|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rachão
Rixa entre novatos e veteranos, críticas ao técnico e desabafo de Parreira antes do embarque ajudam a contar história do fracasso da seleção na Alemanha
EDUARDO ARRUDA
FÁBIO VICTOR
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURT
Um dia após a eliminação do
Brasil para a França, pelas
quartas-de-final da Copa do
Mundo da Alemanha, o técnico
Carlos Alberto Parreira admitiu haver um racha na seleção.
Foi a declaração mais clara
de Parreira até agora confirmando as rixas entre atletas velhos de casa e novatos, que cindiram o elenco derrotado. Em
entrevista coletiva antes de deixar o hotel em Frankfurt, o treinador concordou que não conseguiu unir o time no momento
mais importante destes seus
quatro anos como comandante.
"Nosso trabalho desde o início foi fazer com que esses talentos jogassem em equipe.
Conseguimos isso em determinados momentos, mas não conseguimos com a mesma intensidade na Copa", declarou.
Na Alemanha, ele se viu às
voltas com a insatisfação de jogadores como Kaká, Juninho,
Rogério e Ricardinho, que queriam mudanças no time. Ronaldo, Adriano, Cafu e Roberto
Carlos eram os principais alvos.
A pressão dos jogadores com
menos tempo de seleção deixou o técnico no meio de uma
queda-de-braço, pois os atletas
mais antigos, liderados por Cafu e Roberto Carlos, eram contra alterações e falavam diretamente com Parreira.
Ontem, o treinador mostrou
que pisava mesmo em ovos.
"Mexer nos medalhões sempre
é mais difícil. Mas, conforme a
necessidade surgiu, mudamos.
Fizemos isso com o Ronaldo.
Ele acabou se recuperando e
mostrou o seu talento."
Tal recuperação é questionada pelos mais novos. Eles reclamam que bastou jogar bem
contra o frágil Japão para que
Ronaldo fosse considerado reabilitado pelo chefe.
Um dos maiores sinais da crise foi dado por Rogério. Contra
a Austrália, à beira do gramado,
Parreira gritava para seu time
atacar, já que a defesa rival era
lenta. Em tom jocoso, o goleiro
disse no banco que o treinador
se esquecera da lentidão de seu
próprio ataque. Ronaldo e
Adriano estavam em campo.
Rogério e Ricardinho se
queixavam do técnico a amigos.
Atacavam a demora dele para
mexer no time, a falta de diálogo com os atletas e a proteção
aos mais experientes.
Parreira nega o tratamento
diferenciado, mas ontem defendeu Cafu e viu certo nervosismo em seu substituto. "Cicinho entrou contra a França,
porque pensávamos que poderia melhorar a equipe, mas deu
na mesma. O impacto de entrar
numa partida de Copa, nessas
condições, é muito grande."
Na avaliação de Parreira, a
forma como a seleção se despediu da Alemanha ontem, com
cada jogador indo para um canto, também foi um sinal da falta
de união. Ele lembrou o primeiro título do Brasil, em 1958, na
Suécia, que teve a participação em campo de Zagallo,
hoje seu coordenador. Para
o técnico, aquela era uma seleção sem divisão.
"O time saía unido do Brasil, todo mundo uniformizado, fazíamos uma visita
ao presidente. Tinha jogo
de despedida, voltávamos
unidos. Havia um simbolismo, um romantismo. Isso mudou, como mudou o
mundo. Agora, a convergência
é outra. Os jogadores moram na
Europa. É tudo diferente."
Minuto a minuto, os treinos e as entrevistas dos finalistas da Copa www.folha.com.br/copa2006
Texto Anterior: Painel FC na Copa Próximo Texto: Campeão, só no treino Índice
|