São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011

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LÚCIO RIBEIRO

Distorcida organizada


Nos EUA, torcida uniformizada não solta palavrão, nunca briga e amaldiçoa o pai do juiz "ladrão"

Arremesso de torcedor à morte no Peru. Emboscada com tacos de beisebol na Rússia. Batalha campal em Madri com até policiais entre os feridos. Uniformizadas do Corinthians proibindo mulheres de ir ao Rio ver o time, porque em jogo contra o Vasco o "bicho pega".
A velha história de brigas de torcida nos últimos dias me lembrou de que, recentemente, fui ver uma partida de futebol no meio de uma organizada. E não me senti nem de longe ameaçado.
Ok, foi nos EUA. Mas ainda assim...
Sempre que viajo, tento me meter em algum jogo local. E calhou de eu estar em Seattle quando o time de lá, os Sounders, recebeu o Herediano, da Costa Rica, pela Champions League da Concacaf, a Libertadores da América das outras Américas.
E, aceitando a gentileza de um amigo que comprou os ingressos "sobrando" de um "fanático" pelos Sounders, fui parar atrás de um dos gols no estádio, enfiado na ECS, a Emerald City Supporters, a torcida organizada do time de Seattle.
Logo que sentei no lugar marcado, fui identificado como forasteiro e recebi a visita de uma simpática garota da torcida. "Deixa eu explicar. Aqui não se senta. O jogo todo é de pé. Saiba que ocupando este espaço sua visão estará limitada por bandeiras ou braços levantados. Você vai precisar cantar. Toma um folhetinho com as letras das músicas."
Três torcedores da organizada dos Sounders, um deles com microfone (o fortão careca que lembra um hooligan inglês), pouco assistem ao jogo. De costas o tempo inteiro e de olho na galera, comandam as cantorias. Sem nenhum palavrão.
Conferi nas letras das músicas que recebi, prestei atenção na canção cantada. Não consta nem um mísero "fuck". No máximo, um "bastard".
Nem na hora de xingar o juiz "ladrão". E, diferentemente do que ocorre no Brasil, não é a mãe do árbitro a figura lembrada na hora de um "erro". É o pai. Ou a mãe, de um modo mais "interpretativo", quando a torcida na hora da bronca pergunta ao juiz quem é o pai dele.
Ouvi de membros da ECS que, tal como no Brasil, eles viajam atrás do time, seja nos EUA todo, seja por América Central ou Canadá. Mas não há um registro de briga envolvendo a torcida, desde sua fundação, em 2005. Quer ver a ECS fora do sério? É quando um jogador do time adversário finge contusão e fica rolando no gramado. Assim que os médicos entram para socorrer o contundido, começam os gritos: "Let him die, let him die" (Deixe-o morrer, deixe-o morrer).
Os torcedores dos Sounders vão perder a voz quando o time deles jogar contra um do Brasil.


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