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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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BASQUETE

A esfinge

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O sucesso do Ribeirão Preto no Estadual é um genuíno mistério do esporte. Os atletas cochicham no vestiário, os torcedores se agoniam no ginásio, os cartolas não se conformam. Nem a mais conspiratória das teorias explica a fabulosa invencibilidade de 52 rodadas. E as análises de dados não fogem da superfície.
Está no site da Federação Paulista, por exemplo, que a equipe possui o melhor ataque da competição, 90,1 pontos por partida.
Mas nem sempre essa façanha redunda em vitórias. E, a rigor, a produção ofensiva do time não impressiona. A pontuação caiu quase 10% em relação a 2002. O potencial do ataque pára em 176 pontos, muito aquém dos 200 desejados pela comissão técnica.
Se se destaca nas assistências, com a maior média (18,8), sinal inequívoco de solidariedade, Ribeirão Preto também erra muitos passes. Perde quase 17 bolas por confronto. E é a relação assistência/"turnover" que costuma definir o entrosamento no basquete.
O garrafão da equipe é o que mais participa e intimida entre os 13 participantes, seja em volume de jogo ou nas estatísticas -lidera em rebotes (35,1) e tocos (6,3).
No entanto, os pivôs perderam "punch" na tábua ofensiva. Capturam exatos dois rebotes/partida a menos do que no ano passado.
No Paulista-2002, o time chutava em média 24,2 lances livres -e acertava 17,5 (72,3%). Neste ano, arremessa 32,8 -e converte 24,6 (74,6%). Busca mais a infiltração, a cesta mais próxima.
Tal avanço, contudo, se deu à custa da bandeja, da enterrada desgarrada. A ida do "cavalo" Alex para a NBA diminuiu o caminho do contra-ataque, conclusão que ganha peso quando se repara na abrupta queda (quase 23%!) dos tiros de dois pontos.
Ora bolas, o que então explica esta campanha extraordinária, o fato de um grupo especial-pero-no-mucho não sofrer derrotas no principal Estadual do país?
Que perde um de seus dois principais atletas, que troca um dos pivôs titulares, que muda o armador reserva, que reestrutura todo o banco de suplentes e, mesmo assim, não tomba nenhuma vez?
Em busca da verdade, pedi uma luz a Cadum. Afinal, ele vivenciou duas vezes esta experiência.
Nos anos 80, como armador do saudoso Monte Líbano, tetracampeão nacional ao lado de estrelas como Marcel, Maury, Villas-Boas, Gérson, Pipoka e Israel.
E, agora, como técnico-assistente em Ribeirão Preto, aonde levou a inquietude de ex-jogador e o conselho da tia-treinadora Maria Helena Cardoso ("seja paciente").
"Não temos um time absoluto. Mas lhe sobra espírito vencedor. Está acostumado a decidir, a se manter vivo no jogo e a meter a bola no fim. Concentra-se só na partida seguinte, mas nunca abre mão da perspectiva do título."
Cadum deve ter percebido a aflição ao telefone cada vez que eu perguntava "não tem nada a mais?" e ele retrucava "acho que não", que eu insistia "é só psicologia?" e ele dizia "acho que sim".
Ainda quero outras respostas. Mas deve-se reconhecer o talento motivacional de Lula Ferreira. Também na seleção todos brilharam e apagaram em sintonia.

Ribeirão Preto 1
O returno do Estadual começa amanhã. O líder vai a Assis.

Ribeirão Preto 2
Geralmente bastante faltosa, a equipe ocupa a antepenúltima posição no ranking do Paulista (19 por jogo, contra 23,7 em 2002). Os alas Renato, o destaque do time, e Arthur são os que mais batem (2,5).

Ribeirão Preto 3
O "ribeirão-pretano" Alex desembarca nesta semana no Brasil para resolver problemas de visto. O ala, convertido em armador na NBA, teve tremendo azar. Não tivesse fraturado o pé direito há duas semanas, hoje provavelmente seria titular do campeão San Antonio (Tony Parker e o reserva imediato, Anthony Carter, se contundiram).

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