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Mito do Brasil-58 vive em Hindas
Concentração da seleção na Suécia recebe conferências e executivos, mas mantém espírito bucólico
Referências aos jogadores brasileiros estão espalhadas
pelo hotel, e quarto onde Pelé dormiu abriga foto e
biografia do Rei do futebol
RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A HINDAS
Se filmassem uma versão de
"Em Algum Lugar do Passado"
alusiva à campanha da seleção
brasileira na Copa de 58, o cenário principal seria, sem dúvida, o bucólico hotel em Hindas.
O local que serviu durante
quase todo o Mundial da Suécia
como concentração da seleção
está de pé e funcionando.
""Muita coisa mudou, claro,
mas o design do prédio é o mesmo", diz Suzanne Parenius,
uma das donas do estabelecimento que é chamado hoje de
Hjortviken Konferens (na época, chamava-se Tourist Hotel).
O retiro da seleção campeã
de 58 segue como uma espécie
de resort campestre, como a cidade de Hindas, agora voltado
ao mundo corporativo -hospeda eventos de empresas.
São 90 quartos sem muito luxo, mas cercados de bela paisagem, muito verde e um grande
lago que rouba a cena.
A cidade de Hindas fica a cerca de 40 km de Gotemburgo,
onde o Brasil atuou na primeira
fase daquela Copa e nas quartas. ""Na sua matéria, você pode
escrever que se pronuncia Rindos", colabora Suzanne.
Pelé, o mais ilustre hóspede
da história do local, atendeu a
Folha na última quinta. E pronunciou corretamente o nome.
"Uma das coisas que mais me
marcaram é que em Hindas
tem aquele lago bonito. E nele
tinham umas meninas que faziam topless. Como sou de família muito religiosa, pensava:
"Não posso olhar, porque Deus
vai me castigar". Como passa o
tempo, como as coisas mudam", contou Pelé, sorrindo.
O Rei também não tirou da
memória o quarto que foi dele e
que tem sua foto e uma biografia em sueco. ""É o 410, não é?
Eu dividia ele com o Moacir ou
com o Pepe [era com Moacir]."
A janela do quarto de Pelé
não dá vista para o lago, e sim
para o local em que a equipe
treinava. Hoje, o espaço tem
apenas uma cama, com cobertor azul (a cor do manto da
Nossa Senhora que embalou o
Brasil na final ante os suecos).
Moderno, costuma receber
executivos, muito raramente
brasileiros, em conferências.
Mas não é só a figura de Pelé
que segue intacta no hotel em
Hindas após 50 anos. Para chegar ao quarto do Rei, na entrada
do que seria (na prática) o primeiro andar, estão dispostas na
parede fotografias de Didi, relaxando e dando autógrafos a garotos no local, de Gilmar, Vavá
e De Sordi desembarcando, e de
Nilton Santos, de olho em Pelé.
No lago em frente, além das
mulheres desinibidas (versão
contestada por quase todas as
senhoras suecas ouvidas em
Hindas), passeios em pequenos
barcos marcaram a passagem
brasileira por Hindas. Didi, em
especial, passava boa parte de
seu tempo ""navegando" tranqüilamente, até trocando idéias
com o técnico Vicente Feola,
outro que desfrutava o lago.
Muitos dos moradores de
Hindas em 1958 deixaram a cidade, que não alcança 5.000 habitantes. Relatos contam que
na época da Copa havia oito lojas no local. Hoje, só há uma. O
número de bancos também diminuiu. À noite, praticamente
não há nada para se fazer. A reportagem da Folha encontrou
apenas um restaurante aberto
à noite (e esse fechava às 22h).
Mas foi por isso que o Brasil
ficou lá. ""Não fui mais a Hindas. É uma boa lembrança, o
início da minha carreira", afirma o eterno homem do 410.
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