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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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BASQUETE

Estranho, bizarro, extraordinário

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Como é interessante constatar que, pela primeira vez, a final da NBA reúne clubes originários da experiência mais extravagante do basquete. Tanto o San Antonio Spurs como o New Jersey Nets despontaram na ABA, a liga que inventou o arremesso de três pontos, que criou o torneio de enterradas, que consagrou Julius "Dr J." Erving, que incorporou o estilo de jogo dos playgrounds e que, até ser engolida pela arqui-rival em 1976, coloriu as quadras com bolas azul-branco-vermelhas e elementos da cultura pop (de agasalhos boca-de-sino a penteados "black power").
Saber que o sonho velado de Jason Kidd, 30, é jogar justamente ao lado do outro supercraque deste playoff, o pivô Tim Duncan, 27 -e que os Spurs, embora satisfeitos (e surpresos) com a performance de Tony Parker, já têm um projeto para contratar o armador dos Nets na temporada que vem.
Notar que o blablablá da globalização transcendeu os planos comerciais da NBA. As semifinais do campeonato incluíram dois franceses, dois alemães, um mexicano, um canadense...
Ver que um desses "gringos", o armador Emanuel Ginóbili, já arrebatou os texanos com a habilidade e a inteligência de jogo canhotas que haviam alçado a Argentina ao pódio mundial.
Perceber que, entre os coadjuvantes, encontram-se três dos mais importantes gigantes da bola-ao-cesto da década de 90. O zairense Dikembe Mutombo, 37 anos (declarados...), que espera ser reaproveitado pelo New Jersey. E os norte-americanos David Robinson, 37, que cumpre seu campeonato de despedida, e Kevin Willis, 41, o mais velho jogador do San Antonio -e da NBA.
Reparar que outro veterano, o armador Steve Kerr, 37, levantou-se do banco de reservas e provou, para o público e para a crítica, que os quatro títulos de sua carreira não surgiram do acaso. Foram sua energia e seus certeiros arremessos de longa distância que asseguraram a classificação dramática dos Spurs diante do Dallas Mavericks.
Assistir à superação do ala Stephen Jackson, que se depara agora com o mesmo time do New Jersey que o dispensou no ano passado por "deficiência técnica".
Lembrar que, para triunfar diante de uma equipe superior, os Nets precisam vencer quatro vezes neste mata-mata. Exatamente o que os representantes da Conferência Leste somaram nas quatro finais anteriores.
Imaginar que o New Jersey, sem uma verdadeira cidade-sede, teria(á?) de restringir a eventual carreata do triunfo (começo, meio e fim) ao estacionamento do ginásio, prédio perdido no vazio das rodovias do Estado.
Atentar para o fato de que os dois finalistas -assim como os outros dois semifinalistas- prestaram um serviço ao basquete ao demolir a tendência individualista da primeira fase do torneio. Sim, a partir de amanhã, você verá um jogo solidário, versátil, tático, cujas estrelas prescindem da atenção dos telescópios.
Constatar, enfim, que, mesmo na caretice da era Baby Bush, o basquete da NBA escreveu certo por linhas tortas.

Gauche 1
"Não queria que ele se aposentasse na minha gestão. Pô, Oscar, não podia ter sido daqui a dez anos?" Na homenagem da rádio CBN/Globo ao "Mão Santa", anteontem, o presidente Grego deixou escapar que não pretende deixar a CBB, que buscará nova(s) reeleição(ões).

Gauche 2
Uberlândia x Ribeirão Preto, Americana x Ourinhos. Tanto o Nacional masculino como o Paulista feminino, depois de muita ciscada, apenas referendaram a lógica dos prognósticos.

Gauche 3
Que burrice dos dirigentes programar para a mesma noite (quinta-feira) o começo das finais do Nacional e do Paulista!

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