São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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RAINHA DOS BICOS

Antes de vaga no Mundial, recordista dos 10.000 m fez limpeza, cuidou de crianças e foi manicure

FERNANDO ITOKAZU
DE SÃO PAULO

Babá, faxineira, manicure e animadora de festas infantis. Nos finais de semana, tentava conseguir um dinheiro extra com as corridas de rua.
Simone Alves da Silva passou por tudo isso, mas hoje tem vaga garantida no Mundial de atletismo de Daegu, que começa no final do mês.
A baiana de Morro do Chapéu viaja para a Coreia do Sul com o status de recordista sul-americana dos 10.000 m.
A marca, que perdurava havia quase 18 anos, foi conquistada ontem na primeira participação da fundista no Troféu Brasil, principal torneio da modalidade no país.
Com direito a acenos à torcida no final da prova, Simone completou o percurso em 31min16s56, tempo muito menor do 31min47s76 obtido por Carmen de Oliveira Furtado, em 21 de agosto de 1993, em Stuttgart (Alemanha).
A atleta conta que até o mau tempo (parte da prova foi disputada sob garoa) ontem em São Paulo a ajudou a conseguir um bom resultado.
"Faltando uns dois quilômetros começou a ventar, e comecei a ficar com frio, daí pensei: 'Vou correr forte para terminar logo'", disse ela, que começou a correr aos 12 anos, descalça, na Bahia.
A corredora conta que sua trajetória começou a mudar quando foi convidada para integrar a equipe da BM&F, há cerca de dois anos.
Até então, era uma "atleta de aluguel" e disputava provas de pistas em Jogos Abertos e Regionais, nos quais prefeituras contratam atletas apenas para esses eventos.
Sem clube, ela centrava esforços nas provas de rua, que têm premiação em dinheiro. Mas, além de precisar disputar o maior número possível de corridas, ela precisava dos bicos para ajudar em casa.
Simone, 26, morou por quatro anos de favor na casa da sogra, com o marido, que também é corredor, e mais quatro irmãos dele. "Tive que fazer muitas coisas."
Atualmente, pode se dar ao luxo de dividir o lar apenas com o marido, Carlos Moreira dos Santos, que a ajudou nos últimos treinos.
"Sei como a vida de atleta é dura. E, nos últimos dois, três meses, servi como 'coelho' para ela, além de tentar ajudar nas massagens e alongamentos", afirmou Santos.
Adauto Domingues, técnico de Simone, diz que não é raro as provas de rua ("Que viraram febre atualmente") revelarem bons fundistas.
"Mas a Simone conseguiu melhorar muito", afirmou o técnico, que espera que a pupila "aproveite e melhore a marca no Mundial".
"É uma prova muito estratégica. E não somente nós, mas o mundo está muito distante das atletas africanas", afirmou Domingues.
No Mundial de Berlim, em 2009, a terceira colocada fez 30min51s. Com o resultado obtido ontem, Simone terminaria na oitava colocação.


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