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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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PAN 2003

Obras inacabadas, apagões durante provas e improvisos transformam Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo em um exercício de paciência para atletas e dirigentes

PANDEMÔNIO

EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

No princípio era o caos. Instalações inacabadas, cidade em ruínas, desorganização geral e perspectiva de um Pan-Americano modesto. No final, também.
Santo Domingo ainda não está pronta para abrigar a 14ª edição do principal evento esportivo das Américas. Só que agora é tarde demais. A competição, mesmo que mambembe, já começou.
O primeiro dia de provas, ontem, foi marcado por uma série de confusões. Nas eliminatórias masculinas de pistola de ar, houve um apagão, que provocou uma interrupção de mais de uma hora -a organização cogitou suspender a atividade, retomada quando a energia voltou.
Nas lutas livre e greco-romana, além de falta de energia, por 30 minutos, o placar eletrônico quebrou e demorou mais de uma hora para ser arrumado.
Da chegada ao país até o início das provas, todos os que estão ligados aos Jogos cumprem uma via-crúcis para solucionar ou driblar os problemas da República Dominicana. O calvário começa no aeroporto Las Américas, onde há um batalhão de voluntários lá, mas não existe ordem. O extravio de malas virou fato comum.
É lá, também, que se efetua o credenciamento, outro foco de empecilhos. Os cartões que os atletas precisam portar para entrar na Vila Pan-Americana e nas instalações esportivas raramente estão em perfeita ordem.
A credencial recebida pelo time americano feminino de vôlei não estava com os dizeres corretos. No Centro Olímpico, tentaram treinar, mas não puderam entrar.
Quando se deixa para trás o ar-condicionado do aeroporto, ocorre outro baque. O evento foi agendado para o período mais quente do ano na cidade -média de 38ºC. "É simplesmente impossível aguentar este calor", praguejou o vice-presidente cubano, José Ramón Fernandez.
O sol prejudicou até as piscinas. Os organizadores instalaram propulsores em forma de chafariz para movimentar e diminuir a temperatura da água. Horários de torneios foram revisados para não desgastar os atletas. Algumas provas do atletismo, como marcha e maratona, que já eram cedo, foram antecipadas em 45 minutos.
O que mais impressiona, porém, é a falta de infra-estrutura do município. O esforço do governo para concluir as instalações não foi acompanhado por uma melhoria nos serviços básicos.
As chuvas esporádicas desta época do ano formam pontos de alagamento, deixando o trânsito, já caótico, pior. Jorge Otsuka, coordenador da equipe de beisebol do Brasil, contou que precisa sair da Vila com pelo menos duas horas de antecedência para ir aos treinos e driblar a falta de ônibus.
Há ao menos um apagão por dia em Santo Domingo. Na quinta-feira, o centro de imprensa ficou fora do ar por 24 horas.
Quase todas as delegações brasileiras tiveram dificuldades para treinar. O handebol dividiu a quadra com outras duas equipes por erros na planilha de horários.
O boliche chegou ao local indicado para a prática e encontrou as portas fechadas. "Precisei chamar o presidente da federação local para entrar", explicou César Maciel, que coordena os brasileiros.
A ginástica esbarrou nas obras incompletas. "No local destinado ao aquecimento, ainda existem pessoas trabalhando", disse Eliane Martins, chefe da equipe.
Imagem simbólica do caos, a primeira aparição brasileira no Pan é o prenúncio do que vem por aí. Totalmente fora do padrão, a bandeira do país na festa de abertura causou constrangimento e protesto formal do COB.


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