São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Mulheres de atletas prestam apoio à viúva

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na pequena torcida do São Caetano, no setor inferior amarelo do Morumbi, quatro mulheres carregavam uma faixa. "É na fraqueza do ser humano que a força de Jesus Cristo se manifesta", era a mensagem endereçada a Helaine, viúva do zagueiro Serginho.
Atrás dela estavam as mulheres do goleiro Silvio Luiz, do zagueiro Dininho, do meia Lúcio Flávio e do lateral Ceará, esta última com a filha Dâmares, de oito meses. Amigas da família, elas prestavam solidariedade também aos seus maridos.
"Sabemos que eles estão abalados", disse Márcia, mulher de Dininho. "Meu marido chora, fala dele toda hora e diz que o campeonato perdeu a graça."
Não há, porém, revolta. "Somos de famílias evangélicas e sabemos que uma folha só cai se for vontade de Deus", disse Fernanda, mulher de Ceará.
Perto dali, o metalúrgico Márcio Santos, 29, exibia uma camisa que estampava uma foto dele com Serginho. "Era como um amigo. Quando eu visitava os treinos, ele sempre me convidava para ir aos cultos."
Na torcida rival também houve solidariedade. Ao fim do jogo, a são-paulina Maria Lúcia Queiroz, 43, acompanhada dos filhos Jennifer Wivian e João Wilker, acendeu uma vela e rezou um pai-nosso. "Sou católica e tenho arritmia cardíaca, como ele [tinha]. Vim desejar luz ao Serginho", disse ela, que ouviu alguns torcedores a chamarem de "macumbeira".
Houve ainda descrença. O aposentado Joaquim Cardoso, 50, torcedor do São Caetano, acha que o time não supera o incidente. "Se eu, que estou de fora, não estou nem ligando para o jogo, imagine os jogadores, que treinavam com ele."
Como o jogo era de graça, sonhos se realizaram. Danilo, 10, pôde ir ao Morumbi pela primeira vez, ao lado da mãe, Marize, que está desempregada. "Sei que vai ser rápido, mas espero que o São Paulo ganhe."
A Polícia Militar estima que 22 mil pessoas foram ao estádio -na semana passada, 14.551 pagaram para ver o jogo. Para a PM, faltou instruir a torcida para a situação de portões abertos: os que entravam e saíam eram revistados de novo.


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