São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007 |
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TOSTÃO O corpo não mente
HÁ 13 ANOS acompanho futebol com o técnico olhar de um analista e com o olhar de um apreciador do espetáculo. Sempre defendi e sonhei com o futebol bonito e eficiente. Sou um racional sonhador. Como diz a linguagem do futebol, é preciso jogar e não deixar jogar. Time que não marca bem não vence. Mas, para isso, não é necessário jogar feio, fazer muitas faltas nem atuar na retranca. O Grêmio marca muito, é eficiente e ofensivo. Isso ocorre porque o time pressiona o adversário e toma a bola mais próximo do outro gol. Essa postura não acontece somente pela vontade do técnico ou pela garra dos atletas. É necessário saber fazer e treinar. É prazeroso ver uma equipe organizada como o Grêmio. O Santos também é (não nesse último jogo), com um outro estilo. Há várias maneiras de jogar bem e de jogar mal; de ganhar e de perder. O Grêmio não dá espetáculo porque não tem craques, e não por causa da forte marcação e do seu estilo. Já imaginou uma equipe com Ronaldinho, Kaká e outros craques jogando como o Grêmio, sem os atletas perderem os seus talentos? Isso é possível. Essa sempre foi uma característica dos grandes times da Argentina e, recentemente, do Barcelona. A Holanda, em 1974, deu uma aula de como fazer isso. Foi uma revolução. Infelizmente, os medrosos técnicos não levaram isso em frente. Nos últimos dois anos, São Paulo e Inter, mesmo sem grandes craques, também marcavam por pressão, não deixavam o adversário jogar, eram times organizados e ofensivos e foram campeões da Libertadores da América e do mundo. Equipes modestas, como o Figueirense, têm o recurso de jogar mais atrás, atraindo o adversário para contra-atacar. Assim, o Once Caldas foi campeão da Libertadores e a Grécia, campeã da Europa. Porém não se pode confundir essa marcação defensiva com a marcação ofensiva do Grêmio. A minha crítica ao Mário Sérgio não é pela maneira de jogar do Figueirense, e sim porque ele tem a mesma postura em todos os times que dirige. Em alguns momentos do jogo, até os grandes times bastante ofensivos precisam saber jogar também no contra-ataque. No segundo gol contra o Uruguai na Copa de 70, o Uruguai estava no ataque, e o Brasil todo na defesa. Quando recuperamos a bola, eu, Jairzinho e Pelé -três atacantes- trocamos passes no campo brasileiro, e o Jairzinho foi receber a bola na intermediária do Uruguai. Temos de compreender as dificuldades dos técnicos e as suas necessidades de vitórias, mas a imprensa possui também o compromisso com a qualidade do espetáculo. Não podemos ser só adoradores e comentaristas de resultados. Não é só a violência da sociedade que tira público dos estádios; é também jogos ruins. Além da beleza coletiva e individual, podemos ainda ver o futebol (e os outros esportes coletivos) como um balé, uma coreografia, desvinculado de qualquer entendimento racional e intelectual. A emoção passa, primeiro, pelo corpo antes de chegar à consciência. O corpo fala primeiro. E o corpo não mente.
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