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Frio, Dunga é único a não chorar
Ao contrário dos jogadores, treinador não se comove no vestiário, depois do jogo, e no hotel
DOS ENVIADOS A PORT ELIZABETH
Palavrões no intervalo e
nenhuma lágrima. Essas foram as reações do técnico
Dunga longe das câmeras
ontem, no dia em que a Holanda eliminou a seleção brasileira da Copa de 2010.
Logo após a vitória de virada dos europeus, por 2 a 1, o
técnico foi uma das raras exceções no vestiário nacional.
Ele foi o único que não chorou pela desclassificação.
Apesar do clima de velório
no vestiário da seleção no estádio Nelson Mandela Bay,
Dunga, 46, fechou a cara,
mas em nenhum momento
entrou no clima de comoção.
Ao seu lado, jogadores como Kaká, Júlio César e Lúcio,
líderes da seleção, choravam
copiosamente. Júlio César e
Kaká foram às lágrimas até
nas entrevistas após o jogo.
Já Dunga prosseguiu em
silêncio até depois de deixar
o estádio. No ônibus do time,
não falou nada no trajeto de
cerca de 20 minutos até o hotel que serviu de concentração para a delegação brasileira em Port Elizabeth.
Lá, o treinador demonstrou novamente frieza. No silencioso jantar da equipe no
Protea Hotel Marine, modesto para o luxuoso padrão de
hospedagem da seleção brasileira, o técnico recebeu
uma homenagem dos atletas, mas evitou se emocionar.
Um dos mais emotivos depois da derrota, o goleiro Júlio César fez um discurso em
favor do técnico. Quase todos
os jogadores choraram na
mesa, porém Dunga permaneceu firme, sem chorar.
O treinador fez questão de
pedir a palavra e discursou
rapidamente. Agradeceu aos
jogadores por terem ""resgatado a imagem da seleção
junto aos torcedores" e se calou. Logo após o jantar, Dunga subiu para o seu quarto.
Antes da derrota consumada, ele manteve o seu estilo de muitos gestos e gritaria.
No intervalo, quando a seleção ainda vencia por 1 a 0, o
técnico não escondeu a preocupação com uma possível
expulsão no segundo tempo.
O tema central da preleção
foi o cuidado com os cartões.
Ele não fez nenhuma recomendação tática especial a
seus atletas. Com palavrões,
ele pedia especialmente para
Michel Bastos, que já havia
recebido um cartão amarelo,
para não ser expulso. O jogador acabou substituído pouco depois de fazer uma falta.
Dunga também chamou a
atenção de Felipe Melo, que
acabou levando o cartão vermelho cinco minutos após o
gol da virada holandesa. Deu
um pisão em Robben.
FIM DE FESTA
A desolação tomou conta
do hotel da seleção nas horas
seguintes ao jogo. Por volta
da meia-noite (horário local),
nenhum torcedor fazia plantão na frente do edifício.
No mesmo horário, no dia
anterior, torcedores ficaram
em frente ao hotel na tentativa de ver algum jogador.
Ontem, os atletas não foram assediados. No início da
madrugada africana, os reservas Doni (goleiro) e Josué
(volante) andavam tranquilamente do lado de fora do
hotel. Um caminhão já estava na porta do prédio para recolher a bagagem do time.
As equipes de TV, numerosas após a eliminação na Copa da Alemanha, em 2006,
também eram raras, dando a
impressão ainda mais forte
do clima de final de festa para o Brasil na África do Sul.
A delegação embarcará na
tarde de hoje para Johannesburgo. De lá, os atletas seguirão para o Rio. A chegada ao
Brasil está prevista para a
madrugada de domingo.
Até a bandeira brasileira,
colocada por funcionários da
CBF na janela de um dos
quartos principais do hotel,
já havia sido retirada.
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ,
PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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