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"Cafu francês", Thuram diz adeus com um sorriso
Zagueiro afirma que não joga pela França após o Mundial, mas que também deseja "saborear" sua última participação
Aos 34 anos, atleta, que é recordista de jogos pelo time nacional, diz que idade
o impede de continuar e anuncia aposentadoria
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pelo bem de todos, tenho
que parar. É a idade."
A frase é do zagueiro francês
Thuram, ontem, confirmando
sua aposentadoria da seleção
após o Mundial da Alemanha.
Aos 34 anos, o jogador pronunciou a frase sorrindo e afirmou que vai "saborear" sua última Copa do Mundo -pode jogar mais uma ou duas partidas
antes da despedida.
Independentemente do resultado da semifinal contra
Portugal, amanhã, Thuram se
despede nas graças dos franceses. É situação bem diversa de
seu similar brasileiro, o capitão
Cafu, que, aos 36 anos, deixa a
seleção por baixo, execrado.
Ambos são recordistas de
atuações por suas seleções
-Thuram completa 120 jogos,
e Cafu chegou aos 134.
Enquanto o brasileiro se apegava a seus recordes -e até fala
em prosseguir na seleção depois do Mundial, algo pouco
provável-, Thuram já havia
deixado a França após a Eurocopa-2004. Só voltou por pressão de jornalistas, torcida e colegas. Isso porque "Tutu", como os franceses o chamam, tornou-se uma figura quase tão representativa para a seleção
quanto Zidane. Ambos estrearam juntos na seleção nacional,
em amistoso em 1994.
Desde então, suas carreiras
correram paralelas, dentro e fora de campo. Campeões do
mundo em 1998, ambos tornaram-se símbolos do time nacional multirracial -Zidane é descendente de argelinos, e Thuram, negro, nasceu em Guadalupe, antiga colônia francesa.
Ambos foram criados em subúrbios de grandes cidades
francesas. No caso do zagueiro,
foi em Paris, onde chegou aos
nove anos com seus pais.
Por isso, tornaram-se vozes
contra o racismo ou o preconceito. O zagueiro já bateu de
frente com políticos direitistas,
como Jean-Marie Le Pen e o
ministro do Interior, Nicolas
Sarkozy, que deram declarações que marginalizavam pobres ou negros. A postura do
atleta, admirador do presidente Lula, é oposta à de Cafu, que
evita participação política, embora tenha projetos sociais.
O envelhecimento de Thuram não mudou sua postura
apenas fora de campo, mas
dentro dele também. Foi campeão em 1998 atuando na lateral direita, ao lado da zaga formada por Dessailly e Blanc.
Mais jovem, teve fôlego para
ir à frente e marcar os dois gols
franceses na semifinal, contra a
Croácia. Mas sua principal vocação já era defensiva: tem poucos gols na carreira.
Mais velho, mudou de posição, e na Itália, conhecida por
ter os zagueiros mais eficientes
do mundo, foi eleito duas vezes
o principal defensor da liga.
Ao contrário de Cafu e Roberto Carlos -ambos em má
fase em seus clubes-, Thuram
teve uma de suas melhores
temporadas no clube italiano
na temporada passada.
Seu desempenho na Copa é
uma conseqüência. A zaga francesa é uma das menos vazadas,
com apenas dois gols sofridos
em cinco jogos. É o terceiro time que menos sofreu finalizações, com 9,4 em média.
Com a bola no pé, Thuram
também é eficiente. Acertou
96% dos passes que deu no
Mundial -em média, erra um
passe por jogo. Tornou-se um
zagueiro conhecido por não ir à
frente, e quase não conclui a
gol. "É uma surpresa o comportamento da equipe no torneio, a
posição de jogar em bloco, como em 1998. Em 1998 também
era muito difícil marcar gols na
França", lembra Thuram.
Sua aposentadoria pode ser
antecipada se receber um cartão amarelo, já que está pendurado. "Não se preocupe", diz,
certo de que isso não ocorrerá.
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