São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Tsukahara dita Japão e Pequim

Mito japonês comanda hoje os rumos da ginástica em seu país e se faz presente em séries olímpicas

Após eternizar movimento, hoje presente em quase todos os aparelhos, ele tenta, como dirigente, elevar resultados dos compatriotas

LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Ele não foi o ginasta que mais medalhas obteve em Jogos Olímpicos. Mas, de alguma forma, estará presente em boa parte das séries que colocarão atletas no pódio de Pequim.
O japonês Mitsuo Tsukahara, 60, é o criador do movimento batizado com seu sobrenome, uma acrobacia que hoje é executada em praticamente todos os aparelhos. E cujas variações integram as rotinas de vários competidores.
Dono de cinco ouros olímpicos, ele dedicou a vida toda à modalidade. Começou como atleta, foi técnico e hoje ocupa a vice-presidência da Federação Japonesa de Ginástica.
Casado com uma ex-treinadora da seleção nacional e proprietário do centro de treinamento de onde saíram 5 das 6 titulares da equipe japonesa em Pequim-2008, ele também já viveu a experiência de ver o filho, Naoya Tsukahara, disputar três Olimpíadas e conquistar a medalha de ouro por equipes há quatro anos, em Atenas.
Em ação, orientando ginastas ou traçando o planejamento da seleção de seu país, este japonês de 1,67 m e riso fácil participou de todas as edições dos Jogos desde 1968 (exceto Moscou-1980, pelo boicote de seu país ao evento soviético).
"Tenho como filosofia de vida sempre buscar um novo desafio, encarar as dificuldades de forma positiva. E talvez achar soluções inéditas, como o movimento que criei. A vida não pára, e procuro agir de acordo com isso, sem nunca desistir", responde ele, ao ser indagado se alguma vez se cansou da ginástica, esporte em que começou aos 13 anos de idade.
Como atleta, essa motivação era refletida na busca pela inovação. "Queria novas técnicas e ia atrás do inédito, de movimentos que nunca tinham sido feitos. Felizmente consegui, e ajudei o Japão no tricampeonato olímpico por equipes."
No último deles, em Montréal-1976, Tsukahara foi decisivo. Ele encerrou a participação da equipe na barra fixa, último aparelho da competição. Precisava tirar no mínimo 9,5. Conseguiu 9,9, o que deu a vantagem final sobre os soviéticos.
"Em 1982, assumi a seleção feminina. E coloquei todo o meu esforço em ensinar minhas técnica às garotas. Quando assumi o time, era o 12º do mundo. Levei à sexta posição, que é o melhor resultado da equipe feminina até hoje. O ponto alto desse trabalho foi Seul-88, quando todas as atletas eram do meu centro de treinamento. Após Barcelona-92, deixei o cargo, e os resultados tiveram um declínio."
Depois, já na condição de responsável pelo planejamento técnico da federação, ele resolveu inovar de novo. E comprou briga com boa parte da comunidade da ginástica de seu país.
"Obviamente eu queria o melhor para o meu filho Naoya. Estava mergulhado em outras atribuições e não podia acompanhar seu treinamento de perto. Na época [meados dos anos 90], o nível técnico do Japão não era mais o melhor do mundo", lembra ele.
A solução foi "importar" um técnico para treinar Naoya. "Primeiro, veio um chinês, que trabalhou com ele durante cinco anos. Então o chinês retornou ao seu país, e recebi uma ligação do [ex-adversário russo] Nikolai Andrianov, que ocupou a vaga e permaneceu no Japão até os Jogos de Sydney."
No momento, Tsukahara conta que sua meta é fazer com que a equipe masculina repita a hegemonia do time que integrou nos anos 60 e 70.
"Acho que eles têm condições de igualar o que fizemos. É uma geração talentosa. Meu maior feito como dirigente foi ter planejado a programação do time campeão em Atenas."
Ele diz esperar de Diego Hypólito "uma performance excelente em Pequim".
E conta ter ficado surpreso ao saber das declarações de membros da delegação brasileira, sobre o esquema organizado por ele para receber a equipe no Japão. "É a maneira japonesa de receber. Não fiz nada demais, só nossa praxe."


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