São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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JUCA KFOURI

A Copa do Mundo da mentira


Fala-se em construir 12 arenas para receber a Copa e que faltam estacionamentos hoje em nossos estádios


CONTAREI AQUI o que vi.
Nada que ninguém tenha me contado.
Desde 1982, na Espanha, cubro Copas do Mundo.
Nem em Sevilha, nem em Barcelona, cidades onde a seleção brasileira jogou, havia estádios novos. Nem em Madri, palco da final.
No México, em 1986, a mesma coisa: nenhum estádio novo.
Já na Itália, em 1990, teve um, em Turim, o estádio Delle Alpi. E só.
Nos Estados Unidos, no país mais rico do mundo, em 1994, então, também nenhum, sendo que o Brasil jogou no estádio universitário de Stanford e em campos adaptados para o futebol.
Fora os centros de imprensa feitos de madeira pré-moldada.
Na França, em 1998, de novo apenas o Stade de France, no subúrbio de Paris, mas o Parque dos Príncipes foi, naturalmente, usado.
Jogou-se, aliás, até no velho campo de Marselha, construído para a Copa do Mundo de... 1938!
O que originou um comentário de Ricardo Teixeira: "Se aqui pode ter jogo de Copa, o Brasil também pode organizar uma".
E ele tinha toda razão.
Mas, ao que parece, mudou de opinião. É bem verdade que, somente sobre o Maracanã, já mudou de opinião três vezes.
Sim, bem sei que as Copas na Ásia e na Alemanha modificaram conceitos, com a construção de uma porção de arenas, com dinheiro a rodo, modelo que a África do Sul tenta seguir -até porque não tinha estádios que pudessem receber uma Copa.
Mas o Brasil tem.
Quando se argumenta, por exemplo, que Maracanã e Morumbi não têm estacionamentos, são cometidos dois crimes: contra os fatos e contra o meio ambiente.
Na Alemanha, era preciso andar muito a pé para chegar a suas modernas arenas.
O novíssimo estádio do Arsenal nem estacionamento tem.
Tudo de acordo com, estes sim, novos conceitos, de evitar excesso de veículos e seus gases poluentes, para proteger a natureza.
O novo Wembley terá um estacionamento que será a metade do que tinha no velho Wembley.
Claro, Londres tem mais de 400 quilômetros de metrô, mas é nisso que precisamos pensar para 2014, e não em estacionamentos.
Conceda-se, por sinal, ao presidente da CBF, que ele anda mesmo preocupado com metrôs.
Tanto que ligou duas vezes para o governador de São Paulo, José Serra, para manifestar seu descontentamento com a nomeação de José Luiz Portella para a Secretaria de Transportes Metropolitanos.
Não satisfeito, aproveitando-se da boa relação do publicitário Nizan Guanaes, encarregado por ele de fiscalizar o atendimento ao caderno de encargos da Fifa, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também ligou para ele, pois vê em
Portella um obstáculo aos seus projetos. Portella, lembremos, foi o mentor do Estatuto do Torcedor e da chamada Lei da Moralização do Futebol, torpedeados por Teixeira e seus cartolas.
Ou, talvez, Teixeira queira mesmo que Barueri receba a Copa e queira levar o metrô paulistano, que é mais do que insuficiente hoje, para fora do município, algo que ninguém de bom senso aprovará.
O incrível nisso tudo é ver o governo federal, que pagará a maior parte da conta da eventual Copa do Mundo no país, assistir a tudo calado, como se abrisse mão de influenciar a escolha das cidades e dos locais das partidas.
Locais que serão usados, no máximo, para receber três jogos da Copa, evento que dura um mês.
Precisamos mesmo de 12 novos estádios ou de um mínimo de transparência e vergonha na cara?

blogdojuca@uol.com.br


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