São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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TÊNIS

O bom filho

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Pouca gente conhece Filipstad. Não é nenhum ginásio na Alemanha, nem um tipo de piso usado na temporada indoor, muito menos nome de tenista belga. Filipstad é uma cidade de 12 mil habitantes, perto do pólo Norte, no meio do nada, entre Estocolmo e lugar nenhum.
No tédio e no frio, a diversão dos garotos locais não é o futebol. Poderia até ser, não fosse um detalhe: como jogar futebol no meio da neve? A diversão em Filipstad é jogar "bandy", uma espécie de "pelada" do hóquei no gelo.
Pois de tanto brincar de "bandy", o jovem Leif, sempre impulsionado pelos pais, que queriam ver o filho praticando esporte, ficou tão bom que chegou até a ser convocado para jogar na Rússia. Tênis, então, era só um passatempo no verão, curto, e só para não desagradar à avó, que lhe dera uma raquete de aniversário.
Teria sido uma vida tranqüila não tivesse o jovem Leif recebido, no mesmo dia da convocação para a seleção de "bandy", um outro convite, para uma temporada de aulas de tênis nos EUA.
Leif gostava mais de "bandy" do que de tênis. Só que a curiosidade em conhecer a Flórida era maior do que a vontade de passar alguns dias debaixo de neve em Moscou. Foi por causa da viagem para a terra do Mickey que Leif Magnus Norman entrou no tênis.
A incursão não deveria ter ido além da viagem para os EUA. Juvenil, em um jogo que nada valia, ficou com tanta raiva do adversário que atirou a raquete sobre o alambrado. Ela ficou presa em uma árvore, e ele desistiu do jogo.
Parecia que tênis e Norman não haviam nascido um para o outro. Entre Stefan Edberg e a seleção de hóquei no gelo, Norman sempre ficava com a segunda opção.
Só os resultados empurravam Norman adiante. Com os primeiros passos no profissionalismo, porém, veio a notícia de que tinha problemas no coração. Passou por uma cirurgia de cinco horas.
Norman sempre "batia na trave". Nos Grand Slams, despachava Lleyton Hewitt, Marat Safin e Nicolas Kiefer, mas sempre aparecia um Ievgueni Kafelnikov, um Gustavo Kuerten no final. Subia no ranking com títulos, mas parava no posto de número dois.
Ele mesmo reconhecia suas "limitações". Melhor saque? Pete Sampras, dizia. Voleio? Patrick Rafter. Backhand? Andre Agassi, Lleyton Hewitt e Kuerten. "Eu sou apenas um bom lutador."
Há três anos, então, as contusões passaram a atormentar o lutador impiedosamente. Primeiro, no joelho; depois, no quadril. Depois, no joelho de novo.
Agora, o tênis finalmente conseguiu se livrar de Norman. Há dez dias, depois de conversar com a família e o médico, o tenista resolveu, com apenas 28 anos, abandonar as quadras.
Norman volta a Filipstad para o Natal. É certo que passará a dormir até mais tarde, algo de que sempre reclamou quando tinha de treinar pela manhã. Talvez troque de carro, uma Ferrari nova. Tristeza? Nenhuma. Melhor lembrança? Nada de Roland Garros, Masters Cup ou badalações mundiais: "Aberto da Suécia, 1997". Título, aliás, conquistado ali em Bastad, perto de Filipstad.

Longe de Filipstad
Francisco Costa ganhou o Future de Americana. Nesta semana, o circuito vai a Campinas. E Larissa Carvalho ficou com o Pfizer Open, em Florianópolis, ao vencer a argentina Maria Jose Argeri.

Por aqui
Luis Henrique Grangeiro, Karina Chiarelli (18 anos), Nicolas Santos, Bárbara Oliveira (16), José Pereira, Carolina de Luca (14), Alexandre Schnittman e Isabela Miró (12) ganharam o Masters da Credicard MasterCard Juniors Cup. Após passar por Uberlândia, Ribeirão Preto, Joinville, Brasília, Curitiba e São Paulo, o circuito volta em 2005.

Em São Paulo
A segunda edição da Copa Fino rola nesta semana, na Unisys Arena.

E-mail
reandaku@uol.com.br


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