São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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FUTEBOL

Ex-atleta critica intervenção enquanto sua empresa trata com Teixeira

Pelé adota tom conciliador para tentar acerto com CBF

DO PAINEL FC E
DA REPORTAGEM LOCAL

Com vistas a acertar um contrato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Pelé adotou um discurso contemporizador em relação ao presidente da entidade, Ricardo Teixeira.
"O Brasil é um país democrático. Tudo pode ser acertado conversando. Por mais bandido ou corrupto que um dirigente seja, não se pode tirá-lo do cargo à força", disse o ex-jogador em entrevista posterior à inauguração da exposição ""Pelé - A Arte do Rei", anteontem à noite, em São Paulo.
Ele também disse não crer em uma intervenção do governo na entidade esportiva, o que poderia causar uma punição por parte da Fifa, entidade com sede na Suíça que gere o futebol mundial.
""Acho difícil uma punição da Fifa. O Joseph Blatter [presidente da Fifa" veio aqui especialmente para homenagear o futebol brasileiro. Não ia prejudicar o país."
Pelé tem adotado uma postura conciliatória. De um lado, tem de apoiar as iniciativas do governo, afinal, já foi integrante dele.
Um exemplo disso é que, anteontem, ele foi o cicerone da visita à mostra do Masp para um de seus sucessores no cargo de ministro do Esporte, Carlos Melles.
Por outro lado, porém, o ex-jogador não pode se opor frontalmente com Teixeira porque sua empresa está interessada em ser agência de marketing da CBF.
Com a iminência da saída da multinacional norte-americana Nike do papel de agenciadora de partidas da seleção, abriu-se o espaço para a Pelé Pro, empresa de marketing esportivo de propriedade de Pelé, assumir esse vácuo.
Suas chances são ainda maiores porque sua concorrente direta, a Traffic, afirmou estar fora do páreo. A Traffic, uma sociedade entre o empresário brasileiro J. Hawilla e o fundo HMTF, foi a agência da CBF durante os primeiros anos de Teixeira na presidência.
Assumindo o papel, a Pelé Pro negociaria os direitos de imagem, publicidade, bilheteria e marketing dos amistosos da equipe nacional, função que desde 2000 estava nas mãos da CBF.
A Folha publicou anteontem reportagem apontando que as negociações entre CBF e Pelé Pro ainda estariam em estágio inicial, mas chances de o negócio se concretizar são muito boas.
Ainda falta à CBF acertar as últimas alterações de seu contrato com a Nike, que passará a ser apenas fornecedora oficial do uniforme da equipe.
Quando o novo acerto for firmado, a CBF irá recuperar o direito de negociar os jogos da seleção, mas perderá 25% do que teria a receber pelos dez anos de parceria com a empresa -dos US$ 160 milhões previstos, passaria a ganhar US$ 120 milhões.
De qualquer forma, Pelé se disse frustrado pelo fracasso do calendário quadrienal acordado entre ele, dirigentes esportivos, clubes e governo federal. ""É uma frustração. Foi um pacto que reuniu muita gente, mas algumas pessoas não entenderam muito bem a intenção", disse o ex-jogador.
Protagonista da exposição no Masp, Pelé voltou a seu discurso social, falando das ""criancinhas", seu tema principal desde o milésimo gol, marcado em 1969.
De tabela, criticou o governo do qual participou. ""Acho que vou ter 90 anos e ainda o problema da criança não vai estar resolvido. O problema é o mesmo desde 1969", declarou. (JOSÉ ALBERTO BOMBIG E RODRIGO BERTOLOTTO)


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