São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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XICO SÁ

Agora vale mandinga

Triste do pobre cético nesta hora. Talvez somente o Barcelona, e olhe lá, esteja imune a "las brujas"

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, quem jogou jogou, quem não jogou não joga mais, agora o certame nacional mais difícil do planeta está nas mãos das forças ocultas, cujos mal-assombros não fazem parte do mundo dos vivos e seguem indiferentes a malas brancas, malas pretas e toda uma sorte de conspirações e análises táticas.
"Dá Corinthians", grasna o corvo Edgar, o agourento e populista aliado dos primos gaviões e dos urubus da Gávea. Contra maré e lógica, ele já voou para Engenho de Dentro. "O Sobrenatural de Almeida desconhece o caminho do novo estádio, não é do seu tempo", zomba da cria do tricolor Nelson Rodrigues.
Duvido muito que o Flu, mesmo com a sua antologia de vacilos históricos -o time sofre da bipolaridade ludopédica-, se permita a um "Engenhazzo". Está diante de um jogo ganho de véspera, contra um bugre entregue ao banzo, qual um índio catequizado pelos jesuítas.
Sim, todo mundo também põe no passivo das favas contadas a vitória do Corinthians frente aos reservas do Goiás. Calma, amigo, já vi muita gente a roer o pequi do infortúnio contra o clube do cerrado.
É disso que precisa o Cruzeiro. Quem sabe o destino não resolve compensar o técnico Cuca por todo seu catatau de melancolias e azares? Afinal, ele não pegou nada de moleza, não teve direito ao festival delivery, às entregas em domicilio das ultimas rodadas.
Não é propriamente de justiça que estamos tratando. Esqueça. Muito menos de futebol. A essa altura valem a mandinga, os ritos do secador profissa, os trabalhos, as amarrações, os vodus, os tranca-ruas, os ebós, os feitiços. Triste do pobre cético nesta hora. Talvez somente o Barcelona, e olhe lá, esteja imune a "las brujas" no momento.
E não tem essa dos megalomaníacos deuses dos estádios, falamos de algo baixo, nada sagrado, encosto profano e banalíssimo, chuta que é macumba. Um domingo especial para os secadores. Verdes, santistas e são-paulinos também estão no jogo contra o título no ano do centenário alvinegro.
"Dá Corinthians", repete o corvo. "Pelo menos vou gastar todas as minhas forças e pousar, qual o urubu de Augusto dos Anjos, na sorte do Muricy Ramalho". Vade retro, reage o amigo das Laranjeiras, a quem resta se proteger com o samba antimandinga do Luiz Airão, um clássico: "Sou fio da veia, oi, eu não pego nada./ A veia tem tem força, oi, na encruzilhada".

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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