São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

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Mito do Brasil-58 vive em Hindas

Concentração da seleção na Suécia recebe conferências e executivos, mas mantém espírito bucólico

Referências aos jogadores brasileiros estão espalhadas pelo hotel, e quarto onde Pelé dormiu abriga foto e biografia do Rei do futebol

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A HINDAS

Se filmassem uma versão de "Em Algum Lugar do Passado" alusiva à campanha da seleção brasileira na Copa de 58, o cenário principal seria, sem dúvida, o bucólico hotel em Hindas.
O local que serviu durante quase todo o Mundial da Suécia como concentração da seleção está de pé e funcionando.
""Muita coisa mudou, claro, mas o design do prédio é o mesmo", diz Suzanne Parenius, uma das donas do estabelecimento que é chamado hoje de Hjortviken Konferens (na época, chamava-se Tourist Hotel).
O retiro da seleção campeã de 58 segue como uma espécie de resort campestre, como a cidade de Hindas, agora voltado ao mundo corporativo -hospeda eventos de empresas.
São 90 quartos sem muito luxo, mas cercados de bela paisagem, muito verde e um grande lago que rouba a cena.
A cidade de Hindas fica a cerca de 40 km de Gotemburgo, onde o Brasil atuou na primeira fase daquela Copa e nas quartas. ""Na sua matéria, você pode escrever que se pronuncia Rindos", colabora Suzanne.
Pelé, o mais ilustre hóspede da história do local, atendeu a Folha na última quinta. E pronunciou corretamente o nome.
"Uma das coisas que mais me marcaram é que em Hindas tem aquele lago bonito. E nele tinham umas meninas que faziam topless. Como sou de família muito religiosa, pensava: "Não posso olhar, porque Deus vai me castigar". Como passa o tempo, como as coisas mudam", contou Pelé, sorrindo.
O Rei também não tirou da memória o quarto que foi dele e que tem sua foto e uma biografia em sueco. ""É o 410, não é? Eu dividia ele com o Moacir ou com o Pepe [era com Moacir]."
A janela do quarto de Pelé não dá vista para o lago, e sim para o local em que a equipe treinava. Hoje, o espaço tem apenas uma cama, com cobertor azul (a cor do manto da Nossa Senhora que embalou o Brasil na final ante os suecos). Moderno, costuma receber executivos, muito raramente brasileiros, em conferências.
Mas não é só a figura de Pelé que segue intacta no hotel em Hindas após 50 anos. Para chegar ao quarto do Rei, na entrada do que seria (na prática) o primeiro andar, estão dispostas na parede fotografias de Didi, relaxando e dando autógrafos a garotos no local, de Gilmar, Vavá e De Sordi desembarcando, e de Nilton Santos, de olho em Pelé.
No lago em frente, além das mulheres desinibidas (versão contestada por quase todas as senhoras suecas ouvidas em Hindas), passeios em pequenos barcos marcaram a passagem brasileira por Hindas. Didi, em especial, passava boa parte de seu tempo ""navegando" tranqüilamente, até trocando idéias com o técnico Vicente Feola, outro que desfrutava o lago.
Muitos dos moradores de Hindas em 1958 deixaram a cidade, que não alcança 5.000 habitantes. Relatos contam que na época da Copa havia oito lojas no local. Hoje, só há uma. O número de bancos também diminuiu. À noite, praticamente não há nada para se fazer. A reportagem da Folha encontrou apenas um restaurante aberto à noite (e esse fechava às 22h).
Mas foi por isso que o Brasil ficou lá. ""Não fui mais a Hindas. É uma boa lembrança, o início da minha carreira", afirma o eterno homem do 410.


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