São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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Frio, Dunga é único a não chorar

Ao contrário dos jogadores, treinador não se comove no vestiário, depois do jogo, e no hotel

DOS ENVIADOS A PORT ELIZABETH

Palavrões no intervalo e nenhuma lágrima. Essas foram as reações do técnico Dunga longe das câmeras ontem, no dia em que a Holanda eliminou a seleção brasileira da Copa de 2010.
Logo após a vitória de virada dos europeus, por 2 a 1, o técnico foi uma das raras exceções no vestiário nacional. Ele foi o único que não chorou pela desclassificação.
Apesar do clima de velório no vestiário da seleção no estádio Nelson Mandela Bay, Dunga, 46, fechou a cara, mas em nenhum momento entrou no clima de comoção.
Ao seu lado, jogadores como Kaká, Júlio César e Lúcio, líderes da seleção, choravam copiosamente. Júlio César e Kaká foram às lágrimas até nas entrevistas após o jogo.
Já Dunga prosseguiu em silêncio até depois de deixar o estádio. No ônibus do time, não falou nada no trajeto de cerca de 20 minutos até o hotel que serviu de concentração para a delegação brasileira em Port Elizabeth.
Lá, o treinador demonstrou novamente frieza. No silencioso jantar da equipe no Protea Hotel Marine, modesto para o luxuoso padrão de hospedagem da seleção brasileira, o técnico recebeu uma homenagem dos atletas, mas evitou se emocionar.
Um dos mais emotivos depois da derrota, o goleiro Júlio César fez um discurso em favor do técnico. Quase todos os jogadores choraram na mesa, porém Dunga permaneceu firme, sem chorar.
O treinador fez questão de pedir a palavra e discursou rapidamente. Agradeceu aos jogadores por terem ""resgatado a imagem da seleção junto aos torcedores" e se calou. Logo após o jantar, Dunga subiu para o seu quarto.
Antes da derrota consumada, ele manteve o seu estilo de muitos gestos e gritaria. No intervalo, quando a seleção ainda vencia por 1 a 0, o técnico não escondeu a preocupação com uma possível expulsão no segundo tempo.
O tema central da preleção foi o cuidado com os cartões. Ele não fez nenhuma recomendação tática especial a seus atletas. Com palavrões, ele pedia especialmente para Michel Bastos, que já havia recebido um cartão amarelo, para não ser expulso. O jogador acabou substituído pouco depois de fazer uma falta.
Dunga também chamou a atenção de Felipe Melo, que acabou levando o cartão vermelho cinco minutos após o gol da virada holandesa. Deu um pisão em Robben.

FIM DE FESTA
A desolação tomou conta do hotel da seleção nas horas seguintes ao jogo. Por volta da meia-noite (horário local), nenhum torcedor fazia plantão na frente do edifício.
No mesmo horário, no dia anterior, torcedores ficaram em frente ao hotel na tentativa de ver algum jogador.
Ontem, os atletas não foram assediados. No início da madrugada africana, os reservas Doni (goleiro) e Josué (volante) andavam tranquilamente do lado de fora do hotel. Um caminhão já estava na porta do prédio para recolher a bagagem do time.
As equipes de TV, numerosas após a eliminação na Copa da Alemanha, em 2006, também eram raras, dando a impressão ainda mais forte do clima de final de festa para o Brasil na África do Sul.
A delegação embarcará na tarde de hoje para Johannesburgo. De lá, os atletas seguirão para o Rio. A chegada ao Brasil está prevista para a madrugada de domingo.
Até a bandeira brasileira, colocada por funcionários da CBF na janela de um dos quartos principais do hotel, já havia sido retirada. (EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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