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Torcida gravita em torno de Ronaldo
Craque causa tumulto nos bastidores, frisson na arquibancada, ódio da torcida rival e, no final, não vê a taça de campeão
Até faixa do título ganha
em destaque o nome do atacante, que faz estádio explodir como se fosse gol só por ser anunciado no placar
ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um exército munido de
câmeras digitais e celulares
(com câmeras, claro). A densidade populacional no estreito
corredor que fica atrás do tobogã e serve para levar os atletas
aos vestiários chega ao limite.
Não é possível mais se mexer. O
Corinthians e seu maior astro,
Ronaldo, estavam chegando.
Ainda eram 14h38 quando o
jogador passou pelos bastidores do Pacaembu. Foi rápido,
pouco mais de um segundo.
Não houve acenos nem uma
única palavra para a multidão
que se acotovelava. Vê-lo tão de
perto, porém, a fazia esquecer
por instantes o perrengue.
Subitamente, o povo dispersa e o corredor, ainda estreito,
volta a ser um local habitável.
Fora do estádio havia muitos
camisas 9 -um verdadeiro desfile de uniformes que tiveram
Tupãzinho, Viola e Nilmar, entre outros, como recheio.
Lá dentro do Pacaembu, entretanto, camisa 9 parecia haver um só. E ele já tinha sumido
de cena, rumo ao vestiário, de
onde só saiu para cantar o Hino
Nacional e ajudar seu time a
conquistar mais uma taça.
Troféu que, por sinal, tinha
desembarcado no estádio 25
minutos antes, embalado em
plástico e papel e conduzido
por um séquito de 18 seguranças engravatados e por um grupo de seis policiais militares.
"Entrega ela direto pro Ronaldo", grita um corintiano
pendurado perigosamente numa mureta do tobogã. Mais periclitante do que ele, só mesmo
os três vendedores ambulantes
que, após escalar o teto do ginásio contíguo ao estádio, subiram a torre de manutenção do
placar eletrônico e saltaram
agilmente na arquibancada.
Ontem, uma faixa de campeão não bastava. Além do título, ela tinha de ter ainda uma
referência nobre ao principal
jogador do Corinthians. Os camelôs ofereciam dois modelos:
"Ronaldo é Corinthians" e "Ronaldo e um bando de loucos".
Todas vendiam como água.
O placar mostra Corinthians
2 x 5 Santos, mas a torcida nem
liga. Foi o resultado da preliminar, válida pelo Estadual feminino. O confronto que interessava ainda estava por vir.
Num cantinho do estádio que
parecia superlotado, ontem
disparado o mais espaçoso,
pouco mais de 1.000 pessoas
eram as únicas que não estavam ali para reverenciar o rotundo craque. Eram santistas,
munidos apenas de sua fé e um
conveniente problema técnico:
um microfone instalado na mesa que controlava o som dos alto-falantes amplificou seus vários cânticos otimistas.
São 15h51 e o estádio explode
como se fosse gol. Era a imagem de Ronaldo que aparecia
no placar. "Travesti!", ensaiam
alguns santistas cujos gritos
acabam sufocados pelo ruídos
de outras 35 mil pessoas.
Estas, em ampla maioria, exibem uma coleção de marcas
-as que forram o uniforme de
seu time amado. Um patrocinador fez bandeiras, o outro, faixas, e um terceiro, bexigas.
O Santos já está ganhando e
há um clima de apreensão no
ar. Sempre que toca na bola,
Ronaldo provoca frisson, inquietação, como se sempre fosse fazer alguma coisa diferente.
Quem fez, ontem, foi Dentinho, no lance que originou o gol
de André Santos. E o atacante
festejou com Ronaldo, não o de
verdade, mas um rosto estampado numa faixa colocada nas
cadeiras laranjas do estádio.
Quando perde uma chance
de gol, como a que teve numa
cabeçada que deixou passar, o
torcedor não protesta. Ele ri.
E ri mais ainda quando vê
Ronaldo com os braços erguidos no final da partida. Depois
disso, o atacante some. Mas só
até o próximo espetáculo.
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