São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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Equipe sobe mesmo sem salários

ESTADUAL DO RIO
Carapebus reúne ex-viciados e garante acesso apesar de não ter estrutura


ADRIANO WILKSON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O goleiro Tiago Nogueira, 22, largou a mulher grávida em Campos dos Goytacazes (RJ) e um emprego de um salário mínimo na indústria da cerâmica para tentar ser jogador de futebol profissional.
Demitido do time de sua cidade natal, ele precisava de motivação para não retornar ao vício em cocaína, do qual tentava se livrar havia meses.
Foi acolhido pelo Carapebus, um time da cidade homônima do norte fluminense que não paga um centavo aos atletas que o defendem.
"Minha mulher disse: 'seu irresponsável!'. Eu vim, e ela me largou", afirmou Tiago.
Sem ter onde morar, foi parar numa pequena quitinete, quarto e banheiro compartilhados com outros 11 jogadores do elenco. O lugar pertencia ao técnico da equipe, que também dava almoço e jantar aos atletas. E só.
No domingo passado, longe de todos os holofotes, o Carapebus conseguiu o maior feito de toda a sua história de cinco anos: conquistou o acesso à Série B do Estadual.
Empatou em 2 a 2 com o América de Três Rios e, como vencera o jogo de ida por 4 a 1, está na segunda divisão.
"Receber salário não importa", disse Tiago, que virou reserva e não fez nenhum jogo pelo Carapebus. Ele vive do que guardou na época em que tinha carteira assinada.
"Eu tinha esse sonho de ser jogador. O professor me deu um contrato e, na hora, disse que não pagaria nada." Tiago aceitou porque era o único jeito de ser um jogador.
O "professor" é Luciano Lamóglia, ex-jogador da Ferroviária de Araraquara. Ele é o técnico, mecenas e faz-tudo do Carapebus. Vendeu dois terrenos para comprar uniformes e pagar as despesas da Série C. Tirou uma inquilina de sua quitinete e estendeu colchões no piso para acomodar os jogadores.
Ao falar à Folha, pelo telefone emprestado de uma loja vizinha ao lugar que aloja a equipe, Lamóglia chorou.
Não pelo resultado do time em campo, mas fora dele.
Evangélico, ele diz que o Carapebus é uma "missão de Deus" em sua vida. Quer que o futebol seja uma alternativa para transgressores. Além de Tiago, o time tem o meia Washington, 22, vice-artilheiro do torneio, que já se envolveu com venda de drogas.
Tem também Marcelinho, 28, que se juntou ao time para parar de "beber de segunda a sexta". E também Johnny, 21, que era do União Marechal, foi goleado pelo Carapebus, chorou ao saber da história do time e se juntou aos outros na quitinete.


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