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Dupla faz Alemanha olhar para a face "pobre"
Titulares do time, Ballack e Schneider vieram da antiga Alemanha Oriental
Leste, quase ignorado pelos organizadores da Copa, vê atletas como "vingadores" de geração que viveu sob a sombra do Muro de Berlim
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Michael Ballack é o capitão e
astro do time. Bernd Schneider
é um meia habilidoso, que alia
eficiência na marcação a um toque de bola refinado. Ambos
são queridos pela torcida. Mas,
para um grupo de alemães, seus
feitos transcendem o gramado.
Apesar de o país já estar unificado e o muro que separou
pessoas e ideologias ter tombado há 16 anos, os dois atuam como "redentores" para uma região que ainda guarda, ao menos no futebol, cicatrizes da divisão que durou quase 45 anos.
Dos 11 titulares, Ballack e
Schneider são os únicos que
nasceram na antiga Alemanha
Oriental, região quase ignorada
por organizadores da Copa e
pelas seleções do torneio.
Doze cidades abrigaram jogos, mas só Leipzig integrava a
antiga República Democrática
Alemã. Dos 32 times que começaram a disputa, só dois -os
anfitriões e a Ucrânia- treinaram em localidades comandadas por comunistas até a queda
do Muro de Berlim, em 1989.
"Não é uma segmentação deliberada. Essa diferença apenas
reflete a economia atual do
país", explica à Folha Peter
Gottschlich, cientista político
da Universidade de Hottsock.
"Só que, especialmente para os
mais velhos, tal diferença entre
leste e oeste machuca. A origem de alguns jogadores de futebol então vira motivo de orgulho. Eles parecem vingar um
povo que se diz excluído."
Os salários pagos em cidades
que integraram a parte ocidental são 35% superiores à remuneração das cidades orientais,
discrepância que influencia o
esporte. "Os clubes não têm dinheiro para manter grandes estádios nem para trazer craques.
Assim, o futebol na antiga RDA
perdeu fôlego. Como então
atrair espaço em um Mundial?", indaga Gottschlich.
O único time da região classificado para disputar a divisão
de elite do Campeonato Alemão é o Energie Cottbus. A
própria Leipzig, segundo o Comitê Organizador da Copa, só
entrou na lista de cidades-sedes por sua importância histórica -lá foi fundada a federação alemã de futebol, em 1900.
Mesmo assim, somente 5 dos
64 jogos acabaram realizados
no Zentralstadion, cuja reforma custou 90 milhões (cerca
de R$ 250 milhões).
Nem sempre a diferença foi
tão exorbitante. Na Copa de
1974, a seleção da Alemanha
Oriental até derrotou a "outra"
Alemanha, que depois acabaria
campeã, por 1 a 0.
Foi esse cenário que Ballack,
nascido em 1976, e Schneider,
em 1973, viveram.
O primeiro cresceu em Görlitz, cidade de 59 mil habitantes que fica a cerca de 200 km
da capital Berlim. Ele viveu até
a juventude na parte comunista do país. Em 1997, fechou
com o Kaiserslautern.
Sua origem é evocada por
historiadores para explicar
quase todas as suas atitudes. Se
demonstra liderança em campo, dizem que a criação na parte oriental moldou seu caráter.
Se anuncia um contrato milionário com o inglês Chelsea,
voltam a dizer que a ganância é
fruto da infância no socialismo.
Associações parecidas ocorrem com Schneider, criado em
Jena (pouco mais de 100 mil
habitantes). "Não acredito nesta causa. O local onde nascemos não explica cada passo de
nossas vidas", diz Gottschlich.
O acadêmico crê, porém, que
a situação está mudando. "Ballack e Schneider são vingadores para os mais velhos, para a
geração que viveu sob a sombra
do Muro de Berlim. Para os
mais novos, são ídolos como os
outros. Em 2010, ninguém se
importará se um atleta nasceu
na Alemanha Oriental ou Ocidental."0
(GUILHERME ROSEGUINI)
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