São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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TOSTÃO

Sabem muito e conhecem pouco


Como em todas as atividades, o bairrismo, o corporativismo e o preconceito fazem parte também do futebol

QUANTO MAIS o mundo fica globalizado, mais caem as fronteiras físicas e afetivas, mais diminui o desejo de participar e de competir por uma nação e mais as pessoas sonham em ser cidadãos do mundo. Paradoxalmente, aumenta o orgulho de fazer parte de seu bairro, de sua cidade e de seu Estado.
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,/ mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,/ porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia." (Fernando Pessoa)
O bairrismo, o sentimento de olhar somente para o que está em sua volta, é conseqüência também da força dos patrocinadores, do poder político e do fato de as grandes mídias terem suas sedes nos Estados mais fortes.
O bairrismo se associa e se confunde ainda com a falta de conhecimento de muitos profissionais sobre o que ocorre em outros lugares.
Ao mesmo tempo que existe uma enorme facilidade para obter informações, de se comunicar instantaneamente com o mundo e de ser compreendido nos nossos desejos pelo amigo Google -informações que podem servir para aprofundar os conhecimentos e trazer infindáveis benefícios-, a maioria apenas lê e repete informações, muitas vezes inúteis. Não sobra tempo para refletir e saber detalhes do que é mais importante.
Sabem muito e conhecem pouco. O conhecimento não é apenas informação.
O bairrismo costuma estar associado ao corporativismo. As pessoas se relacionam por atividades afins, seja trabalhando em uma mesma empresa ou em lugares diferentes que tenham o mesmo dono.
Como os grandes engolem os pequenos, aumenta progressivamente o número de pessoas que fala, gosta e elogia as mesmas coisas. O ser humano é cada dia menos livre nas suas escolhas.
Ainda bem que existem tantos profissionais sérios, competentes, independentes e que têm um olhar mais amplo.
Uma das qualidades da sociedade americana -dizem que é a única- é a de valorizar e de dar oportunidades a todos os que possuem talento, sejam de onde forem.
Muitos torcedores e jornalistas esportivos fora de Rio e São Paulo reclamam de preconceitos e de bairrismo de paulistas e cariocas. Esses protestos são conseqüência de fatos e outras vezes de bairrismo dos que chamam os outros de bairristas.
Alguns profissionais preconceituosos, de todas as áreas, acham que o conhecimento é sempre maior nos Estados mais ricos e poderosos.
Há ainda o preconceito e o bairrismo ao contrário.
Muitos, com medo de serem chamados de bairristas e de preconceituosos contra homossexuais, estrangeiros, outros grupos e contra profissionais de Estados menos poderosos, deixam de criticá-los e passam a elogiá-los exageradamente. Com isso, fazem ainda uma média e aumentam a audiência.
Não é fácil ser imparcial.
Se você prefere alguém de seu Estado a alguém de outro, é chamado de bairrista. Se você elogia demais alguém de outro Estado, é por fazer média.
Não dá para agradar a todos. Duvide dos que consigam.


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