São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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Caminho das pedras

Antônio Carlos Maciel, 17, treina lançamen to de dardo há menos de seis meses, após ter sido descoberto jogando pedra em carro na estrada

DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO

Antônio Carlos Maciel atirava pedras nos carros que passavam na rodovia Ayrton Senna. Até o dia em que acertou o carro da funcionária da escola em que estudava em Mogi das Cruzes e foi incentivado a trocar a perigosa brincadeira por esporte.
Deu certo. O garoto de 17 anos, primogênito da dona de casa Simone Soares, 35, mãe de mais cinco filhos -a última nasceu há uma semana- com três pais, transformou-se em atleta do lançamento de dardo e tem marcas que impressionam pelo pouco tempo de treinamento.
Ele está de segunda-feira a sexta-feira no Ibirapuera sob a orientação de Fátima Germano, da ASA (Associação Sertanezina de Atletismo).
Rotina iniciada em fevereiro. Mas que lhe rendeu a marca de 60,25 m com o dardo de 700 g, utilizado na categoria menor (até 17 anos) e 100 g a menos do que o adulto. É o segundo do país nesta idade.
A força já tinha sido percebida em 2003, no dia em que acertou um Corsa na Ayrton Senna sem saber que era de alguém que o conhecia. Em vez de castigo, teve que ouvir um longo sermão das professoras sobre os perigos de atirar pedras nos carros.
Foi a professora Luciene Rocha, que trabalhava com crianças carentes da região no Projeto Fênix, em Mogi das Cruzes, quem indicou Antônio Carlos ao atletismo.
O teste de aptidão foi do jeito que ele gosta: arremessando bolas de tênis em um campo de futebol e correndo. Era basicamente o que ele fazia à margem da rodovia, jogar pedras nos veículos e fugir em disparada para não ser pego pela polícia. Era sua diversão dos 10 aos 13 anos.
"Não sabia que era perigoso. Quando comecei a praticar esporte na escola, entendi que não era legal jogar pedras e eu também nem tinha energias para fazer isso depois dos treinos", contou.
Por três anos, Antônio Carlos permaneceu com a professora Luciene participando de festivais de atletismo.
Competir era uma brincadeira. Ele nem sequer tinha cadastro na FPA (Federação Paulista de Atletismo). Lançava dardos a módicos 43 m, participava de provas de 75 m, e ajudava Lucilene nos treinamentos com os alunos do projeto social Fênix.
Esporte passou na ser coisa séria quando ele passou no teste do Centro de Excelência da FPA em novembro e começou a treinar com Fátima três meses mais tarde.
Mudou de endereço. Deixou o barraco da mãe, à margem da Ayrton Senna, e foi para o alojamento no Complexo Constâncio Vaz Guimarães, na zona sul de São Paulo. Passou a ganhar R$ 150 de ajuda de custo da equipe a que se filiou, a ASA.
Após três semanas de treinos, participou da primeira competição -um torneio de lançamentos da FPA. Alcançou 50 m com facilidade.
Competiu em mais seis campeonatos. Um deles em Uberlândia, no Sul-Americano de atletismo, que dava uma vaga ao campeão nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, neste mês.
Não deu para fazer frente ao argentino Braian Toledo, 17, que há cinco disputa provas no dardo. Recordista mundial da faixa etária, colocou 30 m de diferença ao lançamento de Antônio Carlos, que terminou em terceiro.


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