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XICO SÁ
É créu neles!
A CBF fez como no escândalo da dengue. Na dúvida, prenda o mosquito. Proíba-se a dança, afinal estamos na Inglaterra
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, na total falta de uma boa
lavagem de roupa, os cartolas
da CBF legislam contra a dança do
créu. No Brasil, é assim, e não só nas
danações ludopédicas, diante de
qualquer manifestação de alegria
barulhenta e anárquica, nosso pendor vocacional por excelência, vem
logo o memorando das autoridades:
prendam os suspeitos de sempre.
É a dança de classes, é a luta do
créu! A nova ordem é proibir a alegria, a prova dos noves, ainda mais
uma coisa de "mau gosto" dessas,
uma dança suburbana da laje, testosterona de pobre, epa, tem limite.
Se pelo menos fosse "MPB de qualidade", bossa nova, um barquinho vai
do Arpoador ao Leblon, um jazz da
turma do charuto e do bom vinho...
É, amigo, a CBF, inspirada nas leis
da Fifa, essa senhora gélida que
sempre ignorou Eros e vive abraçada à velha da foice, baixa agora uma
nova cartilha para os árbitros.
Moral do parágrafo único: fica terminantemente proibida a alegria
dentro de campo, sob pena de receber cartão amarelo, vermelho, punição pelo videoteipe. Cotovelada,
dois, três jogos, no máximo; alegria à
vera, o cara está banido para sempre.
Em outras palavras, não pode provocar a torcida adversária. Vamos
todos esquecer que a graça do futebol é essa? Só por que meia dúzia de
malucos, em Santa Catarina ou na
terra da rainha, perde a esportiva?!
É como no escândalo da dengue.
Na dúvida, prendam o mosquito, esse violonista punk e dodecafônico da
moléstia.
É o que acontece diante da incompetência generalizada da falta de segurança pública. Na dúvida, proíba-se a dança do créu e suas bundas fantásticas, nossos lindos latifúndios
dorsais, a riqueza da nossa pátria
classe C, que ignora os patinhos milionários da bossa nova.
Na dúvida, proíba-se o erotismo
explícito da mestiçagem, dos meninos que saíram dos morros para brilhar no Maraca, o mais lindo dos domingões ensolarados do planeta tão
logo a moedinha gira no ar e os capitães do Fla-Flu decidem para que lado passa a correr o vento.
Proíba-se a dança do créu, afinal
de contas estamos na Inglaterra, nas
terras frias onde fazer sexo é uma
ofensa contra o reinado.
Diante de tal cartilha moralista, só
nos resta cantar aquela do Paulinho
Soares: "O patrão mandou cantar
com a língua enrolada/ Everybody
macacada, everybody macacada/ E
também mandou servir uísque na
feijoada/ Do you like this, macacada? Do you like this, macacada?".
Muamba mental
Toda retranca é legítima, assim
como é lindo e legal todo gol de letra. Por que não é legítima a retranca quando se trata de clube paraguaio jogando no Brasil? Das tevê
aos nossos ilustrados colunistas, o
preconceito contra os hermanos,
como se todos fossem contrabandistas, foi a moral da história do tricolor contra o Sportivo Luqueño.
Sim, trata-se de muamba mental
do inconsciente moralista, mas peguem leve os aperreados com o 0 a
0 que o time de Luque segurou.
Sim, para secador que se preza, foi
0 a 0. O gol do Imperador, que a inteligente torcida do São Paulo queria fora do time desde que chegou,
foi para lá dos 49, contrabando do
cronômetro. Mas, se foi do menino
Adriano, que joga aqui do lado, vale.
xico.folha@uol.com.br
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