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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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FUTEBOL

Paulistas isso e aquilo

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Não aguento mais ser discriminada por ser paulista. Discriminada por aqueles que acham que, por ser paulista, eu discrimino os demais. "Vocês querem perpetuar o preconceito, a exclusão, a diferença entre o Nordeste e o eixo aristocrático do Sudeste", li outro dia. O motivo: demos destaque, na ESPN, ao fato de Botafogo e Palmeiras terem vencido seus últimos jogos, sem citar que o Náutico liderava isoladamente havia três semanas.
Ora, o Marília foi líder por muito tempo sem receber muita atenção. E a torcida também reclamou, com todo o direito! É justo, justíssimo, reivindicar mais atenção. Aos times de grande torcida, se dá destaque por qualquer motivo -se ganham, se perdem e se não fizerem nada também. Os pequenos nunca aparecem, a não ser como coadjuvantes. Talvez nem saibam como é bom escapar à sanha dos jornalistas que adoram escarafunchar os relacionamentos, escancarar as pequenas crises, amplificar os problemas... Se o seu dia-a-dia fosse devassado como o dos grandes, teriam saudade do tempo em que podiam só jogar, ganhar ou perder.
Mas é profundamente injusto pensar que a falta de atenção a esse ou aquele se dá por preconceito contra os de fora do "eixo".
É inegável que Palmeiras e Botafogo trazem uma graça, um interesse à Série B diferente.
O rebaixamento surpreendeu por serem times de muitas glórias -a queda da Lusa, com todo respeito ao time do meu querido avô, e do Gama, não causou tanto espanto- e por não terem sido salvos de maneira antiesportiva por essas mesmas glórias (leia-se "virada de mesa"). Caíram, coisa inimaginável outrora; será que voltam? Se não voltarem, o escândalo será muito maior do que se Náutico, Ceará, Avaí, Marília, Paulista, Santa Cruz e outros times fortes não subirem. Não subir é triste para todos, mas não precisa ser sinal de decadência. Para Botafogo e Palmeiras, dificilmente seria lido de outra maneira.
Por várias circunstâncias, os times de Rio e São Paulo são os de maior torcida no Brasil. Alguns torcedores de outros Estados reclamam dos conterrâneos que torcem por Vasco, Flamengo, Corinthians etc.; estes protestam: "Torço para quem eu quiser! O amor pelo meu time não tem fronteiras". Agora que essas torcidas gigantes já existem, alimentadas ao longo de décadas por rádio e TV, seria cruel deixar de satisfazer seus interesses. Já é difícil contentar a todas -santistas de Manaus ficaram furiosos por ver o Flamengo na Globo na hora em que o Santos jogava na Libertadores. Imagine a dificuldade para atender a grandes e pequenos...
Nunca a atenção aos menores vai ser suficiente, só que isso não tem nada a ver com preconceito.
Pode-se falar mal de São Paulo por um milhão de motivos. Da mídia de São Paulo, idem. Mas não nos discriminem, por favor. Uma das piores ofensas que se pode fazer é me identificar com uma "aristocracia". O que se define como "aristocracia" é uma elite cruel, tanto aqui como aí. Me incluam fora dessa.

Iguais
O pior é que estamos na mesma barca furada. Eu gosto mais de Recife e Olinda do que de São Paulo; lá, sempre penso: "É assim que se deve viver". Mas vejo a sujeira no Capibaribe, a selvageria no trânsito, a prepotência de uns e o desleixo de outros, como aqui, e desanimo. Chico Science, pernambucano querido, cantava: "Num dia de sol/ Recife acordou/ com a mesma fedentina/ do dia anterior". No entanto amava essa terra, como eu também amo.

Yes, I love
Digo que Alex é craque e não nego seus maus momentos. Que, para mim, não lhe negam a genialidade. Às vezes não gosto de uma crônica do Veríssimo ou de uma música dos Beatles, mas os amo assim mesmo.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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