São Paulo, terça, 2 de dezembro de 1997.



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JUCA KFOURI
A Terra é azul?

Bom dia! Tomara que quando você estiver lendo estas mal-traçadas linhas o Cruzeiro já seja o novo campeão mundial de clubes.
Tomara que a bobagem da diretoria tenha dado certo e que os craques alugados tenham jogado bem, até decidido o jogo.
Tomara mesmo que os quatro estranhos no ninho não tenham quebrado o espírito de quem se acostumou a confundir a camisa azul estrelada com a própria pele.
Tomara!
É evidente que a conquista seria ainda mais saborosa se fosse autenticamente cruzeirense, sem os artifícios que causaram justo espanto e protesto dos alemães do Borussia Dortmund.
E que os símbolos da vitória mais difícil, a da Libertadores da América, não sejam esquecidos e possam ser tratados também como campeões mundiais, caso, para ficar só num jogador, do capitão Wilson Gottardo.
De resto, por despeito ou rigidez exagerada, sempre haverá quem conteste o título, quem o trate apenas como uma simples taça promocional, com desdém.
Mas isso é o de menos.
Esse é o único título que falta (faltava, queira o deus dos estádios se não estiver muito magoado com a estratégia cruzeirense) ao futebol mineiro desde que, na escalada iniciada por Tostão e companhia em 1966, ao ganhar a Copa Brasil do Santos de Pelé, Minas entrou definitivamente no mapa do futebol brasileiro.
Em 1971 o Galo do Rei Dadá ganhou o Brasileiro; em 1976 o Cruzeiro de Joãozinho trouxe sua primeira Libertadores para, 20 anos depois, tirar do Palmeiras a Copa do Brasil dentro do Parque Antarctica, ser bi sul-americano neste ano e... tchan, tchan, tchan, tchan, pintar a Terra de azul, como disse o primeiro cosmonauta, Iuri Gagarin, e repetiu o Grêmio em 1983.
O futebol paulista por quatro vezes, duas com o Santos e outras duas com o São Paulo; o carioca e o gaúcho uma vez cada, com Flamengo e Grêmio, e, agora, o mineiro com o Cruzeiro -para provar, oxalá, que sete não é conta de mentiroso.
Que tudo tenha dado certo, enfim, e que todos tenham aprendido uma singela lição: ganhar a qualquer preço é sempre constrangedor, acaba não valendo tanto a pena quando não acaba em derrota, que o digam o nosso Guga e a mal-educada torcida paulista que transformou a quadra de tênis do Ibirapuera em um estádio de futebol.



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