|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Caminho das pedras
Antônio Carlos Maciel, 17, treina lançamen to de dardo há menos de seis meses, após ter sido descoberto jogando pedra em carro na estrada
DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO
Antônio Carlos Maciel atirava pedras nos carros que
passavam na rodovia Ayrton
Senna. Até o dia em que acertou o carro da funcionária da
escola em que estudava em
Mogi das Cruzes e foi incentivado a trocar a perigosa brincadeira por esporte.
Deu certo. O garoto de 17
anos, primogênito da dona
de casa Simone Soares, 35,
mãe de mais cinco filhos -a
última nasceu há uma semana- com três pais, transformou-se em atleta do lançamento de dardo e tem marcas
que impressionam pelo pouco tempo de treinamento.
Ele está de segunda-feira a
sexta-feira no Ibirapuera sob
a orientação de Fátima Germano, da ASA (Associação
Sertanezina de Atletismo).
Rotina iniciada em fevereiro. Mas que lhe rendeu a marca de 60,25 m com o dardo de
700 g, utilizado na categoria
menor (até 17 anos) e 100 g a
menos do que o adulto. É o
segundo do país nesta idade.
A força já tinha sido percebida em 2003, no dia em que
acertou um Corsa na Ayrton
Senna sem saber que era de
alguém que o conhecia. Em
vez de castigo, teve que ouvir
um longo sermão das professoras sobre os perigos de atirar pedras nos carros.
Foi a professora Luciene
Rocha, que trabalhava com
crianças carentes da região
no Projeto Fênix, em Mogi
das Cruzes, quem indicou
Antônio Carlos ao atletismo.
O teste de aptidão foi do
jeito que ele gosta: arremessando bolas de tênis em um
campo de futebol e correndo.
Era basicamente o que ele fazia à margem da rodovia, jogar pedras nos veículos e fugir em disparada para não ser
pego pela polícia. Era sua diversão dos 10 aos 13 anos.
"Não sabia que era perigoso. Quando comecei a praticar esporte na escola, entendi que não era legal jogar pedras e eu também nem tinha
energias para fazer isso depois dos treinos", contou.
Por três anos, Antônio Carlos permaneceu com a professora Luciene participando
de festivais de atletismo.
Competir era uma brincadeira. Ele nem sequer tinha
cadastro na FPA (Federação
Paulista de Atletismo). Lançava dardos a módicos 43 m,
participava de provas de 75
m, e ajudava Lucilene nos
treinamentos com os alunos
do projeto social Fênix.
Esporte passou na ser coisa séria quando ele passou
no teste do Centro de Excelência da FPA em novembro
e começou a treinar com Fátima três meses mais tarde.
Mudou de endereço. Deixou o barraco da mãe, à margem da Ayrton Senna, e foi
para o alojamento no Complexo Constâncio Vaz Guimarães, na zona sul de São
Paulo. Passou a ganhar R$
150 de ajuda de custo da
equipe a que se filiou, a ASA.
Após três semanas de treinos, participou da primeira
competição -um torneio de
lançamentos da FPA. Alcançou 50 m com facilidade.
Competiu em mais seis
campeonatos. Um deles em
Uberlândia, no Sul-Americano de atletismo, que dava
uma vaga ao campeão nos
Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, neste mês.
Não deu para fazer frente
ao argentino Braian Toledo,
17, que há cinco disputa provas no dardo. Recordista
mundial da faixa etária, colocou 30 m de diferença ao lançamento de Antônio Carlos,
que terminou em terceiro.
Texto Anterior: Atletismo: Gatlin triunfa em seu retorno após suspensão Próximo Texto: Depoimento: "Tenho um diamante bruto para lapidar até a Olimpíada" Índice
|