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SONINHA
Sexo, drogas e automóveis
É na cultura de consumismo,
irresponsabilidade, vaidade e
agressividade que nascem,
crescem e aparecem os ídolos
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SÁBADO DE madrugada em São
Paulo dá medo.
Nos becos da periferia, nas
calçadas desertas cercadas de muros
altos nos Jardins? Pode até ser, mas
não é nisso que estou pensando agora, e sim no ""leito carroçável" das
ruas e avenidas.
Seja no Capão Redondo ou na avenida Brasil, homens jovens (ou nem
tanto) circulam com uma pressa
desgraçada em seus carros de vidro
escuro, incautos e ameaçadores.
Aceleram agressivamente, apesar
do sinal fechado logo adiante. Jogam o carro para um lado e para o
outro em movimentos bruscos, impaciente demais para andar reto. No
tão aguardado dia de lazer, padecem
de um desespero insuportável. Não
curtiriam melhor a noite, a música e
a gata se andassem mais devagar?
Deveria ser difícil arranjar uma
garota quando se dirige desse jeito.
Eu teria pavor de entrar no carro,
mas tem quem goste de sobressaltos
ou tenha receio de dizer não por vários motivos, como o medo de terminar o fim de semana no 0 a 0.
E se no começo da noite o asfalto é
perigoso, no fim é pior ainda, com álcool, energéticos, farinha e ""doces" a
prejudicar ainda mais o juízo.
O mais bizarro é que não é exatamente a busca ensandecida de prazer que move essa turma.
A balada às vezes é sinônimo de
tédio, e seria muito mais prazeroso
voltar para casa e dormir. Mas a necessidade básica é aparecer, impressionar se for o caso, o tédio vira pose.
E dirigir feito doido, encher a cara
e catar umas minas são requisitos
indispensáveis para ser o tal. Uns fazendo tipo para os outros.
Nesse mundo de códigos infelizes,
nessa cultura de consumismo, irresponsabilidade, narcisismo e agressividade, nascem, crescem e aparecem os ídolos do futebol.
Aparentemente, são os modelos
imitados pelos garotos, mas também eles estão imitando alguém. E
volta e meia um astro se deixa filmar
ou fotografar com mulheres e parece estar mais fazendo tipo do que se
divertindo; volta e meia um arrebenta o carro de madrugada, como
tantos anônimos exibidos.
É muito intrigante que um sujeito
admirado por milhões de pessoas,
próximas ou distantes, por obra de
prodígios muito mais raros e espantosos do que pisar fundo em um carro importado, ainda queira se afirmar dessa maneira.
Mas é claro que não é racional; ele
não pensa ""preciso me impor como
macho e esse é o melhor jeito". É
mais provável que diga ""sou como
sou e vão ter de me aceitar assim".
Mentira... ""Quero ser aceito", isso
sim aceito em determinado clube, o
dos ""rebeldes" e ""independentes",
com suas regras bobas.
Mas mentir para si mesmo é uma
das trapaças mais difíceis de desfazer; por isso há detetives especializados em desvendar o truque.
Adriano, garoto que mal saiu da
favela ficou rico, tem problemas que
não é capaz de resolver sozinho.
Já é tão rodado, mas é só dois anos
mais velho que a minha filha!
Desconfio que ele precisa de algo
além de força de vontade (imprescindível), multa e bronca (bem-vindas, as duas). Agora quer ser chamado de novo de Imperador, talvez seja
bom sinal. Esse título ele ganhou jogando bola, e só sendo o maioral em
campo conseguirá mantê-lo.
Que seja mesmo o seu desejo.
soninha.folha@uol.com.br
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