São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Clóvis Rossi

Um chute nas férias

NAS PRÓXIMAS 24 ou 48 horas, surgirão cerca de 312.143 versões, análises e explicações para a eliminação do Brasil, incluindo aí as teorias conspiratórias que o futebol desata com mais vigor do que a política. Delas, 312.144 culparão Parreira. Ou sozinho ou acompanhado.
Não contem comigo para jogar pedras no treinador, cujo estilo, aliás, não me seduz em nada, nada, nada. Claro que Parreira tem lá sua culpa. Convocou os jogadores, escalou o time, estabeleceu teoricamente a tática (digo teoricamente, porque, na prática, não houve tática nem estratégia nenhuma, foi o mais puro salve-se quem puder do primeiro ao último jogo).
Mas convenhamos:
1 - Quem faltou ser convocado?
2 - Que outro time você escalaria? Robinho no lugar de Adriano, em vez de Juninho Pernambucano? Eu também. Mas, primeiro, Robinho não estava 100% recuperado, e segundo, quando dez não querem, um só não vai resolver o problema.
3 - Treinador algum pode ser responsabilizado pelo fato de seus jogadores -todos de primeira linha no futebol internacional, respeitados e badalados não só pelos brasileiros- terem chutado uma só vez na direção do gol de Barthez.
Uma vez em 90 minutos.
Qualquer time de casados, em qualquer pelada contra os solteiros da fábrica da esquina, chuta mais vezes, mesmo todos gordos e cheios de chope na cabeça e na barriga, qualquer que seja o técnico ou mesmo que nem haja técnico.
Na minha explicação, a mais simplória e bobinha das 312.143, o que houve foi que todos os jogadores -exceto o goleiro Dida- jogaram abaixo do que costumam jogar em seus clubes ou em outros momentos da carreira, a não ser na partida contra o Japão. Alguns (como Ronaldinho), muito abaixo, infernalmente abaixo.
Não há treinador que dê jeito em preguiça, falta de vontade, comportamento burocrático, confiança estúpida nas próprias forças.
O time do Brasil veio à Alemanha para passar férias, não para disputar um torneio duro. Como se o simples fato de entrar em campo já lhe assegurasse a vitória. Como se os gols fossem brotar da grama.
As férias terminaram mais cedo, mas é melhor para eles: agora podem escolher onde gozá-las.
crossi@uol.com.br


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