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Dunga elogia educação no Zimbábue
Técnico diz que não sabia de pedido de ditador para encontrar equipe
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
Dunga não foi ao encontro
de Robert Mugabe, como
queria o presidente do Zimbábue, mas fez exatamente o
jogo do ditador, que levou a
seleção ao país africano para
se fortalecer politicamente.
Ontem, ao ser questionado
sobre o motivo de não ter encontrado Mugabe, um dos
mais sanguinários ditadores
africanos, Dunga ignorou as
questões políticas do país e
preferiu fazer elogios à educação no Zimbábue.
"Para mim, é novidade isso [o encontro]. Ninguém me
comunicou isso. Fomos muito bem recebidos. Agora, o
que me chamou a atenção foi
a educação do povo. As
crianças nas ruas todas uniformizadas. As pessoas queriam chegar em você, mas
com educação", afirmou o
técnico da seleção brasileira.
O país de Mugabe tem índices de analfabetismo e investimento em educação similares aos do Brasil.
Não é a primeira vez que
Dunga evita discussões políticas ao falar sobre um país
africano. No dia da convocação da seleção, declarou que
não poderia falar se o apartheid no país da Copa foi bom
ou ruim porque não tinha vivido os mais de 40 anos de
segregação racial.
O chefe da delegação, Andres Sanchez, disse que, de
fato, foi procurado pela embaixada brasileira para marcar o encontro do time com
Mugabe, mas que decidiu
não levar o assunto adiante.
"Só não permiti por causa
do tempo, teria uma hora
apenas, e não podíamos perder o foco. Mas, por pior que
seja o cidadão, o ditador, eu
jamais proibiria alguém de
cumprimentá-lo porque é
uma questão de educação",
justificou Andres.
O amistoso, o primeiro na
reta final para a Copa, deu
ares de legitimidade para um
regime enfraquecido internamente e no exterior.
Segundo a CBF, o jogo,
que custou R$ 2,4 milhões ao
Zimbábue, serviu para "dar
alegria ao povo daquele
país". O próprio Dunga também fez questão de ressaltar
que o jogo em Harare teve esse objetivo, além de ter servido para o treinador utilizar
atletas considerados reservas, como Daniel Alves, Júlio
Baptista e o goleiro Gomes.
Após servir de propaganda política para Mugabe, o
Brasil faz outro amistoso na
segunda-feira, contra a também fraca Tanzânia.
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ,
PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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