São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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Pomar holandês

Investidores da Holanda montam clube formador no Paraná para produzir atletas de técnica apurada e exportá-los para a Europa

RAFAEL REIS
ENVIADO ESPECIAL A ARAPONGAS (PR)

Há décadas, a Europa vem ao Brasil para colher o que de melhor o país produz no futebol, os jogadores. O movimento parece longe do fim, mas já apresenta variações.
No norte do Paraná, terra boa para a agricultura e de farta colheita de grãos, há uma mostra de que o velho continente não quer só o que aqui brota naturalmente.
A intenção dos holandeses que ergueram o Laranja Mecânica em Arapongas (a 375 km de Curitiba) é produzir em território brasileiro atletas que sejam atrativos para o mercado europeu, de preferência para a terra da seleção vice-campeã da Copa-2010.
A inspiração no time que disputou o Mundial de 1974 vai além do nome. Os 90 meninos de nove a 15 anos que treinam no clube são orientados a praticar, dentro do possível, o futebol total, com troca de passes e muita técnica.
"Já perdi jogos por ter que escalar o time no 4-3-3. Mas, aqui, só não posso deixar de jogar bonito", afirmou o coordenador de futebol do Laranja, Fábio da Cunha.
Segundo o dirigente, que passou por estágio de 15 dias no Feyenoord para aprender a filosofia holandesa de jogo, o clube não se importa com os resultados porque pretende trabalhar exclusivamente com formação de atletas.
Assim, pode se focar no desenvolvimento da habilidade e da técnica dos jogadores. Características que, para a cúpula do Laranja, deixam seus produtos mais atrativos.
"Queremos que os clubes conheçam nosso projeto e procurem nossos jogadores. Um dia, esperamos ter o retorno do que investimos", diz o ex-jogador Marco Plomp.
O empresário, que não falou quanto investiu no CT, vive no Brasil e é o proprietário mais presente no cotidiano do time. Ele tem como sócios Wim Jansen Jr., filho de jogador das seleções vice-campeãs da Copa de 1974 e 1978, e o ex-juiz Arie Treffers.
O Laranja possui parceria com o VVV Venlo, time da primeira divisão holandesa que será o principal receptor dos seus frutos na Europa.
Os negócios entre os clubes, no entanto, não podem ser diretos, já que a equipe paranaense atua apenas até a categoria sub-15, e as transferências internacionais só são permitidas para jogadores com mais de 18 anos.
Assim, o time de Arapongas desova suas promessas em outros clubes brasileiros -Coritiba, Cruzeiro e Avaí são exemplos. O Laranja fica com uma porcentagem dos direitos do jogador (entre 30% e 40%), que passa por um processo de amadurecimento em outra praça.
Quando fica pronto para a colheita, o atleta é negociado para a Europa. O atacante Alan, 17, está prestes a cumprir esse processo -deixará o Coritiba nos próximos meses para ser a primeira cria dos holandeses a chegar ao VVV.
O zagueiro Matheus, 17, também da base do Coritiba, não deve demorar para seguir esse caminho. Ele esteve na preparação da seleção sub-17 para o Sul-Americano, mas foi cortado por lesão.


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