São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Mas a bola bateu na trave


Por apenas um detalhe, um time perde a chance de ser campeão do mundo e pode ir parar na Série B do Brasileiro


CÉLEBRE LEITORA , selebre leitor, a vida é cheia de "ses".
Se Olavo não tivesse tomado o ônibus errado, não teria conhecido Maria Clara, com quem está casado há 40 anos. Se Maurício não tivesse comprado um par de havaianas, teria dinheiro para comprar aquele bilhete de loteria e estaria rico. Se Romualdo tivesse pedido sopa em vez de camarão frito, não teria engasgado e morrido em Florianópolis. E se eu não tivesse, na última hora, mudado dois chutes em meu vestibular para jornalismo, você não estaria lendo esta coluna.
Um detalhe pode mudar tudo. E foi o que aconteceu no dia 11 de maio deste ano. Sport e Palmeiras se enfrentavam pelas oitavas de final da Libertadores, 48min do segundo tempo. O time de Pernambuco está vencendo por 1 a 0. Se ficar assim, a partida irá para os pênaltis. É quando Ciro, um promissor jogador, então com 19 anos, manda um foguete.
A bola tem endereço certo. Vai entrar no cantinho. Mas Marcos espalma de leve e a bola bate na trave.
Se a bola tivesse entrado, o time pernambucano teria ido para as quartas de final, onde enfrentaria o modesto Nacional, do Uruguai (que, por erros de Luxemburgo no primeiro jogo, eliminou o Palmeiras). Mas a bola bateu na trave.
Nas cobranças de pênaltis, Marcos fez três defesas e o Sport foi desclassificado. Poderia ter sido apenas um tropeço. Mas foi um tropeço à beira do abismo.
O rubro-negro estava numa fase perfeita. Em 2008, conquistara a Copa do Brasil sobre o Corinthians e acabara de ganhar os dois turnos do estadual, sagrando-se tetracampeão sem nem precisar disputar a final. Ciro, por sua vez, aparecia nas manchetes de jornais como cogitado por vários clubes do sul.
Mas a bola bateu na trave.
Na partida seguinte, pelo Brasileiro, o Sport perdeu para o Vitória por 1 a 0. Depois, em casa, foi derrotado pelo Atlético-MG por 3 a 2. Logo Nelsinho Batista pediria demissão, Ciro iria para a reserva e o clube começaria a frequentar os últimos lugares da tabela. Emerson Leão foi chamado e, logo na estreia, o time venceu o Flamengo por 4 a 2. Porém, era fogo de palha. Em pouco tempo, Leão seria dispensado, Levi Gomes assumiria o clube interinamente e chamariam Péricles Chamusca. Nada adiantaria.
Ontem, menos de seis meses depois daquela bola na trave, o Sport perdeu para o Náutico (com nove jogadores que estavam na partida contra o Palmeiras). Um chute de longe do veterano Irênio bateu num montinho e enganou Magrão, selando a derrota. O Sport é o último colocado no Brasileiro. A cinco rodadas do final, as chances de escapar da Série B são mínimas. Só fanáticos e matemáticos têm alguma esperança.
O clube, que voltou a disputar a primeira divisão em 2007, ao ser vice da Série B, atrás do Atlético, deve retornar à segunda divisão, onde tinha ficado por cinco longos anos.
Se a bola tivesse entrado, ele teria passado para a fase seguinte da Libertadores, a crise não teria se instalado, Nelsinho Batista provavelmente continuaria seu trabalho, a equipe teria feito um Brasileiro mais estável, Ciro conseguiria se firmar e, quem sabe?, o time poderia ser campeão continental.
Mas a bola bateu na trave.

torero@uol.com.br


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