São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Lazio e Roma acusam manipulação contábil, têm ações desvalorizadas e podem deixar de ser sociedades anônimas

Times italianos já admitem sair da Bolsa

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só nos Estados Unidos que as práticas contábeis e financeiras de empresas com ações em Bolsa têm provocado polêmica. Na Europa a situação não é muito diferente. Mas com uma distinção: a confusão, pelo menos na Itália, está ligada ao futebol.
E não faltam clubes estudando a possibilidade de deixarem de ser sociedades anônimas. É o caso de dois dos principais times italianos, Lazio e Roma, os representantes da capital do país, que chegaram a ter suas inscrições na Série A recusadas.
A alegação era de que as duas agremiações estariam atravessando problemas econômicos graves e não se enquadrariam nas exigências da Liga Italiana.
De acordo com avaliação preliminar da auditoria contratada pela liga, os dois clubes teriam o passivo maior do que o ativo. Com dívidas que não poderiam ser saldadas, não teriam como competir. Resultado: num primeiro momento não puderam se inscrever.
Quando a recusa à inscrição da dupla foi anunciada, as ações dos dois clubes desabaram. As da Lazio chegaram a cair 48,5%. As da Roma, 39,9%.
Sérgio Cragnotti, presidente da Lazio, responsabilizou a avaliação da Liga Italiana e o veto inicial à inscrição da equipe pelo caos ocorrido com o clube na Bolsa e falou em perseguição.
Na Roma, a situação foi parecida. Franco Sensi, que administra o clube, uniu-se a Cragnotti e deu a entender que haveria um complô para favorecer o Milan, justamente o time do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
""Foi muito estranho terem recusado nossas inscrições e depois voltarem atrás porque cometeram erros contábeis na avaliação", afirmou, por intermédio da assessoria de imprensa da Roma.
""Assim que ficou definido que o Rivaldo iria para o Milan e não para a Lazio, mudaram de idéia. Acho que queriam prejudicar a Lazio e decidiram nos colocar no mesmo saco para disfarçar."
Sensi tem insinuado que a Liga Italiana, presidida por Adriano Galliani, tem agido para favorecer o Milan. Galliani, que é dirigente do time milanês, teria vetado a inscrição da Lazio para desvalorizar as ações do clube.
Com isso, ficaria mais forte na parada para contratar Rivaldo, que se desvinculou do Barcelona.
Desde o ano retrasado, a Lazio tinha interesse no meia-atacante brasileiro. Mesmo assim, ele acabou se transferindo para o Milan.
A Comissão de Vigilância das Sociedades de Futebol apresentou, na verdade, três avaliações diferentes. Num primeiro momento, soltou um relatório, em seguida recolhido, que apontava que o passivo dos dois clubes seria maior do que o ativo. Ambos estariam, portanto, à beira da falência. Num segundo, que as dívidas da dupla representariam mais de 40% do que os ativos, quando, por exigência da liga, não poderiam passar de um terço. Num terceiro, que as dívidas seriam, na verdade, inferiores a um terço.
Por isso a inscrição da dupla foi aceita, mas, conforme perguntou Sensi, ""quem vai ressarcir os prejuízos com a queda no valor das ações na Bolsa?"
Galliani, também por intermédio de sua assessoria de imprensa, diz que não há interesse da liga em favorecer ninguém. ""Tanto que Lazio e Roma ganharam os dois últimos campeonatos italianos. Além delas, outras seis equipes, só que na Série B, tiveram problemas", lembrou.
Uma delas, a Fiorentina, não conseguiu apresentar aval bancário e, com dívidas de US$ 21,6 milhões, sofreu intervenção federal e ficará fora do Italiano.
No ano passado, Lazio e Roma, que têm pedido a saída de Galliani da presidência da liga, também tiveram problemas com suas ações na Bolsa. As do primeiro desvalorizaram 47,1%. As do segundo, 51,6%. Com os prejuízos na última temporada -em conjunto, os times da Série A perderam mais de US$ 600 milhões-, estão reduzindo salários e até novembro decidem se continuam ou não com ações em Bolsa. Pelo andar da carruagem, devem cair fora.



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