São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O campeão tático


Ronaldo impressionava os técnicos europeus pela técnica, hoje impressiona os brasileiros pela visão tática

RONALDO ACABAVA de sair de campo, depois do clássico contra o Santos, pela primeira fase do Paulistão, em março. Correu, deu carrinho, marcou na linha lateral, desarmou no campo de defesa... Não deixou o campo como protagonista. Mas trabalhou... e como!
No vestiário, logo após se trocar, em tom de conselheiro, falou com Dentinho sobre sua atuação individual e coletiva. Dentinho foi o autor do gol da vitória. Em vez de passar a mão na cabeça, alertou: "Tenho 32 anos e não posso me desgastar mais do que o jogo exige apenas porque você não prestou atenção no adversário que tinha para marcar. A equipe é que vai sofrer com isso". Quem falava não o era o veterano chato. Era o craque tático.
"Mano se impressiona com Ronaldo, por não precisar falar duas vezes sobre detalhes do jogo. Contra o São Paulo, nas semifinais, Mano pediu que observasse o posicionamento dos companheiros desmarcados, numa cobrança de falta. No lance seguinte, a jogada começou em seu pé, como se tivesse sido ensaiada no treino", diz um dos integrantes do estafe corintiano.
Há 13 anos, logo depois de vender o Fenômeno para o Barcelona e contratar Marcelo Ramos para substituí-lo, o técnico do PSV, Dick Advocaat, perguntou-me: "Quem você acha que prefiro? Um jogador que trabalha para o grupo, como Marcelo? Ou alguém capaz de resolver tudo num lance, como Ronaldo?".
Antes que o jovem repórter pudesse se referir à importância tática, Advocaat revidou: "Claro que prefiro o Ronaldo".
Os técnicos da Europa se impressionavam com ele por sua incrível capacidade técnica. Na volta do futebol europeu, impressiona os técnicos brasileiros pela visão tática. Se o rival tem três zagueiros, sabe jogar em cima do líbero. Se falta espaço na área, busca o jogo na intermediária.
Quando Romário voltou do Barcelona, para o Flamengo, em 1995, consagrou o zagueiro Lima, do Fluminense, conhecido na época por impedir o Baixinho de jogar bem os Fla-Flus. São 14 anos de distância, que serviram para aumentar o êxodo e ampliar o abismo entre o jogo que se pratica no Brasil e na Europa.
Mas, quando se diz que não há zagueiro capaz de marcar o Fenômeno, a discussão passa pela maneira como Ronaldo aprendeu a jogar.
Deixe de lado por um instante a ironia do Fenômeno, que diz ficar mais bonito e mais magro a cada gol.
Deve referir-se aos comentaristas sérios que, diferentemente dos bajuladores, falam bem de quem trabalha bem, criticam os que se comportam mal. Ronaldo está jogando bem e merece ser elogiado. Está provando que pode jogar mais do que os 26% das partidas que disputou enquanto esteve à disposição do Milan.
Estar no Pacaembu hoje, para provavelmente vestir a faixa de campeão, pode ser exemplo para que outros jogadores de nível pensem em voltar. O próximo deve ser Adriano. O último foi Fred. Depois, quem sabe, Ronaldinho, Robinho...
Estar hoje no Pacaembu é exemplo para jogadores ficarem aqui. Como Dentinho, que pode aprender com ele. O jogo se aprende em países onde há cultura do futebol. Como o Brasil. Desde que os jogadores que conhecem o jogo façam história por aqui. Como Ronaldo está fazendo.

pvc@uol.com.br


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