São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2006

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"Cafu francês", Thuram diz adeus com um sorriso

Zagueiro afirma que não joga pela França após o Mundial, mas que também deseja "saborear" sua última participação

Aos 34 anos, atleta, que é recordista de jogos pelo time nacional, diz que idade o impede de continuar e anuncia aposentadoria

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Pelo bem de todos, tenho que parar. É a idade."
A frase é do zagueiro francês Thuram, ontem, confirmando sua aposentadoria da seleção após o Mundial da Alemanha.
Aos 34 anos, o jogador pronunciou a frase sorrindo e afirmou que vai "saborear" sua última Copa do Mundo -pode jogar mais uma ou duas partidas antes da despedida.
Independentemente do resultado da semifinal contra Portugal, amanhã, Thuram se despede nas graças dos franceses. É situação bem diversa de seu similar brasileiro, o capitão Cafu, que, aos 36 anos, deixa a seleção por baixo, execrado.
Ambos são recordistas de atuações por suas seleções -Thuram completa 120 jogos, e Cafu chegou aos 134.
Enquanto o brasileiro se apegava a seus recordes -e até fala em prosseguir na seleção depois do Mundial, algo pouco provável-, Thuram já havia deixado a França após a Eurocopa-2004. Só voltou por pressão de jornalistas, torcida e colegas. Isso porque "Tutu", como os franceses o chamam, tornou-se uma figura quase tão representativa para a seleção quanto Zidane. Ambos estrearam juntos na seleção nacional, em amistoso em 1994.
Desde então, suas carreiras correram paralelas, dentro e fora de campo. Campeões do mundo em 1998, ambos tornaram-se símbolos do time nacional multirracial -Zidane é descendente de argelinos, e Thuram, negro, nasceu em Guadalupe, antiga colônia francesa.
Ambos foram criados em subúrbios de grandes cidades francesas. No caso do zagueiro, foi em Paris, onde chegou aos nove anos com seus pais.
Por isso, tornaram-se vozes contra o racismo ou o preconceito. O zagueiro já bateu de frente com políticos direitistas, como Jean-Marie Le Pen e o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que deram declarações que marginalizavam pobres ou negros. A postura do atleta, admirador do presidente Lula, é oposta à de Cafu, que evita participação política, embora tenha projetos sociais.
O envelhecimento de Thuram não mudou sua postura apenas fora de campo, mas dentro dele também. Foi campeão em 1998 atuando na lateral direita, ao lado da zaga formada por Dessailly e Blanc.
Mais jovem, teve fôlego para ir à frente e marcar os dois gols franceses na semifinal, contra a Croácia. Mas sua principal vocação já era defensiva: tem poucos gols na carreira.
Mais velho, mudou de posição, e na Itália, conhecida por ter os zagueiros mais eficientes do mundo, foi eleito duas vezes o principal defensor da liga.
Ao contrário de Cafu e Roberto Carlos -ambos em má fase em seus clubes-, Thuram teve uma de suas melhores temporadas no clube italiano na temporada passada.
Seu desempenho na Copa é uma conseqüência. A zaga francesa é uma das menos vazadas, com apenas dois gols sofridos em cinco jogos. É o terceiro time que menos sofreu finalizações, com 9,4 em média.
Com a bola no pé, Thuram também é eficiente. Acertou 96% dos passes que deu no Mundial -em média, erra um passe por jogo. Tornou-se um zagueiro conhecido por não ir à frente, e quase não conclui a gol. "É uma surpresa o comportamento da equipe no torneio, a posição de jogar em bloco, como em 1998. Em 1998 também era muito difícil marcar gols na França", lembra Thuram.
Sua aposentadoria pode ser antecipada se receber um cartão amarelo, já que está pendurado. "Não se preocupe", diz, certo de que isso não ocorrerá.


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