São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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Brasil provoca a ira no país do Mundial

Na Itália, seleção de vôlei é atacada por adversários, torcida e mídia por ter "entregado" jogo para Bulgária

MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A ROMA

A terceira fase do Mundial masculino de vôlei se inicia hoje ainda sob a sombra da controversa derrota do Brasil para a Bulgária anteontem.
Anfitriões do torneio, os italianos bombardearam a seleção brasileira, atual campeã mundial, de críticas pelo fato de o técnico Bernardinho ter escalado o oposto Théo como levantador.
Para eles, isso foi um indício claro de que o Brasil desejava entregar a partida. Já os búlgaros, que também foram à quadra com reservas, saíram incólumes das críticas.
Ontem, os jornais locais estamparam manchetes utilizando termos como "escândalo" e "farsa" para descrever a "marmelada". Em sua coluna no diário "Gazzetta dello Sport", o maior ídolo do vôlei italiano, Andrea Zorzi, declarou ter ficado com o "estômago embrulhado" com a atuação do Brasil.
"Sei que a culpa é da fórmula de disputa, mas Bernardinho e seus fantásticos jogadores tiveram a chance de dar uma lição a todos, vencer Cuba, Rússia e todos que passassem pela frente. Falo só do Brasil porque é o campeão mundial, vice- -olímpico, um modelo a ser seguido", disse o ex-jogador.
Antes do Brasil, Rússia e EUA também protagonizaram derrotas consideradas duvidosas neste Mundial.
Mas Bernardinho, que viu a torcida dar as costas para a quadra em forma de protesto e gritar "buffoni" (palhaçada), manteve a versão de que o Brasil não perdeu de propósito. "Nunca disse aos jogadores para entrar para perder ou errar. Eu desafio a todos que dizem o contrário."
Diante do questionamento dos jornalistas italianos, ele reiterou que não colocara Bruno em quadra contra os búlgaros pois desejava poupá-lo para a terceira fase. Anteontem pela manhã, o levantador acordara gripado.
"Estou me sentindo mal, mas o que eu posso fazer? Eu não podia sacrificar o Bruno, que estava com febre, e o Murilo, com dor na panturrilha", explicou Bernardinho.
A justificativa não convenceu os italianos. O técnico da Azzurra do vôlei também se manifestou contra o Brasil.
"Do ponto de vista ético e esportivo, é uma coisa muito negativa", declarou Andrea Anastasi, que ainda acusou o Brasil de ter entregado um jogo na Olimpíada de 2004.
"Não é a primeira vez que se comportam assim. Em Atenas, no templo de excelência do esporte que é a Olimpíada, eles descaradamente perderam um jogo", complementou Anastasi, referindo-se ao revés do Brasil para os EUA na primeira fase dos Jogos Olímpicos.
Na ocasião, a seleção já estava classificada, e o treinador poupou titulares. Isso, no entanto, não alterou a posição no grupo nem o adversário das quartas de final.
Com todo o bombardeio de críticas na Itália, resta saber se hoje, às 16h, diante da República Tcheca, o Brasil terá que seguir na sua luta pelo tricampeonato mundial jogando também contra uma torcida raivosa em Roma.


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