São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

RITA SIZA

A crise das transferências


Quem diria que há crise ao ler os títulos das contratações de jogadores nos jornais?


Observando as quantias milionárias que os clubes europeus gastaram na época de transferências que fechou na última quarta-feira, parece que o director da Uefa, Michel Platini, estava a delirar quando avisou no outro dia que havia "muitas luzes vermelhas a piscar", alertando para a situação financeira do futebol europeu. "É uma grande preocupação; temo seriamente pelo futuro do futebol."
A pragmática agência norte-americana Associated Press depressa concluiu que, afinal, não são só os governos europeus que estão em dificuldades, menorizados por uma crise de dívida soberana que nenhum político consegue solucionar. "Os problemas financeiros estão a afectar seriamente as instituições mais queridas pela população do velho continente, os clubes de futebol", notava a AP, enumerando uma série de episódios -com destaque para as greves de jogadores na Espanha e na Itália- que são na sua natureza essencialmente financeiros mas têm inevitáveis repercussões esportivas e comprometem a competição.
"Não é possível continuar a alimentar esses défices e a ver os clubes operarem virtualmente na bancarrota. Isto tem consequências graves", considerou Platini. A Uefa aprovou novas regras de "fair-play financeiro", um novo sistema que os dirigentes europeus esperam que obrigue os clubes a adoptar gestão mais responsável. As sanções para aqueles que mantiverem as contas descontroladas podem chegar à expulsão da Champions ou da Liga Europa.
Mas quem diria que há crise ao ler os títulos das contratações de jogadores nos jornais? Na liga inglesa, nunca se gastou tanto: € 806 milhões, um acréscimo de 33% comparativamente ao mesmo período do ano passado e um recorde absoluto.
Aqui em Portugal, os chamados "três grandes", FC Porto, Sporting Clube de Portugal e Sport Lisboa e Benfica, gastaram todos juntos quase € 100 milhões. Os portistas despenderam € 13 milhões na aquisição do jovem Danilo, a segunda transferência mais cara da história (só superada pela do goleador Hulk). O médio brasileiro Elias custou € 8,85 milhões de euros ao Sporting, que contratou 16 jogadores e vendeu dois, terminando com um saldo negativo de quase € 25 milhões. A venda de Fábio Coentrão do Benfica para o Real Madrid, por € 30 milhões, permitiu ao clube financiar as suas contratações e ainda guardar algum lucro.
Esses valores seriam legítimos se os clubes vivessem isolados da crise económica e financeira no país.
Assim, são absolutamente obscenos numa época de recessão e em que o governo anuncia subidas de impostos, congelamentos de salários e corte de serviços públicos.


Texto Anterior: F-1: Bruno Senna corre pela Renault até o fim do ano
Próximo Texto: Brasil leva a campo ataque caseiro
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.