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JOSÉ ROBERTO TORERO
Micos-leões-dourados
Em todo o mundo, os simpáticos miúdos correm perigo, especialmente no futebol nacional
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VERDE LEITOR , rosada leitora,
vocês lembram do mico-leão-dourado? Aquele simpático
macaquinho que virou o símbolo
das espécies em risco de extinção no
Brasil?
Pois no futebol nacional também
há alguns micos-leões-dourados.
Na Bahia, por exemplo, temos o
Galícia, time fundado por imigrantes espanhóis e que ganhou cinco
Estaduais e nove vices. Ou seja, é um
time com história respeitável. E revelou jogadores como o lateral-direito Toninho, da seleção de Cláudio
Coutinho, e os atacantes Washington e Oséas.
Mas em 1999 o Galícia caiu para a
segunda divisão e acabou desativando o departamento de futebol. Voltou apenas em 2006. No ano passado, entre os seis clubes que disputaram a segunda divisão baiana, ficou
em segundo lugar. Dolorosamente,
só o campeão subia.
O charmoso Bangu também está
em risco de extinção. E seria uma
pena, pois perderíamos o campo
com o mais belo nome do país, o romântico estádio de Moça Bonita. O
time foi campeão carioca em 33 e 66
e vice brasileiro em 85, teve craques
incontestáveis como Zizinho e Domingos da Guia, mas caiu em 2004 e
não conseguiu mais subir.
Outro mico-leão-dourado carioca
é o vetusto São Cristovão, de 110
anos de idade. O campeão de 1926
teve a glória de revelar Ronaldo Fenômeno, mas está há mais de dez
anos na segunda divisão carioca. E,
tristemente, no ano passado ficou só
em décimo lugar na Segundona.
O Ypiranga, time de Jorge Amado,
fundado em 7 de setembro de 1906
por trabalhadores negros e pobres,
também está na lista dos clubes em
perigo. Já foi dez vezes campeão e
dez vezes vice na Bahia, mas em
2006 foi o último colocado da segunda divisão. E em 2007 nem participou do campeonato.
O América mineiro, que enverga
uma das camisas mais bonitas do
país e teve jogadores como Tostão,
Fred e Tancredo Neves, também pode estar começando a correr perigo.
O time foi o último colocado da primeira divisão em 2007, foi rebaixado e hoje ocupa um modesto quarto
lugar na segunda divisão. Quinze vezes campeão estadual (dez delas seguidas!), o América pode estar começando a traçar o mesmo caminho
de Ypiranga e Galícia. Mas tem um
bom patrimônio, e isso ajuda muito.
Micos-leões-dourados também
pululam pelo interior de São Paulo.
É o caso do Jabaquara, clube que revelou Gilmar e Baltasar. O Jabuca
era tão bom que quase matou uma
lenda. Explico: é que, na decisão de
uma espécie de torneio municipal
de juniores, um garoto do Santos
chamado Edison (com "i") perdeu
um pênalti contra o Jabaquara. O
erro custou o título. O menino ficou
tão desiludido que fez sua malinha e
quis voltar para Bauru. Por sorte, foi
impedido pelo roupeiro e virou Pelé.
Hoje em dia, o Jabaquara está na
quarta divisão e vários jogadores
sem clube usam seu campo para
treinar. Ironicamente, Jabaquara
significa "refúgio dos fugitivos".
Mas os micos-leões-dourados não
são exclusivos do futebol. Grandes
cervejarias compram as miúdas,
shoppings acabam com as pequenas
lojas de bairro, empresas globais engolem as locais.
Em todo o mundo, os simpáticos
miúdos correm perigo.
torero@uol.com.br
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