São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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RITA SIZA

Que desgosto


Ontem, contra a Holanda, não serviu de nada ao Brasil ser capaz de grandes proezas técnicas


A PRIMEIRA grande desilusão que eu vivi em uma Copa do Mundo aconteceu em 1982, quando os cínicos dos italianos eliminaram a seleção brasileira de Zico, Sócrates e Falcão, e a segunda decepção aconteceu logo depois, quando a máquina da Alemanha bateu a França de Platini, Giresse e Amoros.
Acho que até chorei -nessa época, ainda chorava quando as coisas não corriam como eu queria.
A minha imaginação infantil não conseguia entender o conceito de eficiência: o que eu gostava era de ver o espetáculo dos brasileiros.
A decepção foi uma grande lição que, apesar de toda a evolução que o futebol sofreu, ainda se aplica. Não basta ter a melhor equipa para ganhar uma partida.
Ontem foi quase a mesma coisa. Gostaria sinceramente que esta coluna fosse para dar os parabéns ao Brasil, e não lamentar a eliminação da seleção canarinho contra a Holanda. Que desgosto.
Na América, onde adoram dar apelidos às coisas, o jogo de ontem foi apresentado milhares de vezes como um embate épico, "o jogo bonito versus o futebol global".
Infelizmente o clichê ficou bem longe da realidade. O golo do Robinho foi bonito, sem dúvida, mas o jogo do Brasil, nem por isso. E o futebol da Holanda, de total, só teve a sorte.
E os "cabeças de queijo" souberam bem aproveitá-la. Conseguiram impor um jogo físico e desesperar os jogadores brasileiros.
Como há 28 anos, não serviu de nada ao Brasil ser capaz de grandes proezas técnicas. Foram vencidos pela organização, pelo calculismo e pelo sangue frio dos holandeses.
Onde a previsão dos americanos acertou, porém, foi no drama. O jogo certamente não será inesquecível por sua qualidade, mas pela emoção.
Foi quase como uma tragédia teatral, que vai pondo em causa os mais firmes princípios dos espectadores e sutilmente anunciando um desfecho pungente. Assistir à implosão do Brasil depois do golo da Holanda foi penoso, mas, quando chegamos a esse ponto da narrativa, já sabíamos que não nos restava mais do que aguentar, surpresos, mas resignados, que se confirmasse a eliminação.
As jogadas sinuosas do Robben e do Sneijder para emboscar o Kaká e aleivosamente aniquilar o Felipe Melo poderiam ter saído da pena de um dramaturgo medieval.


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