São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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FUTEBOL

Redes balançam seis vezes em 34 minutos, e São Paulo derrota o São Caetano uma semana após a morte de Serginho

Festival de gols encerra jogo da tragédia

EDUARDO ARRUDA
FÁBIO VICTOR
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A tristeza foi atropelada pelos gols. O momento mais alegre do futebol se repetiu seis vezes ontem à noite no Morumbi, na continuação da partida interrompida há oito dias, quando o zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu após uma parada cardiorrespiratória no gramado.
Abatidos e em muitos lances atordoados, os colegas de Serginho foram derrotados pelo São Paulo por 4 a 2, em apenas 34 minutos -na quarta passada, a paralisação se deu aos 14min do segundo tempo, momento em que ele tombou na sua área.
As cenas de desespero vistas naquela noite foram substituídas ontem por outras de serenidade e reverência. Os jogadores do São Caetano entraram em campo 15 minutos antes do início do confronto, marcado para as 20h30. Carregavam uma faixa com a inscrição: "O mundo e tudo o que ele oferece passa, mas aquele que faz a vontade de Deus fica para sempre. Obrigado, Serginho".
Antes de a bola rolar, foi feita a substituição simbólica de Serginho, que morreu aos 30 anos, pelo garoto Jonas, 17. O juiz reserva levantou uma placa com o número 5, o da camisa que o zagueiro vestia, para em seqüência exibir outra com o número 13.
O árbitro Cléber Wellington Abade fez cumprir um minuto de silêncio. Alguns atletas fizeram orações. Quando a bola rolou, os torcedores, a maioria são-paulinos, gritaram o nome de Serginho. O placar eletrônico estampou uma imagem do zagueiro, ao lado da mensagem: "Valeu, Serginho. O seu show continua".
Determinada pela CBF em cumprimento ao regulamento do Brasileiro -e alvo de resistência dos dois clubes-, a continuação da trágica jornada não teve espaço para lembranças mórbidas.
A equipe do hospital São Luiz, que atendeu Serginho na semana passada, foi orientada a não dar entrevistas. Os quatro enfermeiros que trabalharam naquela noite, três mulheres e um homem, eram os únicos a repetir a jornada ontem. Os dois médicos foram trocados, assim como os dois profissionais que dirigem a ambulância -segundo o hospital, há um esquema natural de rodízio.
O São Luiz mandou ontem ao Morumbi duas assessoras de imprensa, além do coordenador do serviço de emergência e resgate do hospital, Dino Altmann, o único autorizado a falar.
Havia, como há uma semana, duas ambulâncias -uma próxima ao gramado, outra no saguão interno- e, exatamente como ocorreu na ocasião, ambas estavam fechadas. Orientação da Federação Paulista de Futebol.
O posto médico atendeu a uma única ocorrência, um policial militar que se sentiu mal, foi medicado e repousou por alguns minutos em um dos consultórios.
No campo, uma frenética movimentação das duas equipes parecia sugerir que ali ninguém queria estacionar por causa da tragédia, como se parar significasse lembrar de tudo. Logo aos 17min -portanto aos 3min da continuação do jogo- o São Paulo abriu o placar, com Danilo. E o ritmo foi mantido até os 34min, quando saiu o último tento. Seis gols em 17 minutos.
Segundo o Datafolha, nenhuma partida do Brasileiro teve tantos gols em tão pouco tempo. A rede balançou a cada 2,8 minutos. Só 29 jogos, dos 467 do Nacional, haviam registrado seis ou mais gols.
Foi a primeira vitória do São Paulo sobre o São Caetano no Morumbi. O resultado levou o time ao terceiro lugar do Brasileiro. O São Caetano está em quinto.


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