São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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Torcida gravita em torno de Ronaldo

Craque causa tumulto nos bastidores, frisson na arquibancada, ódio da torcida rival e, no final, não vê a taça de campeão

Até faixa do título ganha em destaque o nome do atacante, que faz estádio explodir como se fosse gol só por ser anunciado no placar


ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um exército munido de câmeras digitais e celulares (com câmeras, claro). A densidade populacional no estreito corredor que fica atrás do tobogã e serve para levar os atletas aos vestiários chega ao limite. Não é possível mais se mexer. O Corinthians e seu maior astro, Ronaldo, estavam chegando.
Ainda eram 14h38 quando o jogador passou pelos bastidores do Pacaembu. Foi rápido, pouco mais de um segundo. Não houve acenos nem uma única palavra para a multidão que se acotovelava. Vê-lo tão de perto, porém, a fazia esquecer por instantes o perrengue.
Subitamente, o povo dispersa e o corredor, ainda estreito, volta a ser um local habitável.
Fora do estádio havia muitos camisas 9 -um verdadeiro desfile de uniformes que tiveram Tupãzinho, Viola e Nilmar, entre outros, como recheio.
Lá dentro do Pacaembu, entretanto, camisa 9 parecia haver um só. E ele já tinha sumido de cena, rumo ao vestiário, de onde só saiu para cantar o Hino Nacional e ajudar seu time a conquistar mais uma taça.
Troféu que, por sinal, tinha desembarcado no estádio 25 minutos antes, embalado em plástico e papel e conduzido por um séquito de 18 seguranças engravatados e por um grupo de seis policiais militares.
"Entrega ela direto pro Ronaldo", grita um corintiano pendurado perigosamente numa mureta do tobogã. Mais periclitante do que ele, só mesmo os três vendedores ambulantes que, após escalar o teto do ginásio contíguo ao estádio, subiram a torre de manutenção do placar eletrônico e saltaram agilmente na arquibancada.
Ontem, uma faixa de campeão não bastava. Além do título, ela tinha de ter ainda uma referência nobre ao principal jogador do Corinthians. Os camelôs ofereciam dois modelos: "Ronaldo é Corinthians" e "Ronaldo e um bando de loucos". Todas vendiam como água.
O placar mostra Corinthians 2 x 5 Santos, mas a torcida nem liga. Foi o resultado da preliminar, válida pelo Estadual feminino. O confronto que interessava ainda estava por vir.
Num cantinho do estádio que parecia superlotado, ontem disparado o mais espaçoso, pouco mais de 1.000 pessoas eram as únicas que não estavam ali para reverenciar o rotundo craque. Eram santistas, munidos apenas de sua fé e um conveniente problema técnico: um microfone instalado na mesa que controlava o som dos alto-falantes amplificou seus vários cânticos otimistas.
São 15h51 e o estádio explode como se fosse gol. Era a imagem de Ronaldo que aparecia no placar. "Travesti!", ensaiam alguns santistas cujos gritos acabam sufocados pelo ruídos de outras 35 mil pessoas.
Estas, em ampla maioria, exibem uma coleção de marcas -as que forram o uniforme de seu time amado. Um patrocinador fez bandeiras, o outro, faixas, e um terceiro, bexigas.
O Santos já está ganhando e há um clima de apreensão no ar. Sempre que toca na bola, Ronaldo provoca frisson, inquietação, como se sempre fosse fazer alguma coisa diferente.
Quem fez, ontem, foi Dentinho, no lance que originou o gol de André Santos. E o atacante festejou com Ronaldo, não o de verdade, mas um rosto estampado numa faixa colocada nas cadeiras laranjas do estádio.
Quando perde uma chance de gol, como a que teve numa cabeçada que deixou passar, o torcedor não protesta. Ele ri.
E ri mais ainda quando vê Ronaldo com os braços erguidos no final da partida. Depois disso, o atacante some. Mas só até o próximo espetáculo.


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