São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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FUTEBOL

Erres

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Ronaldo, Romário, Rivaldo. Três dos nomes mais ouvidos como saudação quando um brasileiro viaja pelo mundo; três jogadores sobre os quais os brasileiros adoram discordar.
Muitos já sugeriram a aposentadoria dos três -a de Ronaldo, depois das cirurgias; a de Romário, a cada dor na coxa; e agora a de Rivaldo, rapidamente divorciado do que parecia um bom casamento com o vitorioso Cruzeiro e o competente Luxemburgo.
Há três tipos de opiniões sobre Rivaldo: há quem defenda que ele é um grande jogador, injustiçado; muitos já foram fãs de Rivaldo, mas não o vêem agora sequer como bom jogador; e há os que nunca enxergaram seu bom futebol.
Sempre se fala na baixa inclinação de Rivaldo para a autopromoção como uma das explicações para a rejeição de parte da torcida. Mas há atletas antipáticos, arrogantes ou mal-humorados que são adorados pela multidão. Romário, por exemplo, não faz o menor esforço para ser agradável -às vezes até se esforça para não ser. E também não se pode dizer que seja "marqueteiro": curte a sua balada, o futevôlei e as peladas, mas não vive em eventos sociais e publicitários.
Rivaldo era adorado no Palmeiras, com o jeitão arredio que tem hoje. A platéia dos shows do Mundo Livre S/A, em São Paulo, adorava cantar o verso "Eu só queria ser Rivaldo". Acho que não é o modo de ser do meia (atacante?) que afasta as pessoas, mas a própria maneira de jogar.
Tostão definiu perfeitamente o "estilo" de Rivaldo no trato com a bola -recebe, domina, ajeita e, depois, decide o que vai fazer.
Muitas vezes a decisão é "partir pra cima" de dois ou três marcadores. A cena se repete mil vezes: Rivaldo é ensanduichado pelos rivais, perde a bola e cai, enquanto algum companheiro bem colocado esperava um lançamento.
Por que será que ele insiste tantas vezes na mesma jogada? Vontade de provar que é capaz? Rivaldo deveria estar acima disso, mas não é fácil domar sentimentos incômodos. Mesmo sem perceber, mesmo acreditando nas próprias palavras de que "não preciso provar mais nada", o jogador pode ter o impulso inconsciente de tentar "calar a boca" dos detratores -e quanto mais tenta, sem querer tentar, mais se confunde e repete os erros.
Com o tempo, os craques se tornam mais econômicos e eficientes -correm menos porque se posicionam melhor e sabem a inutilidade de alguns piques; tocam menos a bola, mas aproveitam melhor as chances. Rivaldo, ao contrário, parece ter consolidado os maus hábitos -prender a bola, baixar a cabeça, tentar o drible previsível, ocupar a mesma faixa do campo. Será que nenhum técnico conseguiria corrigir os defeitos e recuperar suas qualidades? Um psicólogo seria inútil?
É compreensível que Rivaldo seja dado como "acabado" para o futebol. Mas já dissemos isso de muitos e erramos bastante. Quem sabe uma passagem pelo seu velho Santa Cruz lhe faça bem. Se Ronaldo é um fenômeno, Rivaldo é o enigma.

(In)compatibilidade
Luxemburgo e os irmãos Perrella se parecem muito -são tão competentes quanto vaidosos; tão capazes de organizar quanto de desestruturar um time.

Impossibilidade
Listas de melhores só são justas se forem completamente desvinculadas de preocupações políticas, mercadológicas, etc. "Os Cem da Fifa" nunca estariam livres de distorções... É evidente que alguns atletas só foram escolhidos para que seus países fossem contemplados.

Menos
Nas passeatas promovidas pela Força Sindical pedindo a volta dos bingos, uma oradora comparava a MP que fechou os estabelecimentos ao ataque do 11 de Setembro. Assim não dá...

E-mail soninha.folha@uol.com.br


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