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Conflitos no Quênia isolam campeões
Corredores fazem pré-temporada em CT mantido por recordista perto do local onde 50 pessoas morreram queimadas
Atletas pediram ajuda da embaixada da Holanda para deixar cidade; campeão mundial da maratona foi ferido e está hospitalizado
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O centro de treinamento de
Iten é conhecido como paraíso
para corredores de longa distância que procuram os efeitos
da altitude e os segredos dos
principais nomes do esporte.
Desde que os conflitos no
Quênia começaram, no entanto, o local se transformou em
uma espécie de prisão para
atletas de elite que buscaram
ali refúgio na pré-temporada.
O complexo é mantido por
Lornah Kiplagat, recordista
mundial da meia-maratona e
um dos principais nomes do
atletismo. A corredora é queniana naturalizada holandesa.
O CT fica a meia hora de Eldoret, um dos principais pontos de conflitos no Quênia. Foi
ali que 50 pessoas foram queimadas vivas dentro de uma
igreja no primeiro dia do ano.
Kiplagat treinava com corredores quenianos naturalizados
estrangeiros e seu marido, o
holandês Pieter Langerhorts,
quando os combates começaram. Eles ficaram isolados em
meio a ondas de ataques.
Elias Makori, editor de esportes do jornal "The Daily Nation", conversou com os corredores. Segundo o jornalista, o
casal ficou dias sem dormir direito e teve de dar comida a
combatentes da tribo kalenjin
para evitar que o alojamento
em Iten fosse invadido.
Os atletas estrangeiros que
faziam pré-temporada no local,
como Lucia Kimani, atualmente corredora da Bósnia, e Hilda
Kibet, também naturalizada
holandesa, foram levados de
Eldoret para o aeroporto de
Nairóbi com a ajuda da embaixada da Holanda. De lá, seguiriam para o exterior.
O grupo se preparava para a
Maratona de Dubai, no dia 18.
A reportagem não conseguiu
entrar em contato ontem com
os representantes da Holanda
em Nairóbi nem com Lornah.
Os conflitos no Quênia já deixaram um ex-corredor morto,
Lucas Sang, que disputou os
Jogos Olímpicos de Seul-1988 e
vivia em um sítio em Eldoret.
O atual campeão mundial da
maratona, Luke Kibet, também
foi ferido. Ele teria sido atacado
por cerca de 50 pessoas e levado pedradas na cabeça. O corredor foi hospitalizado.
Devido aos conflitos, o esporte no Quênia parou. Atletas não
têm condições de treinar, e
competições foram canceladas.
Seleções de futebol que treinariam lá para a Copa da África,
neste mês, desistiram de viajar.
O Quênia é um dos maiores
celeiros de corredores do mundo. A preparação para o Mundial de cross country, na Escócia, em março, já foi afetada. O
Nacional da modalidade está
suspenso. A federação local de
atletismo informou ontem que
só tomará providências quando
a situação no país se normalizar, lamentou a morte de Sang e
disse que os atletas já foram
"terrivelmente afetados".
A maior parte dos corredores
de elite quenianos são das tribos kalenjin e kikuyu. Esta última representa cerca de 22% da
população e é o principal alvo
dos ataques desde que o presidente Mwai Kibaki, do mesmo
grupo, foi reeleito. Existem denúncias de fraude na eleição.
Entre os destaques kikuyus
estão a quatro vezes campeã da
Maratona de Boston, Catherine Ndereba, e Samuel Wanjiru,
21, o mais jovem recordista
mundial do atletismo -detém
o recorde da meia-maratona.
Nas provas de fundo da modalidade, os quenianos respondem atualmente por mais de
50% da lista das 50 melhores
marcas de todos os tempos.
Com agências internacionais
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