São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Nem vuvuzela escapa da pressão de patrocinadores

Penas para quem desobedecer às leis criadas para a Copa na África do Sul vão de multa pesada a prisão por 6 meses

País-sede do Mundial tem cerca de 300 mil pessoas trabalhando no comércio informal, que devem sentir o efeito das novas restrições

DE JOHANNESBURGO

As restrições da Fifa à exibição de logomarcas ou quaisquer símbolos que lembrem a Copa do Mundo não são novidade. Novos são o ambiente em que esta "limpeza" ocorre agora e as suas consequências.
Regras similares foram estabelecidas durante a Copa da Alemanha, em 2006. Mas na África do Sul, onde o comércio informal movimenta 15% do PIB e emprega cerca de 300 mil pessoas, os efeitos serão bem mais sentidos pela população.
Ao redor dos dez estádios utilizados no Mundial, a maioria em locais de grande densidade urbana, será criada uma "zona de exclusão" de 1 km de raio. O mesmo se aplicará às imediações de locais de treinamento, hotéis utilizados por equipes, praças, centros de mídia e as principais rotas de acesso, como avenidas e estradas.
O objetivo é proteger os patrocinadores da Fifa e da Copa do chamado "marketing de emboscada". Nessas áreas, anúncios de concorrentes das empresas patrocinadoras do Mundial serão proibidos. Alguns estabelecimentos poderão ter de fechar durante o torneio.
"Ainda estamos conversando com a prefeitura para ver o que vai acontecer conosco", disse o gerente de uma filial da rede de fast food KFC que funciona ao lado do estádio de Ellis Park, em Johannesburgo (o concorrente McDonald's é patrocinador da Copa desde 1994 e tem contrato válido até 2014).
Em todo o país, será proibido o comércio de produtos com a mais leve referência a um dos muitos termos registrados pela entidade, mesmo que seja uma simples vuvuzela com a inscrição "Copa do Mundo" numa banquinha de camelô.
Um bar não poderá colocar um cartaz anunciando a transmissão de jogos da "África do Sul 2010", por exemplo.
Procurada pela Folha, a entidade que promove a Copa enviou um documento explicando a necessidade de defesa dos seus patrocinadores, conglomerados como Coca-Cola, Adidas, Castrol, Visa e Sony.
"A proteção dos direitos exclusivos é fundamental para o financiamento da Copa do Mundo de 2010", afirma a Fifa.
Segundo a entidade, "qualquer uso não autorizado das marcas oficiais coloca os interesses da comunidade mundial do futebol sob risco".
"Os detentores de direitos de comercialização da Fifa só vão investir na Copa se tiverem certeza da exclusividade no uso das marcas. Se qualquer um pudesse usar livremente as marcas, não haveria razão para um grupo se tornar um patrocinador da Fifa", completa.
A justificativa comercial pode se tornar um problema de relações públicas para a Fifa.
A possibilidade de senhoras idosas serem obrigadas a remover suas barraquinhas de frutas para abrir caminho a Big Macs já gera acusações de que a primeira Copa do Mundo no continente mais pobre do planeta só beneficiará os mais ricos.
A punição para infratores é draconiana. Quem for pego pela polícia atuando de alguma forma como "obstáculo" às marcas oficiais receberá multa de 10 mil rands (R$ 2.500), uma fortuna para ambulantes e pequenos comerciantes do país. Pior: poderá receber pena de até seis meses de prisão. (FÁBIO ZANINI)


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