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FÁBIO SEIXAS
Dias piores virão
Como no futebol, ação de
empresários no kart afeta
formação de pilotos e pinta
um cenário triste nas pistas
DÁRCIO DOS Santos é do tipo
que esmurra ponta de faca. E
adora. Aos 48, é o único remanescente do início da F-3 sul-americana. Começou na categoria
como piloto, quando ainda era F-2.
Conquistou o Brasileiro, ajudou na
formação do sobrinho, Rubens Barrichello, pulou o balcão, tornou-se
dono de equipe. Por sua oficina, ao
lado do kartódromo de Interlagos,
passaram nomes como Max Wilson,
Bruno Junqueira, Duda Pamplona...
Viveu os dias de auge da F-3, com
transmissão pela TV, corridas em
três países e com o envio, todo ano,
de pilotos prontos para a Europa.
Enfrentou, também, tempos árduos. Como o atual, com a falta de
divulgação, de patrocinadores, de
apoio da CBA e dos promotores.
Por carregar essa experiência, carrega também esperança. Acha que o
momento é passageiro. No ano passado, conta, eram apenas 12 carros
no grid. Em 2007, são 17. As coisas
estão melhorando, afirma Dárcio.
Sua preocupação, a maior delas,
vai além do seu quintal. É conjuntural. Como este colunista, como qualquer um que acompanha minimamente o automobilismo, acredita
que, num futuro próximo, o Brasil
não terá mais pilotos na fila para
correr na F-1, na IRL, na GP2, enfim,
nos principais campeonatos de monopostos mundo afora. Ninguém.
Mas Dárcio não culpa o crescimento da Stock Car, a quase inexistência das federações ou a ociosidade da confederação. Tem uma outra
explicação, cheia de lógica.
Segundo ele, o mal que tanto corrói e abala outros esportes, notadamente o futebol, a ponto de ter sido
citado por Joseph Blatter na cerimônia de terça-feira, também atrapalha o automobilismo brasileiro.
Resume assim: "Virou uma mania
esse negócio de empresário".
Cada vez mais, relata, empresários
visitam o kartódromo atrás de garotos. E, principalmente, atrás de pais
endinheirados. Convencem-os a
mandar os filhos para a Europa, em
categorias como F-BMW e F-Renault, com treinos limitados e agenda rígida. Sem chance de aprender, a
meninada fracassa, fica mal. Volta
ao Brasil dois anos depois, para tentar a Stock ou desencanar de vez.
"Uma das vantagens da F-3 é que
os treinos são ilimitados. Se o garoto
quiser rodar 8.000 km, pode. Antigamente, eles saíam daqui sabendo
acertar uma suspensão, fazer um
punta taco, mexer numa asa. Lá, eles
não têm isso. Chegam crus, quebram a cara, voltam desiludidos."
É bom falar com quem conhece.
Quem não conhece
Exatos dez dias depois do GP
Brasil, a Federação de Automobilismo de São Paulo usou pó de cimento, quarta-feira, para tentar
absorver óleo derramado no novíssimo asfalto de Interlagos. Uma
obra que consumiu R$ 5,8 milhões.
Os pontos afetados, o final da Reta
Oposta e o Bico de Pato. Ficou um
lixo. As fotos estão no www.fabioseixas.folha.blog.uol.com.br.
fseixas@folhasp.com.br
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