São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2008

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Conflitos no Quênia isolam campeões

Corredores fazem pré-temporada em CT mantido por recordista perto do local onde 50 pessoas morreram queimadas

Atletas pediram ajuda da embaixada da Holanda para deixar cidade; campeão mundial da maratona foi ferido e está hospitalizado

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O centro de treinamento de Iten é conhecido como paraíso para corredores de longa distância que procuram os efeitos da altitude e os segredos dos principais nomes do esporte.
Desde que os conflitos no Quênia começaram, no entanto, o local se transformou em uma espécie de prisão para atletas de elite que buscaram ali refúgio na pré-temporada.
O complexo é mantido por Lornah Kiplagat, recordista mundial da meia-maratona e um dos principais nomes do atletismo. A corredora é queniana naturalizada holandesa.
O CT fica a meia hora de Eldoret, um dos principais pontos de conflitos no Quênia. Foi ali que 50 pessoas foram queimadas vivas dentro de uma igreja no primeiro dia do ano.
Kiplagat treinava com corredores quenianos naturalizados estrangeiros e seu marido, o holandês Pieter Langerhorts, quando os combates começaram. Eles ficaram isolados em meio a ondas de ataques.
Elias Makori, editor de esportes do jornal "The Daily Nation", conversou com os corredores. Segundo o jornalista, o casal ficou dias sem dormir direito e teve de dar comida a combatentes da tribo kalenjin para evitar que o alojamento em Iten fosse invadido.
Os atletas estrangeiros que faziam pré-temporada no local, como Lucia Kimani, atualmente corredora da Bósnia, e Hilda Kibet, também naturalizada holandesa, foram levados de Eldoret para o aeroporto de Nairóbi com a ajuda da embaixada da Holanda. De lá, seguiriam para o exterior.
O grupo se preparava para a Maratona de Dubai, no dia 18.
A reportagem não conseguiu entrar em contato ontem com os representantes da Holanda em Nairóbi nem com Lornah.
Os conflitos no Quênia já deixaram um ex-corredor morto, Lucas Sang, que disputou os Jogos Olímpicos de Seul-1988 e vivia em um sítio em Eldoret.
O atual campeão mundial da maratona, Luke Kibet, também foi ferido. Ele teria sido atacado por cerca de 50 pessoas e levado pedradas na cabeça. O corredor foi hospitalizado.
Devido aos conflitos, o esporte no Quênia parou. Atletas não têm condições de treinar, e competições foram canceladas. Seleções de futebol que treinariam lá para a Copa da África, neste mês, desistiram de viajar.
O Quênia é um dos maiores celeiros de corredores do mundo. A preparação para o Mundial de cross country, na Escócia, em março, já foi afetada. O Nacional da modalidade está suspenso. A federação local de atletismo informou ontem que só tomará providências quando a situação no país se normalizar, lamentou a morte de Sang e disse que os atletas já foram "terrivelmente afetados".
A maior parte dos corredores de elite quenianos são das tribos kalenjin e kikuyu. Esta última representa cerca de 22% da população e é o principal alvo dos ataques desde que o presidente Mwai Kibaki, do mesmo grupo, foi reeleito. Existem denúncias de fraude na eleição.
Entre os destaques kikuyus estão a quatro vezes campeã da Maratona de Boston, Catherine Ndereba, e Samuel Wanjiru, 21, o mais jovem recordista mundial do atletismo -detém o recorde da meia-maratona.
Nas provas de fundo da modalidade, os quenianos respondem atualmente por mais de 50% da lista das 50 melhores marcas de todos os tempos.


Com agências internacionais

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