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Nem vuvuzela escapa da pressão de patrocinadores
Penas para quem desobedecer às leis criadas para a Copa na África do Sul vão de multa pesada a prisão por 6 meses
País-sede do Mundial tem cerca de 300 mil pessoas trabalhando no comércio informal, que devem sentir o efeito das novas restrições
DE JOHANNESBURGO
As restrições da Fifa à exibição de logomarcas ou quaisquer símbolos que lembrem a
Copa do Mundo não são novidade. Novos são o ambiente em
que esta "limpeza" ocorre agora e as suas consequências.
Regras similares foram estabelecidas durante a Copa da
Alemanha, em 2006. Mas na
África do Sul, onde o comércio
informal movimenta 15% do
PIB e emprega cerca de 300 mil
pessoas, os efeitos serão bem
mais sentidos pela população.
Ao redor dos dez estádios utilizados no Mundial, a maioria
em locais de grande densidade
urbana, será criada uma "zona
de exclusão" de 1 km de raio. O
mesmo se aplicará às imediações de locais de treinamento,
hotéis utilizados por equipes,
praças, centros de mídia e as
principais rotas de acesso, como avenidas e estradas.
O objetivo é proteger os patrocinadores da Fifa e da Copa
do chamado "marketing de emboscada". Nessas áreas, anúncios de concorrentes das empresas patrocinadoras do Mundial serão proibidos. Alguns estabelecimentos poderão ter de
fechar durante o torneio.
"Ainda estamos conversando
com a prefeitura para ver o que
vai acontecer conosco", disse o
gerente de uma filial da rede de
fast food KFC que funciona ao
lado do estádio de Ellis Park,
em Johannesburgo (o concorrente McDonald's é patrocinador da Copa desde 1994 e tem
contrato válido até 2014).
Em todo o país, será proibido
o comércio de produtos com a
mais leve referência a um dos
muitos termos registrados pela
entidade, mesmo que seja uma
simples vuvuzela com a inscrição "Copa do Mundo" numa
banquinha de camelô.
Um bar não poderá colocar
um cartaz anunciando a transmissão de jogos da "África do
Sul 2010", por exemplo.
Procurada pela Folha, a entidade que promove a Copa enviou um documento explicando a necessidade de defesa dos
seus patrocinadores, conglomerados como Coca-Cola, Adidas, Castrol, Visa e Sony.
"A proteção dos direitos exclusivos é fundamental para o
financiamento da Copa do
Mundo de 2010", afirma a Fifa.
Segundo a entidade, "qualquer uso não autorizado das
marcas oficiais coloca os interesses da comunidade mundial
do futebol sob risco".
"Os detentores de direitos de
comercialização da Fifa só vão
investir na Copa se tiverem
certeza da exclusividade no uso
das marcas. Se qualquer um
pudesse usar livremente as
marcas, não haveria razão para
um grupo se tornar um patrocinador da Fifa", completa.
A justificativa comercial pode se tornar um problema de
relações públicas para a Fifa.
A possibilidade de senhoras
idosas serem obrigadas a remover suas barraquinhas de frutas
para abrir caminho a Big Macs
já gera acusações de que a primeira Copa do Mundo no continente mais pobre do planeta
só beneficiará os mais ricos.
A punição para infratores é
draconiana. Quem for pego pela polícia atuando de alguma
forma como "obstáculo" às
marcas oficiais receberá multa
de 10 mil rands (R$ 2.500),
uma fortuna para ambulantes e
pequenos comerciantes do
país. Pior: poderá receber pena
de até seis meses de prisão.
(FÁBIO ZANINI)
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