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FUTEBOL
Redes balançam seis vezes em 34 minutos, e São Paulo derrota o São Caetano uma semana após a morte de Serginho
Festival de gols encerra jogo da tragédia
EDUARDO ARRUDA
FÁBIO VICTOR
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A tristeza foi atropelada pelos
gols. O momento mais alegre do
futebol se repetiu seis vezes ontem à noite no Morumbi, na continuação da partida interrompida
há oito dias, quando o zagueiro
Serginho, do São Caetano, morreu após uma parada cardiorrespiratória no gramado.
Abatidos e em muitos lances
atordoados, os colegas de Serginho foram derrotados pelo São
Paulo por 4 a 2, em apenas 34 minutos -na quarta passada, a paralisação se deu aos 14min do segundo tempo, momento em que
ele tombou na sua área.
As cenas de desespero vistas naquela noite foram substituídas
ontem por outras de serenidade e
reverência. Os jogadores do São
Caetano entraram em campo 15
minutos antes do início do confronto, marcado para as 20h30.
Carregavam uma faixa com a inscrição: "O mundo e tudo o que ele
oferece passa, mas aquele que faz
a vontade de Deus fica para sempre. Obrigado, Serginho".
Antes de a bola rolar, foi feita a
substituição simbólica de Serginho, que morreu aos 30 anos, pelo
garoto Jonas, 17. O juiz reserva levantou uma placa com o número
5, o da camisa que o zagueiro vestia, para em seqüência exibir outra com o número 13.
O árbitro Cléber Wellington
Abade fez cumprir um minuto de
silêncio. Alguns atletas fizeram
orações. Quando a bola rolou, os
torcedores, a maioria são-paulinos, gritaram o nome de Serginho. O placar eletrônico estampou uma imagem do zagueiro, ao
lado da mensagem: "Valeu, Serginho. O seu show continua".
Determinada pela CBF em
cumprimento ao regulamento do
Brasileiro -e alvo de resistência
dos dois clubes-, a continuação
da trágica jornada não teve espaço para lembranças mórbidas.
A equipe do hospital São Luiz,
que atendeu Serginho na semana
passada, foi orientada a não dar
entrevistas. Os quatro enfermeiros que trabalharam naquela noite, três mulheres e um homem,
eram os únicos a repetir a jornada
ontem. Os dois médicos foram
trocados, assim como os dois profissionais que dirigem a ambulância -segundo o hospital, há um
esquema natural de rodízio.
O São Luiz mandou ontem ao
Morumbi duas assessoras de imprensa, além do coordenador do
serviço de emergência e resgate
do hospital, Dino Altmann, o único autorizado a falar.
Havia, como há uma semana,
duas ambulâncias -uma próxima ao gramado, outra no saguão
interno- e, exatamente como
ocorreu na ocasião, ambas estavam fechadas. Orientação da Federação Paulista de Futebol.
O posto médico atendeu a uma
única ocorrência, um policial militar que se sentiu mal, foi medicado e repousou por alguns minutos em um dos consultórios.
No campo, uma frenética movimentação das duas equipes parecia sugerir que ali ninguém queria
estacionar por causa da tragédia,
como se parar significasse lembrar de tudo. Logo aos 17min
-portanto aos 3min da continuação do jogo- o São Paulo
abriu o placar, com Danilo. E o
ritmo foi mantido até os 34min,
quando saiu o último tento. Seis
gols em 17 minutos.
Segundo o Datafolha, nenhuma
partida do Brasileiro teve tantos
gols em tão pouco tempo. A rede
balançou a cada 2,8 minutos. Só
29 jogos, dos 467 do Nacional, haviam registrado seis ou mais gols.
Foi a primeira vitória do São
Paulo sobre o São Caetano no
Morumbi. O resultado levou o time ao terceiro lugar do Brasileiro.
O São Caetano está em quinto.
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