São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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O PERSONAGEM

Leucemia move uzbeque na final de hoje no salto

DA REPORTAGEM LOCAL

Ela é a ginasta mais velha a participar da Copa no Rio. É a que alcançou a maior pontuação no ranking mundial e está invicta nesta temporada.
Mas, apesar da longevidade e de ser dona de um ouro olímpico, Oksana Chusovitina, 28, disputa hoje as finais do salto e das paralelas assimétricas com dois desafios que vão além do currículo: um dentro do Riocentro, que é vencer mais uma vez sozinha -rompida com sua técnica, ela é a única atleta do Uzbequistão na Copa-, e outro fora, quando irá usar o prêmio no tratamento do filho, Alisher, 4, que tem leucemia.
"Participo das competições por mim e, em especial, por ele", disse a ginasta à Folha.
Pela primeira vez no Rio, Oksana diz que usa a etapa como preparação para os Jogos de Atenas e como forma de manter a luta para arrecadar recursos. Parte da meta foi cumprida ontem, quando chegou à final dos quatro aparelhos e assegurou US$ 960 em prêmios.
Apesar de algumas falhas (ficou em quinto lugar no solo, em sexto nas paralelas e em oitavo na trave), ela seguiu soberana no salto. Líder do ranking do aparelho, com 469,90 pontos, tirou a maior nota (9,425) e hoje na final irá encarar sete rivais, cuja média de idade é 18,5 anos, entre elas Daiane dos Santos e Daniele Hypólito.
O sucesso de Oksana, porém, contrasta com as adversidades que tem vivido na carreira, iniciada aos cinco anos, após descobrir o esporte na escola.
Depois de despontar com o título mundial de solo em 91 e o ouro olímpico por equipes em Barcelona-92, Oksana sofreu com o fim da União Soviética e uma lesão no pé esquerdo. E, mesmo após se casar, em 97, o único motivo que a levou a deixar a ginástica foi o nascimento de Alisher, no final de 99.
"Passei a não treinar. Mas em 2000, por curiosidade, fui ver uns aparelhos novos, comecei a testá-los e senti que os movimentos fluíam com leveza. Daí, voltei", diz Oksana, que vivia em Tashkent (Uzbequistão).

A doença
Após a volta e a atuação em Sydney-00, o filho novamente foi pivô da guinada na carreira de Oksana. A descoberta da doença e a internação de Alisher em Colônia, onde teve início o tratamento com quimioterapia, tornaram Oksana uma mulher dividida entre seu país e a cidade alemã e entre o papel de mãe e a vida de de ginasta.
A luta para reunir os 120 mil necessários no tratamento e o esforço para se manter competitiva sensibilizaram até a FIG, que publicou em seu site (www.fig-gymnastics.com) uma conta para donativos.
A situação também provocou brigas, uma delas quando deixou o Uzbequistão para viver em Colônia em 2001, contrariando a opinião de sua técnica Svetlana Kuznetsova.
"Tinha que ficar com Alisher. Sei que um dia a minha técnica vai entender. Comecei a morar numa casa de caridade para parentes de internos do hospital. Mas precisava treinar, mostrar para ele que estava forte", afirma Oksana, que passou a integrar a equipe Toyota Köln.
Hoje, precisando arrecadar ainda de 10% a 20% do valor total, ela aguarda consentimento do governo alemão para poder defender o país. "É uma forma de retribuir tudo o que fizeram por mim. Hoje o Alisher já pode ficar em casa."
Ao ser questionada se pára quando seu filho se recuperar, Oksana diz que não e que gosta de ser um exemplo de longevidade. Dona de seis medalhas em Mundiais (duas de ouro) e dos seis pódios de seu país na Copa (2003/2004), ela parte para a quarta Olimpíada, mas pelo Uzbequistão -a Alemanha exige que ela more mais tempo no país para aceitá-la.
Quanto ao ouro em Atenas, é direta: "Vou treinar muito e me preparar para ele. Se vou ganhar, não sei, mas vou estar preparada. Como espero estar amanhã [hoje]". (CCP)


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