|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Copa 2006
Neonazistas pregam Alemanha pura
Partido de extrema direita faz campanha para banir jogadores negros, como Asamoah, da seleção alemã
Especialistas avaliam que
a discriminação racial não está controlada e pode se transformar na principal dor de cabeça da organização
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
"Branco. Algo mais que uma
cor. Por uma seleção realmente
branca." As palavras são fortes
e acertaram em cheio Gerald
Asamoah, primeiro negro a envergar a camisa da Alemanha.
Já corria o ano de 2006, os
alemães já haviam gastado milhões para coibir a intolerância
racial, e mesmo assim um partido de extrema direita, o NPD
(abreviação de Partido Nacional Democrata), não encontrou
entraves para atacar o que considera joio no time nacional.
Além de ofender Asamoah,
procuravam atingir também
Patrick Owomoyela, descendente de africanos e hoje fora
do elenco de Klinsmann.
A ação do grupo parece ousada, mas não é um episódio isolado. Apenas engrossa uma já
extensa lista de atentados que,
segundo especialistas, pode ganhar novo fôlego e se tornar a
principal dor de cabeça para os
organizadores da Copa, cujo jogo inicial ocorre na sexta-feira.
"A situação não está controlada. Os neonazistas ainda têm
núcleos bastante resistentes e,
como o futebol também é um
canal de expressão de valores
étnicos, é importante redobrar
os cuidados no Mundial", diz à
Folha Reiner Schiller-Dickhut,
diretor da Federação Nacional
para a Democracia e Tolerância, entidade que atua no combate à discriminação racial.
Sua tese encontra respaldo
nos números. Os alemães gastaram, de 2001 a 2005, 156
milhões (cerca de R$ 460 milhões) em 3.600 projetos para
coibir atos racistas. A violência,
porém, não cessou.
Pior: o número de atentados
praticados por movimentos de
extrema direita subiu de 12 mil
em 2004 para 14 mil em 2005.
"Todos devem se preocupar,
inclusive a Fifa. É uma triste
realidade", relata Reiner.
A entidade que comanda o
futebol já está habituada ao tema -acusações de intolerância
racial dentro e fora de campo
ganharam corpo nos últimos
anos- e promete fazer a sua
parte. Produziu, por exemplo,
faixas com os dizeres "Diga não
ao racismo" e pretende levá-las
aos estádios a partir do dia 9,
quando Alemanha e Costa Rica
fazem o jogo de abertura da Copa, em Munique.
O problema é que o outro lado também se mostra entusiasmado. Um CD com músicas do
partido e até desfiles em cidades que vão abrigar duelos do
Mundial estão na lista de protestos arquitetados pelo NPD e
divulgados no último mês em
seu site.
Procurado anteontem pela
reportagem, Sasha Rossmüller,
integrante do partido, preferiu
não detalhar os planos.
"Estou fora do escritório e
não sei qual a nossa programação. Aliás, não vou lhe dizer se
haverá alguma programação.
Talvez na próxima semana tenhamos algo."
A ousadia de discursos assim
provoca reações extremas na
sociedade. Uwe-Karsten Heye,
que trabalhou com o ex-chanceler Gerhard Schröder, disse a
uma rádio no último mês que
há regiões para as quais negros
não deveriam ir na Alemanha.
O Conselho Africano foi além:
elaborou um guia batizado de
"Não Vá". Nele estão elencadas
as cidades onde os riscos de
atentados são maiores. A região do Estado de Brandemburgo foi a mais citada.
O Ministério das Relações
Exteriores do Brasil também
preparou um manual para os
turistas que desejam acompanhar a Copa. O material, divulgado pela Embaixada Brasileira em Berlim, alerta para um
possível aumento da criminalidade, mas não toca na ferida
das manifestações racistas.
Texto Anterior: Mexicano apitará estréia, e técnico diz que não liga Próximo Texto: No Mundial, punição para racismo vale só em campo Índice
|