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BASQUETE
As contas de Nenê
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Muitas vezes , a garotada
dos fóruns e blogs da internet parece mais fluente em estatísticas, o idioma universal do
basquete, do que em português.
Da semana retrasada para cá,
vi muita gente encantada por um
cálculo tão antigo quanto interessante: o "plus/minus x 48".
Ao contrário de outros cruzamentos de dados, esse não se
preocupa com ponto, rebote e assistência nem com desarme e arremesso torto. Tampouco pede
fórmula estrambótica. (Só arruína o anotador, que deve depurar
o placar a cada substituição.)
O "plus/minus x 48", doravante
aqui reduzido a "PM48", é a diferença entre o total de pontos marcados e o de pontos sofridos que a
equipe registra quando determinado atleta figura em quadra
-tudo ponderado por 48 minutos, o tempo da partida da NBA.
Ele possui ainda uma variação:
o que acontece com o time quando tal jogador não está atuando.
A conta "subiu a arquibancada" no Brasil porque, para espanto geral, Nenê brilhou no ranking
da primeira fase do campeonato.
O "PM48" do Denver foi de +5,4
quando o ala-pivô esteve em ação
e de -6,6 quando ele esquentou o
banco. O saldo (+12) alçou o brasileiro à sexta posição entre os
mais de 400 colegas de torneio.
À frente dele, surgiram somente
medalhões: Kevin Garnett (+17,9)
e Sam Cassell (+13,1), do Minnesota; Brad Miller (+13), do Sacramento; Jason Kidd (+12,6), do
New Jersey; e Shaquille O'Neal
(+12,3), do Los Angeles Lakers.
Batata, bastou para que os mais
afoitos pusessem Nenê no patamar dessas superestrelas, no time
perfeito, entre os que garantem
sozinhos a vitória. Aleluia!
É natural. O embalo do sábado
à noite na TV aberta, a vibração
com a participação do compatriota, o fascínio ante uma competição hipercolorida... Cevado pela
NBA, o basqueteiro brasileiro
cresce. E, qual adolescente, formula perguntas e se deslumbra
com as respostas que obtém.
Decerto ele se surpreenderá ao
saber que o "PM48" de Carmelo
Anthony, o grande astro do Denver, foi negativo (-1,3) neste ano.
Ou que o de Nenê nos playoffs,
contra o Minnesota, ficou em -15.
Ora, dirá nosso afobado basqueteiro, diante desses outros números, que o talentoso Carmelo
não passa de truque de marqueteiro? Que foi o brasileiro quem
selou a eliminação da sua equipe?
O "PM48" mede o impacto do
atleta e pode até descrever o "balanço químico" de um time. Mas
de jeito nenhum pretende retratar o nível técnico, separar o bom
do ruim -tanto que o nono colocado no ranking da fase de classificação foi o grosso Jeff Foster (Indiana), 11 postos à frente do fabuloso Tim Duncan (San Antonio).
O Denver jogou o ano todo acelerando logo no primeiro quarto,
a fim de disparar no placar. Nenê,
titular, participava da correria e,
depois, geralmente pendurado
em faltas, via o rival desconstruir
a vantagem. Daí, seu "PM48" alto. Nos playoffs, mais mascados,
seria impossível repetir o índice.
Nada contra a onda teen, "blogueira", de radiografar o esporte,
pois, às vezes, a insolência aponta
o futuro. Mas o basquete requer, e
merece, reflexões adultas.
Brazuca 1
O "Denver Post" mordeu a isca do agente de Nenê e Leandrinho e
anunciou um "novo Hulk" brasileiro para a NBA. A imprensa daqui
bateu palmas e até encampou o apelido criado pelo repórter americano, sem saber que Cleiton Sebastião, o "super-herói" de 2,10 m,
não emplacou neste ano nem no Minas, oitavo lugar do Nacional.
Brazuca 2
O armador Marcelinho (Paulistano) promete anunciar nesta semana
a programação de sua cruzada por uma vaga na liga americana.
Brazuca 3
O site especializado nbadraft.net aposta em cinco brasileiros no próximo "draft" da NBA. Eu? Vou só de Rafael Araújo, o pivô Baby.
E-mail melk@uol.com.br
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