|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AÇÃO
Grande Lance
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Começaram nesta semana,
em Paris, as comemorações
do centenário da Volta da França, e um nome desponta, antes
mesmo da largada do sábado, 5
de julho: Lance Armstrong. O
americano, tetracampeão da prova, tentará façanha uma vez apenas conquistada: ser pentacampeão (o espanhol Miguel Indurain faturou os títulos de 91 a 95).
Mas, claro, como todos sabem,
Lance, 31, não será apenas penta,
terá sido o primeiro a vencer,
além de múltiplos "Tours", uma
metástase.
A saga fica ainda mais hollywoodiana quando se pensa que,
antes do câncer, detectado em 96,
Lance era só um ciclista profissional sem expressivas vitórias. Volta da França? Um sonho distante.
Mas queriam os deuses do esporte uma história mais singular.
Câncer na próstata, metástase no
cérebro e pulmões, vida por um
fio. Sobreviver parecia improvável. Voltar a competir, impossível.
As sessões de quimioterapia eram
tão fortes que várias camadas de
músculo e pele foram queimadas
e perdidas. Quase sobrenaturalmente, em 1999, os médicos declararam que Lance estava livre do
câncer. Teria que fazer exames de
seis em seis meses para o resto da
vida. Mas, por hora, estava livre.
Coube ao ciclista anunciar, meses depois, que iria voltar a competir. Muitos aplaudiram a iniciativa, mas sabiam que ele seria
apenas um cara que, tendo vencido o câncer, iria dar umas pedaladas. Em 99, já casado e pai de
um filho, estarreceu o mundo ao
vencer a Volta. Em 2000, deixou
todos boquiabertos ao ser bi. Tri e
tetra se seguiram. Claro que, se os
franceses pudessem escolher um
vencedor para o centenário, ele
não seria um texano de olhos
azuis, amigo de Bush. Mas a história dele é suficientemente comovente para que os carrancudos
franceses consigam aplaudir um
eventual pentacampeonato.
Chances existem: Lance tem o
coração três vezes maior do que o
normal, VO2 duas vezes maior do
que a média e uma cadência de
pedalada que é 20% acima da dos
demais ciclistas. Além dessas características, ele adquiriu, por
causa do cruel e penoso tratamento, um limite à dor que ultrapassa o da média. Muitos acham
que é exatamente essa forte resistência à dor que faz com que ele se
destaque dos demais.
Tanto assim que, no dia 13 de
junho, competindo em uma prova nos Alpes, Lance caiu e abriu o
braço em dois lugares. Levou vários pontos, mas se recuperou a
tempo de vencer a prova, dois
dias depois. Por causa de sua saga
hollywoodiana, Lance é hoje sinônimo de força, de sobrevivência,
de garra. Sua imagem é usada para os mais variados fins, entre
eles, o da luta pelo uso de capacetes entre profissionais -muitos
são contra o uso do equipamento,
alegando que não é tradicional,
reduz a velocidade e esquenta a
cabeça.
Uma ameaça ao penta é o alemão Jan Ullrich, vencedor em 97 e
que ficou afastado por ter sido pego por doping (ecstasy, acreditem). Mas quem, depois de vencer
um câncer, vai dar bola para um
alemão? A Volta vai de 5 a 27 de
julho e as atenções, pelo quinto
ano consecutivo, estão em Lance.
Super Surf
Depois que a Abrasp e a Abril Eventos chegaram a um acordo sobre
limpeza, trânsito e vegetação, com a Sociedade de Amigos, começou
ontem em Itamambuca, Ubatuba, SP, a terceira etapa do Brasileiro.
Alpinismo
Faltou espaço no Clube Alpino Paulista para a palestra de João Garcia, que fez o cume do Everest (sem oxigênio) em 99. Ele teve as extremidades dos dedos e nariz amputados ao tentar resgatar um colega.
Mundial de skate
Começa amanhã na República Tcheca a perna européia que segue
para a Inglaterra e a Alemanha, com a presença forte de brasileiros,
inclusive entre os juízes, com Alê Viana.
E-mail sarli@revistatrip.com.br
Texto Anterior: Saiba mais: Morte de Foe ainda não foi esclarecida Próximo Texto: Futebol - Soninha: Paulistas isso e aquilo Índice
|