São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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Chuva vira protagonista em prova imprevisível

Pilotando em casa, Massa sai com vitória, mas Hamilton fica com título da F-1

Sem pneus apropriados, Glock cede posição a Vettel e a inglês, que termina corrida em quinto e supera brasileiro na classificação


DA REPORTAGEM LOCAL

A história do GP que decidiu a temporada da F-1 de 2008 não pode ser contada sem a chuva. Que era o tema nas conversas do paddock desde a manhã. Que fez os mecânicos caminharem para o grid meia hora antes da largada, levando os pneus para pista molhada. Que, virou sina de Interlagos nos últimos anos, agitou a prova e tornou-a imprevisível.
Eram 14h57, três minutos para a volta de apresentação, quando uma rajada de chuva atingiu o circuito, encharcando o asfalto. Para que os times tivessem tempo de adaptar os carros ao novo cenário, a largada foi adiada em dez minutos.
Às 15h12, enfim, a disputa foi aberta. Por pouco tempo: David Coulthard foi tocado por Nico Rosberg, Nelsinho Piquet escorregou no S do Senna, e o safety car interveio na corrida.
Na quarta volta, novamente a disputa foi aberta. Para que se tornasse, então, um exercício de matemática. "Eu sabia o tempo todo onde ele estava", disse Felipe Massa, o pole, referindo-se a Lewis Hamilton.
O cálculo estava na sua cabeça havia duas semanas. O brasileiro tinha de vencer e torcer para que o inglês não cruzasse a linha de chegada em quinto.
Cada um fez seu papel. Massa se segurou na ponta, enquanto Hamilton, conservador, manteve a quarta colocação.
Na oitava volta, Timo Glock e Sébastien Bourdais foram aos boxes para colocar pneus para pista seca. Todos os colegas os seguiram nas voltas seguintes.
Na décima, Massa fez sua parada. Na 11ª, Hamilton, Jarno Trulli e Kimi Raikkonen fizeram seus pit stops, todos colocando pneus para piso seco.
Ao fim da primeira rodada nos boxes, Massa era o líder, seguido por Sebastian Vettel, um dos primeiros a trocar pneus, com Fernando Alonso em terceiro. Hamilton era o sexto.
Com este cenário, o piloto brasileiro seria o campeão.
O problema de Hamilton, então, era Fisichella, que havia feito um pit temporão, na terceira volta. O inglês perseguiu o italiano por cinco voltas até que, na 17ª, fez uma arriscada ultrapassagem no S do Senna.
Com a quinta colocação, o piloto inglês seria o campeão.
Hamilton chegou a andar em quarto por 11 voltas, da 28ª à 38ª, foi até terceiro colocado nas duas voltas seguintes, mas, após seu último pit programado, na 40ª, começou a enfrentar problemas que quase arrasaram seu GP e sua temporada.
"Eu não travei o pneu, não fiz nada demais, mas comecei a sofrer com o comportamento dos pneus. Meu carro foi ficando cada vez mais fraco", explicou.
Sofrendo na pista, Hamilton viu seus adversários se aproximarem. O que foi fatal quando, na 64ª volta, a chuva voltou a encharcar a área de Interlagos.
Na 66ª, Hamilton entrou nos boxes para colocar pneus de chuva. Massa o fez na seguinte.
Três voltas depois, faltando duas para o final, Hamilton não agüentou a pressão de Vettel e caiu para a sexta colocação.
Massa seguia tranqüilo na ponta, agora novamente numa situação que lhe daria o título.
Ele tinha 14s309 sobre Alonso, que sustentava 0s468 sobre Raikkonen. A 9s411 do finlandês, vinha Glock, em quarto.
Mas chovia. E o alemão da Toyota tinha pneus para pista seca, aposta de sua equipe para tentar algum resultado no GP.
Não deu.
Sem condições de controlar o carro, Glock começou a perder terreno. Em uma volta, entre a 69ª e a 70ª, Hamilton se aproximou 2s474 do alemão.
Lá na frente, Massa voava para a vitória. Que alcançou sem grandes problemas: sua segunda em Interlagos, a 11ª na carreira, a sexta nesta temporada.
Interlagos explodiu em vibração. Para entrar em choque logo depois, porque, lá atrás, Hamilton tirou mais 19s786 em relação a Glock. E, no início da Junção, a última curva, veio a manobra: Vettel e Hamilton deixaram o alemão para trás.
"Foi a mais dramática corrida da minha vida. Nas últimas voltas, o carro ficou em silêncio. Pelo rádio, a equipe só dizia o que eu precisava saber. Comecei a rezar para alcançar o Glock e não acreditei quando o vi na curva", disse Hamilton.
Massa parou o carro sob o pódio, enxugou as mãos aos olhos, enxugou as lágrimas. A vitória era dele. O título, não.
(FÁBIO SEIXAS E TATIANA CUNHA)


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