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FUTEBOL
Paulistas isso e aquilo
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Não aguento mais ser discriminada por ser paulista.
Discriminada por aqueles que
acham que, por ser paulista, eu
discrimino os demais. "Vocês
querem perpetuar o preconceito,
a exclusão, a diferença entre o
Nordeste e o eixo aristocrático do
Sudeste", li outro dia. O motivo:
demos destaque, na ESPN, ao fato
de Botafogo e Palmeiras terem
vencido seus últimos jogos, sem
citar que o Náutico liderava isoladamente havia três semanas.
Ora, o Marília foi líder por muito tempo sem receber muita atenção. E a torcida também reclamou, com todo o direito! É justo,
justíssimo, reivindicar mais atenção. Aos times de grande torcida,
se dá destaque por qualquer motivo -se ganham, se perdem e se
não fizerem nada também. Os pequenos nunca aparecem, a não
ser como coadjuvantes. Talvez
nem saibam como é bom escapar
à sanha dos jornalistas que adoram escarafunchar os relacionamentos, escancarar as pequenas
crises, amplificar os problemas...
Se o seu dia-a-dia fosse devassado
como o dos grandes, teriam saudade do tempo em que podiam só
jogar, ganhar ou perder.
Mas é profundamente injusto
pensar que a falta de atenção a
esse ou aquele se dá por preconceito contra os de fora do "eixo".
É inegável que Palmeiras e Botafogo trazem uma graça, um interesse à Série B diferente.
O rebaixamento surpreendeu
por serem times de muitas glórias
-a queda da Lusa, com todo respeito ao time do meu querido
avô, e do Gama, não causou tanto
espanto- e por não terem sido
salvos de maneira antiesportiva
por essas mesmas glórias (leia-se
"virada de mesa"). Caíram, coisa
inimaginável outrora; será que
voltam? Se não voltarem, o escândalo será muito maior do que se
Náutico, Ceará, Avaí, Marília,
Paulista, Santa Cruz e outros times fortes não subirem. Não subir
é triste para todos, mas não precisa ser sinal de decadência. Para
Botafogo e Palmeiras, dificilmente seria lido de outra maneira.
Por várias circunstâncias, os times de Rio e São Paulo são os de
maior torcida no Brasil. Alguns
torcedores de outros Estados reclamam dos conterrâneos que
torcem por Vasco, Flamengo, Corinthians etc.; estes protestam:
"Torço para quem eu quiser! O
amor pelo meu time não tem
fronteiras". Agora que essas torcidas gigantes já existem, alimentadas ao longo de décadas por rádio
e TV, seria cruel deixar de satisfazer seus interesses. Já é difícil contentar a todas -santistas de Manaus ficaram furiosos por ver o
Flamengo na Globo na hora em
que o Santos jogava na Libertadores. Imagine a dificuldade para
atender a grandes e pequenos...
Nunca a atenção aos menores
vai ser suficiente, só que isso não
tem nada a ver com preconceito.
Pode-se falar mal de São Paulo
por um milhão de motivos. Da
mídia de São Paulo, idem. Mas
não nos discriminem, por favor.
Uma das piores ofensas que se pode fazer é me identificar com uma
"aristocracia". O que se define como "aristocracia" é uma elite
cruel, tanto aqui como aí. Me incluam fora dessa.
Iguais
O pior é que estamos na mesma
barca furada. Eu gosto mais de
Recife e Olinda do que de São
Paulo; lá, sempre penso: "É assim que se deve viver". Mas vejo a sujeira no Capibaribe, a selvageria no trânsito, a prepotência de uns e o desleixo de outros, como aqui, e desanimo.
Chico Science, pernambucano
querido, cantava: "Num dia de
sol/ Recife acordou/ com a
mesma fedentina/ do dia anterior". No entanto amava essa
terra, como eu também amo.
Yes, I love
Digo que Alex é craque e não
nego seus maus momentos.
Que, para mim, não lhe negam
a genialidade. Às vezes não gosto de uma crônica do Veríssimo
ou de uma música dos Beatles,
mas os amo assim mesmo.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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