São Paulo, segunda, 3 de março de 1997.

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A hora da virada está próxima, gente

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Luizão ou Viola? Escolha um dos dois, qualquer um, e escale no ataque do Santos, no lugar, digamos, de Alexandre.
Agora, feche os olhos e reveja o clássico de ontem. Por certo, a história seria outra.
Sim, porque, bola rolando, o Santos tomou conta do jogo, mas não tinha contundência.
Bastaram, porém, duas estocadas de Viola, e, pronto, o Palmeiras demarcou sua superioridade. Resultado: 2 a 0, embora os gols tenham sido marcados por dois médios -Galeano e Marquinhos.
Mas é como aquela história de dois pugilistas que se equivalem tecnicamente. Um, porém, tem pegada forte; o outro não. Quem vai beijar a lona, no final?

A cirúrgica radiografia do futebol brasileiro, em série inédita da Folha, encerrou sua primeira semana ontem com chave de ouro: o resultado da pesquisa do Datafolha junto aos torcedores paulistanos equivale à soma de todos os artigos do Matinas, do Juca, dos ilustres convidados que habitualmente frequentam esta pequena área nas sextas-feiras, do mestre Armando Nogueira, do Sérgio Noronha, enfim, da mídia que pensa, além de informar.
Para mim (permitam-me a imodéstia que não passa de mera constatação histórica), que há mais de 20 anos levantei essa bola num estádio lotado de preconceitos, soa como um suspiro de alívio: afinal, não estamos sós.
Somos, agora, nós, o povo e as leis do mercado contra meia dúzia de cartolas superados, que se agarram desesperados às velhas estruturas do futebol brasileiro.
A hora da virada está próxima, gente.
PS: Refiro-me, claro, à modernização do futebol, com os clubes-empresas e um calendário racional e cosmopolita.

A propósito, a eleição da Copa do Brasil como líder na preferência popular reforça a tese de que não somos um país de turno e returno.
O mata-mata é o sistema mais próximo do anseio do nosso torcedor, que desenvolveu, em função da história dos clubes brasileiros, uma cultura peculiar em relação, por exemplo, ao europeu.
Pelo menos, foi o que até agora nossos iluminados cartolas puderam oferecer como alternativa.
E seu apelo está na expectativa da decisão permanentemente acesa, a cada rodada, a antítese das fórmulas adotadas costumeiramente, com longos períodos de jogos inconsequentes.
Mas longe está do ideal, por exemplo, para um Campeonato Brasileiro disputado ao longo de seis/sete meses, digamos, pois o mata-mata é para torneio de tiro curto.
Se a virtude está no meio, a solução também: entre o turno-returno e o mata-mata, está uma fórmula mágica, que mantém denso o clima de decisão por um longo período -dividam-se os 16 clubes em grupos de 4, que jogam entre si; os campeões dos grupos disputam o título do primeiro turno, do segundo e do terceiro (quantos couberem, com folga no calendário). Por fim, a grande decisão entre os campeões dos turnos. Ou a sagração de um só, se este for o vencedor de todos os turnos.
(Ah, sim, para formação dos grupos, antes de cada turno, sorteio).

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