional da NCAA (caiu nas oitavas-de-final diante da UNLV, que se sagraria campeã), só fazia enfurecer ainda mais os treinadores conservadores, aqueles que insistem em tentar amestrar o jogo como se este fosse um teatro de marionetes.
Quem teve a sorte de testemunhar os californianos apostarem corrida contra a LSU do calouro Shaquille O'Neal jamais vai se esquecer. Uma eletrizante vitória de 148 x 141 na prorrogação (é isso mesmo, 148 x 141!). Eu me lembro até dos quatro saquinhos de doritos que me escoltaram na frente da televisão, em Washington.
Gathers era o astro do time. Marcou 48 pontos naquela noite -o jovem Shaq parou em 21.
Nascido na Filadélfia, o ala canhoto de 2,02 m vinha de uma temporada fabulosa, com médias de 32,7 pontos e 13,7 rebotes, um dos três únicos da história a liderar a NCAA nas duas estatísticas.
Loyola Marymount avançava tranqüila no qualificatório do torneio de 1990 quando recebeu o time de Portland na quadra do Gersten Pavilion. Nem o estado de saúde do craque preocupava.
Em dezembro, Gathers havia desmaiado durante uma partida. Embora os exames tivessem constatado uma arritmia cardíaca, o ala faltou a apenas duas rodadas. Os médicos receitaram-lhe alguns comprimidos e bola para o alto que o jogo é de campeonato.
Quatro meses depois, a bola de fato subiu. A camiseta 44 voou e fechou um contra-ataque com uma enterrada espetacular. Mas, no retorno para a defesa, tão logo recebeu os tapinhas dos colegas pelo lance, ela desabou no chão.
Uma hora e 40 minutos depois era anunciada a morte do atleta de 23 anos que se aprontava para as fortunas da NBA -e a do basquete superofensivo, que nunca mais teve outra oportunidade.
A imprensa apurou que Gathers sofria de cardiomiopatia hipertrófica. Que ele tinha um coração inchado pela doença -o mesmo mal do zagueiro Serginho, do São Caetano. E que a Loyola Marymount havia desconsiderado (ou abafado) o diagnóstico.
A viúva acionou os advogados. Lá, a justiça não tardou. Fez-se na forma de uma indenização de US$ 2,4 milhões. E aqui?

Pulso 1
Ainda sem time no Nacional, Janeth não pára de colecionar títulos. A equipe mirim de sua escolinha, com sede em Santo André, venceu o playoff contra o São Caetano e faturou o Paulista feminino. O projeto também vai buscar a taça da categoria míni, contra Americana.

Pulso 2
Karina, que aceitou o convite do Uberaba e volta às quadras depois de dois anos, também marca pontos com um projeto social: mais de 3.000 crianças basqueteiras em cinco cidades paulistas (Campinas, Jaguariúna, Amparo, Pedreira e Santo Antônio de Posse).

Pulso 3
Paula e Branca dão o "Passe de Mágica" a cem alunos em Piracicaba.

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