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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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FUTEBOL

O Clube dos Cem

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Apenas seis jogadores haviam conseguido ultrapassar a marca dos cem gols no Campeonato Brasileiro. Nesta rodada de fim de semana, porém, o grupo dos goleadores centenários ganhou mais um membro.
Com o gol de cabeça marcado diante do Grêmio, Evair Aparecido Paulino passa a integrar esse clube de seletos artilheiros. Ele começou a marcar jogando pelo Guarani, nas temporadas de 1985 e 1986, mas mandou a bola às redes atuando por vários outros clubes, como Palmeiras e Vasco, onde foi campeão.
O feito de Evair merece destaque porque, pelo menos desde 1993, ele vem atuando como uma espécie de artilheiro solidário. Túlio e Serginho, por exemplo, raramente davam passes para seus companheiros. Eram artilheiros por excelência, daqueles que ficavam isolados na área, devendo simplesmente empurrar a bola para dentro do gol.
Evair não. Desde que o Palmeiras formou, em 1993, o ataque dos três E (Edmundo, Evair e Edílson), ele passou a jogar para o coletivo, transformando-se num dos mais eficientes pivôs da história recente do nosso futebol.
Em vez de ficar esperando passes e chutando para o gol de qualquer distância, ele ficou famoso por jogar de costas para as traves, procurando atrair a marcação dos zagueiros e abrindo espaços para outros fazerem gols.
Assim foi com os já citados Edmundo e Edílson (no Palmeiras), com Leandro (na Lusa) e, de novo, com Edmundo (no Vasco). E, recebendo os passes de Evair, Edmundo bateu o recorde de gols numa competição, em 1997 (aliás, o Animal, com seus 97 gols, credencia-se para ser o próximo integrante do Clube dos Cem).
Pensando mais no grupo do que em si mesmo, talvez Evair tenha perdido boas oportunidades, como, por exemplo, a de ser convocado para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Por outro lado, ganhou um espaço no coração dos torcedores dos clubes pelos quais passou e garantiu a admiração de todos aqueles que se encantam com o bom futebol. Seus belos gols, sua movimentação na área e seus passes açucarados tornaram-se uma das mais belas páginas da história do esporte nos anos 90.
Ultimamente, Evair vem se destacando por ser um andarilho, atitude típica do atleta em fim de carreira. Nas suas últimas passagens (Goiás, Coritiba e, agora, Figueirense), também notamos que o atacante já vem sofrendo o peso dos anos. Não atua em todos os jogos e, às vezes, não consegue realizar uma ou outra jogada por causa da natural limitação física. Mesmo assim, não são raros os momentos em que ele consegue surpreender, fazendo gols e jogadas que lembram o craque que todos aprendemos a admirar.
Que a cidade de Crisólia (MG) faça uma grande festa para o seu mais ilustre filho, e que as torcidas jamais se esqueçam daquele que lhes deu tantas alegrias. Não são todos os artilheiros que podem se ombrear com Roberto Dinamite, Zico, Túlio, Serginho, Dario e Romário.

Surpresas
Um time surpreendente é o Paraná, atualmente no quinto lugar. Não tem nenhuma estrela, mas joga com um afinco impressionante, marcando muito bem e correndo mais que carteiro no primeiro dia de trabalho. Já a surpresa negativa é o Grêmio, que no papel possui um time excelente. Talvez a Libertadores da América e a pressão do São Paulo sobre Tite tenham atrapalhado.

Terça-feira de cinzas
Caro leitor, esta é a última terça-feira que escrevo neste espaço, o que será bom para todos. A Folha economizará uns trocados, eu terei mais tempo para escrever uns livrinhos e você não terá que ler estas bobagens de segunda, digo, de terça. Mas não comemore muito. Eu continuo escrevendo às sextas.

E-mail torero@uol.com.br


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