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Primeiro goleador do Corinthians acabou palestrino
Autor de gol histórico do alvinegro foi atrás do irmão no Palestra Itália e gerou descendentes nos 2 lados da paixão
Luiz Fabi foi preterido no time pelo filho do doador de uma bandeira corintiana e virou as costas para o clube mais popular de São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos primeiros capítulos
da rivalidade entre Corinthians
e Palmeiras foi escrito por um
personagem histórico do time
alvinegro, logo depois da fundação do Palestra Itália.
Luiz Fabi já estava nos anais
corintianos por ter sido o autor
do primeiro gol da história do
clube, em setembro de 1910.
Quatro anos mais tarde, porém, uma briga no time alvinegro o motivou a ir atrás de seu
irmão, Matturo, que já defendia
o Palestra Itália, clube da colônia que acabara de ser criado
por amigos seus.
"Meu pai deixou o Corinthians por causa de uma bandeira", narra Luiz Fabi Júnior,
que completa 82 anos de idade
na próxima semana.
Ele conta que, para o time entrar numa disputa, era necessária uma bandeira do Corinthians, que nenhum dos jogadores tinha condição de bancar. "Naquele tempo, o Corinthians era pobre, meu pai sempre contava que os calções
eram feitos de sacos."
A solução surgiu com uma
parceria. Um investidor topou
arcar com o estandarte, mas
impôs a escalação de seu filho
no torneio. Ficou definido que
o sacrificado seria Luiz Fabi.
"Ele era sangue-quente e
bravo, revoltou-se e resolveu
jogar no Palestra. Era amigo
dos fundadores e o irmão dele
já jogava lá", conta Luiz Júnior.
Mas a participação do primeiro artilheiro corintiano no
Palestra Itália não foi longa. Ele
dizia ter jogado algumas partidas, mas só há registro de uma,
contra o Paulistano, no campo
do velódromo em 1914. Até hoje
a foto está com seu filho.
"Meu tio, Matturo, que jogou
mais tempo. Ele virou técnico
do Palmeiras durante três temporadas, indicava jogadores para o time e tudo. Depois, conseguiu ser técnico da Juventus de
Turim, mas precisou voltar ao
Brasil porque não se readaptou
ao frio da Itália."
Apesar de ter defendido o
Palmeiras menos vezes e sem
grande destaque, Luiz Fabi
abraçou de vez as cores do time.
A maior motivação era a fidelidade à origem italiana, tanto
que nunca cedeu aos apelos para se naturalizar brasileiro.
Mas havia espaço também para
mágoa. Nem o convite do Corinthians para a celebração do
título do quarto centenário, em
1954 (ou 40 anos depois do episódio da bandeira), ele aceitou.
Depois que pendurou as chuteiras, Luiz Fabi tornou-se funileiro e metalúrgico e nunca
deixou de freqüentar o Palmeiras com seus filhos. Mas não tinha tanto entusiasmo assim
em torcer pelo time.
"Ele não era muito de ir nos
jogos, mas fez seus filhos palmeirenses também. Foi só a outra geração que virou corintiana", explica Júnior sobre os netos e os bisnetos de Luiz Fabi,
todos torcedores do time do
Parque São Jorge.
Não adiantou nem o entusiasmo de dona Elsie Fabi, 79,
nora do autor do primeiro gol
corintiano e nascida em outra
família palmeirense convicta.
Ela e Júnior tentaram seguir
o script de Luiz Fabi, levando
os filhos quase diariamente para o Parque Antarctica.
Mas o tiro saiu pela culatra, e
os corintianos mais fanáticos
são justamente os descendentes de Júnior.
"Meu irmão mais velho, o
Luiz Fabi Neto, era o mais fanático e o seguimos. Apesar de sócios e freqüentadores do Palmeiras, o coração é corintiano",
conta Humberto Fabi, 50, o
terceiro filho de Júnior.
Humberto diverte-se ao lembrar que, quando era garoto,
sempre comentava com os colegas de futebol que seu avô era
um personagem ilustre na história do Corinthians. "Mas eles
nunca acreditavam", afirma.
Ele diz ainda que, antigamente, não fazia segredo do seu
time, nem no Palmeiras. Hoje,
prefere não alardear que é corintiano dentro do clube.
A missão é mais dura para
seu filho de 27 anos, que tatuou
nas costas -para a desaprovação da avó- um símbolo do time que o ancestral Luiz Fabi
rejeitou há quase um século.
O apreço de seu bisneto pelo
Corinthians é proporcional ao
ressentimento que o primeiro
artilheiro do clube carregou até
o fim da vida.
Em 1966, meses antes de
morrer de câncer no pulmão,
Luiz Fabi foi presenteado com
uma carteirinha de sócio remido do Corinthians pelos serviços prestados como jogador.
"Mas ele nem quis saber de ir lá.
Dizia que não tinha o que fazer
no Corinthians", diz Júnior.
Mas o clube que fez Luiz Fabi
entrar na história do futebol e
que ele tanto repudiou durante
a vida foi o único que lhe prestou homenagens póstumas. Sobre seu caixão, só havia uma
bandeira alvinegra.
"O Palmeiras, de que ele tanto gostava, não se lembrou de
homenageá-lo. Foi só o Corinthians, de onde ele saiu brigado
por causa de uma bandeira, que
se lembrou dele na morte", relata Júnior, antes de dar seu
palpite para o derby de hoje.
"Sempre que tem o clássico,
quero que seja empate, assim,
eu, minha mulher, meus filhos
e meus netos ficamos felizes."
(LUÍS FERRARI E PAULO GALDIERI)
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