São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2011

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TOSTÃO

Donos do jogo e da bola


Na média, os jogos no Brasil são mais violentos e menos técnicos que na Europa


RICARDO GOMES, técnico do Vasco, e Paulo César Carpegiani, do São Paulo, lamentaram os erros, nos últimos e decisivos passes e nas finalizações, nas derrotas para Flamengo (nos pênaltis) e Santos, respectivamente.
Se o Flamengo não tivesse vencido, Luxemburgo falaria o mesmo. Todos os treinadores de times que não vencem reclamam disso.
É fácil dar o primeiro e o penúltimo passe. Difícil é dar o último e ainda colocar a bola dentro do gol, fora do alcance do goleiro. Essa é a diferença.
Muitos anos atrás, Chico Buarque chamou os jogadores europeus de equilibrados e os brasileiros de equilibristas. Disse ainda que os europeus eram os donos do campo, pela disciplina tática e ocupação dos espaços, e os brasileiros, os donos da bola, pela improvisação e habilidade. Genial.
Isso mudou. Ninguém é mais dono da bola nem do campo. O estilo europeu das grandes equipes, dentro de campo, em parte por terem os melhores jogadores, é hoje menos faltoso, menos tumultuado, menos violento e mais técnico e com mais troca de passes que o brasileiro e o sul-americano.
Nem sempre é assim. Santos e São Paulo fizeram um jogo limpo e bonito. Já a primeira partida, pela Copa dos Campeões, entre Barcelona e Real Madrid, com os maiores craques do mundo, teve muita violência e pouco futebol.
Na decisão dos Estaduais, não há dúvidas de que Cruzeiro, Inter e Santos são melhores que Atlético-MG, Grêmio e Corinthians. Mas, no futebol, principalmente em clássicos decisivos, a diferença técnica fica menor. Os aspectos emocionais e o acaso participam ativamente da partida.
O acaso não tem nada a ver com o mistério. São fatos comuns, frequentes, mas que nunca sabemos onde e quando vão aparecer, como o erro de um árbitro, uma expulsão, uma bola que bate no zagueiro e cai livre para o atacante fazer o gol e tantos outros. O acaso não torce para nenhum time.
"Tudo parece fácil e concatenado quando ganhamos; tudo parece disperso e difícil quando perdemos. No entanto, é por tão pouco que se ganha e se perde. O apito final estabiliza violentamente aquilo que, no transcorrer do jogo, parece um rio catastrófico de mil possibilidades, a nos arrastar com ele", escreve o artista plástico Nuno Ramos, em "Aspectos trágicos do futebol". Genial.
Quando o imponderável entra em cena e decide as partidas, os operatórios, apaixonados pela estratégia dos treinadores, arrumam uma explicação tática, às vezes com ótimos argumentos, para explicar o inexplicável.


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