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O PERSONAGEM
Leucemia move uzbeque na final de hoje no salto
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é a ginasta mais velha a
participar da Copa no Rio. É a
que alcançou a maior pontuação no ranking mundial e está
invicta nesta temporada.
Mas, apesar da longevidade e
de ser dona de um ouro olímpico, Oksana Chusovitina, 28,
disputa hoje as finais do salto e
das paralelas assimétricas com
dois desafios que vão além do
currículo: um dentro do Riocentro, que é vencer mais uma
vez sozinha -rompida com
sua técnica, ela é a única atleta
do Uzbequistão na Copa-, e
outro fora, quando irá usar o
prêmio no tratamento do filho,
Alisher, 4, que tem leucemia.
"Participo das competições
por mim e, em especial, por
ele", disse a ginasta à Folha.
Pela primeira vez no Rio, Oksana diz que usa a etapa como
preparação para os Jogos de
Atenas e como forma de manter a luta para arrecadar recursos. Parte da meta foi cumprida
ontem, quando chegou à final
dos quatro aparelhos e assegurou US$ 960 em prêmios.
Apesar de algumas falhas (ficou em quinto lugar no solo,
em sexto nas paralelas e em oitavo na trave), ela seguiu soberana no salto. Líder do ranking
do aparelho, com 469,90 pontos, tirou a maior nota (9,425) e
hoje na final irá encarar sete rivais, cuja média de idade é 18,5
anos, entre elas Daiane dos
Santos e Daniele Hypólito.
O sucesso de Oksana, porém,
contrasta com as adversidades
que tem vivido na carreira, iniciada aos cinco anos, após descobrir o esporte na escola.
Depois de despontar com o
título mundial de solo em 91 e o
ouro olímpico por equipes em
Barcelona-92, Oksana sofreu
com o fim da União Soviética e
uma lesão no pé esquerdo. E,
mesmo após se casar, em 97, o
único motivo que a levou a deixar a ginástica foi o nascimento
de Alisher, no final de 99.
"Passei a não treinar. Mas em
2000, por curiosidade, fui ver
uns aparelhos novos, comecei a
testá-los e senti que os movimentos fluíam com leveza. Daí,
voltei", diz Oksana, que vivia
em Tashkent (Uzbequistão).
A doença
Após a volta e a atuação em
Sydney-00, o filho novamente
foi pivô da guinada na carreira
de Oksana. A descoberta da
doença e a internação de Alisher em Colônia, onde teve início o tratamento com quimioterapia, tornaram Oksana uma
mulher dividida entre seu país
e a cidade alemã e entre o papel
de mãe e a vida de de ginasta.
A luta para reunir os 120
mil necessários no tratamento
e o esforço para se manter
competitiva sensibilizaram até
a FIG, que publicou em seu site
(www.fig-gymnastics.com)
uma conta para donativos.
A situação também provocou brigas, uma delas quando
deixou o Uzbequistão para viver em Colônia em 2001, contrariando a opinião de sua técnica Svetlana Kuznetsova.
"Tinha que ficar com Alisher.
Sei que um dia a minha técnica
vai entender. Comecei a morar
numa casa de caridade para parentes de internos do hospital.
Mas precisava treinar, mostrar
para ele que estava forte", afirma Oksana, que passou a integrar a equipe Toyota Köln.
Hoje, precisando arrecadar
ainda de 10% a 20% do valor
total, ela aguarda consentimento do governo alemão para
poder defender o país. "É uma
forma de retribuir tudo o que
fizeram por mim. Hoje o Alisher já pode ficar em casa."
Ao ser questionada se pára
quando seu filho se recuperar,
Oksana diz que não e que gosta
de ser um exemplo de longevidade. Dona de seis medalhas
em Mundiais (duas de ouro) e
dos seis pódios de seu país na
Copa (2003/2004), ela parte para a quarta Olimpíada, mas pelo Uzbequistão -a Alemanha
exige que ela more mais tempo
no país para aceitá-la.
Quanto ao ouro em Atenas, é
direta: "Vou treinar muito e me
preparar para ele. Se vou ganhar, não sei, mas vou estar
preparada. Como espero estar
amanhã [hoje]".
(CCP)
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