São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Dias piores virão

Como no futebol, ação de empresários no kart afeta formação de pilotos e pinta um cenário triste nas pistas

DÁRCIO DOS Santos é do tipo que esmurra ponta de faca. E adora. Aos 48, é o único remanescente do início da F-3 sul-americana. Começou na categoria como piloto, quando ainda era F-2. Conquistou o Brasileiro, ajudou na formação do sobrinho, Rubens Barrichello, pulou o balcão, tornou-se dono de equipe. Por sua oficina, ao lado do kartódromo de Interlagos, passaram nomes como Max Wilson, Bruno Junqueira, Duda Pamplona...
Viveu os dias de auge da F-3, com transmissão pela TV, corridas em três países e com o envio, todo ano, de pilotos prontos para a Europa.
Enfrentou, também, tempos árduos. Como o atual, com a falta de divulgação, de patrocinadores, de apoio da CBA e dos promotores.
Por carregar essa experiência, carrega também esperança. Acha que o momento é passageiro. No ano passado, conta, eram apenas 12 carros no grid. Em 2007, são 17. As coisas estão melhorando, afirma Dárcio.
Sua preocupação, a maior delas, vai além do seu quintal. É conjuntural. Como este colunista, como qualquer um que acompanha minimamente o automobilismo, acredita que, num futuro próximo, o Brasil não terá mais pilotos na fila para correr na F-1, na IRL, na GP2, enfim, nos principais campeonatos de monopostos mundo afora. Ninguém. Mas Dárcio não culpa o crescimento da Stock Car, a quase inexistência das federações ou a ociosidade da confederação. Tem uma outra explicação, cheia de lógica.
Segundo ele, o mal que tanto corrói e abala outros esportes, notadamente o futebol, a ponto de ter sido citado por Joseph Blatter na cerimônia de terça-feira, também atrapalha o automobilismo brasileiro. Resume assim: "Virou uma mania esse negócio de empresário".
Cada vez mais, relata, empresários visitam o kartódromo atrás de garotos. E, principalmente, atrás de pais endinheirados. Convencem-os a mandar os filhos para a Europa, em categorias como F-BMW e F-Renault, com treinos limitados e agenda rígida. Sem chance de aprender, a meninada fracassa, fica mal. Volta ao Brasil dois anos depois, para tentar a Stock ou desencanar de vez.
"Uma das vantagens da F-3 é que os treinos são ilimitados. Se o garoto quiser rodar 8.000 km, pode. Antigamente, eles saíam daqui sabendo acertar uma suspensão, fazer um punta taco, mexer numa asa. Lá, eles não têm isso. Chegam crus, quebram a cara, voltam desiludidos." É bom falar com quem conhece.

Quem não conhece
Exatos dez dias depois do GP Brasil, a Federação de Automobilismo de São Paulo usou pó de cimento, quarta-feira, para tentar absorver óleo derramado no novíssimo asfalto de Interlagos. Uma obra que consumiu R$ 5,8 milhões. Os pontos afetados, o final da Reta Oposta e o Bico de Pato. Ficou um lixo. As fotos estão no www.fabioseixas.folha.blog.uol.com.br.


fseixas@folhasp.com.br

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